Fiquei alguns segundos com a mão parada na maçaneta. Ele continuava ali, sentado no chão como se aquele espaço fosse dele. Como se a minha porta fosse um ponto de espera, não uma barreira. Não me olhava de imediato. Estava de cabeça baixa, os braços apoiados nos joelhos, o corpo mole de quem tinha atravessado a madrugada ali, indiferente ao desconforto. Não sabia se ele tinha chegado logo depois que eu apaguei ou se ficou do lado de fora a noite inteira. Não sabia se esperava que eu abrisse a porta ou só queria que eu soubesse que ele estava ali, como uma sombra permanente. Mas, de algum jeito, aquilo pesava mais do que se ele tivesse batido, ligado ou pedido qualquer coisa. Abri a porta devagar. O barulho da corrente escorregando pareceu um trovão naquele silêncio. Ele levantou a cabe

