Escuto batidas insistentes desperto, levanto do chão frio, atordoado sem saber direito onde me encontro, até ter ciência de que estou na fazenda.
Não era um pesadelo que pensei ter provado durante o sono, a ficha cai ,então percebo que é tudo real.
Levanto sentindo meus os olhos pesados e corpo dolorido.
_ Já estou indo!- falo de forma audível.
Assim que abro a porta ,fico de frente para uma senhora de meia idade.
_ Um senhor chamado Rocco está perguntando pelo patrãozinho. O que devo fazer?- pergunta torcendo os dedos no avental.
Observo aquela senhora que evita me olhar nos olhos, sempre os desviando para algum canto.
"O quanto ela sabe? "
"Seria uma pessoa próxima da minha mãe? "
_ Por favor, peça-o para esperar que já estou indo. Meu pai está em casa?
Pergunto, prevendo que se ele souber de Rocco por aqui, em suas terras, não ficaria satisfeito e culminaria em ofensas sendo destribuidas para o advogado e eu.
_ Não, depois do almoço o patrão foi supervisionar a adubação de uma parte das terras onde ele pretende plantar milho.- ela relata com a voz baixa- Quer que eu, mande esquentar a comida para o patrãozinho?
"Almoço? "
"Que horas seriam?"
Olho para o relógio e me assusto ao constatar que são três e meia da tarde, adormeci por muito tempo.
_ Não há necessidade, mas tarde eu faço um lanche, agora se me der licença preciso me trocar.- peço para que se retire e assim ela o faz.
Fecho a porta e busco em minha mala, que não pretendo desfazer, uma calça jeans de lavagem escura e uma blusa social preta, para meus pés um par de sapatos.
Após um banho morno ,me troco e vou de encontro ao advogado.
Quando chego na área externa o encontro apoiado em sua caminhonete de cor azul.
Sigo em sua direção, logo que percebe minha aproximação, Rocco arruma a sua postura.
_ Boa tarde, Rafaello! Preparado para tomar conhecimento sobre o funcionamento da sua fazenda?
_Boa tarde, senhor Gutemberg. - respondo por educação, mas acho que nunca mais as tardes serão boas - Estou preparado, será como minha querida e nisso não pretendo decepcioná-la. - falo fazendo um juramento no meu íntimo de fazer da fazenda D'angelis a mais afortunada desta região, além de cumprir com seus desejos de trabalhar nas terras pertencentes a Grão Doce. Terras essas que me trazem tantas lembranças amargas, é o mínimo que posso fazer por quem não pude estar por perto quando mais precisou.
Entramos no veículo e quando fechamos as portas uma dúvida surge em minha mente.
_ Onde fica essa fazenda?- pergunto
Rocco da um esboço de um sorriso.
_ Você não faz a menor idéia? Claro que não faz!- pergunta e ele mesmo responde sem me dar tempo de abrir a boca. - Quando chegarmos você verá.
Assim que cruzamos a porteira da Grão Doce, viramos para o lado oposto do percurso que nos leva para a cidade e nos aprofundamos cada vez mais naquela estrada de terra batida, a fazenda de meu pai vai ficando para trás. Começaram a surgir vários pés de café, incontáveis na verdade. O cheiros dos grãos em amadurecimento deixam um rastro de perfume no ar, meus olhos se prendem na grande plantação .
Após algum tempo, paramos em frente a uma porteira, onde um homem alto e forte faz a segurança da entrada.
Rocco, desliga o motor e me pede para descer do veículo, assim fiz.
Dei a volta e fiquei ao seu lado.
_ Matias ,esse é o proprietário da fazenda D'angelis, Rafaello D'angelis Mazzo, seu patrão. - o homem me encarou com olhos de espanto, devia pensar que conheceria um homem mais maduro e não um jovem quase saindo da adolescência.
_ Rafaello, esse é Matias, responsável por supervisionar quem entra e saí da fazenda, além dele, você tem outros seguranças espalhados pela área. - Gutemberg, esclarece e após uma breve apresentação entramos no carro e percorremos um longo caminho até chegar na área social, onde fica à casa sede.- Esta parte em especial precisa de uma reforma, mas quis esperar por sua autorização para mexer. Sua mãe disse que é para ser tudo do seu gosto, e eu não obtive autorização para tocar em nada, somente quando você soubesse da existência dessa propriedade.
Olhei para a casa que demonstrava, claramente, precisar de muitos reparos, assim também como a área de lazer e a gourmet.
_ Tivemos o cuidado de manter o jardim, a pedido de sua mãe . Vamos conhecer o restante. - saímos, mais uma vez, do veículo e todo percurso restante foi feito a pé.
Chegamos num galpão ,uma espécie de refeitório, onde muitas pessoas estavam reunidas, eram homens e mulheres ,novos e com mais idade.
Todos cumprimentaram a nós dois e depois Gutemberg foi lhes explicando quem eu sou e como seriam às" coisas" daquele dia em diante.
Muitos me olhavam espantados, outros com descrença e alguns com reprovação.
Toda via, aqueles olhares não me causaram nenhum impacto relevante, apenas mantive uma máscara de seriedade quando alguns deles faziam alguma pergunta. Todas elas com o mesmo propósito ,saber se seriam feitas demissões ou se o salário sofria qualquer alteração.
Rocco findou com às dúvidas de todos, após isso um a um veio me cumprimentar e retornaram ao trabalho.
Tive conhecimento que eu tinha herdado alguns cavalos de raça, que vieram junto com a fazenda.
Andamos pelo local, até que chegamos nas baías dos animais e o advogado pediu para selar dois equinos para nós. Gelei na hora, nunca tinha montado um cavalo antes, tanto que minha palidez me denunciou.
_ O que houve rapaz? Sente-se m*l?- Rocco, perguntou com certa preocupação.
_ Não apenas.... apenas nunca montei num animal destes e nem sei se estou preparado para isso.- revelei.
Um senhor que trazia os animais, puxando-os pelas rédeas, balançou a cabeça sorrindo.
_ Mas o "trem" é fácil de mais patrãozinho. "Cê", deve mostrar ao bicho que quem controla é o patrãozinho. As rédeas devem ficar sempre firmes, mas não se deve puxar muito para o animal não empinar .- o homem ia me explicando como proceder e o advogado só observava a interação entre nós.
Para subir no lombo do animal, precisei de ajuda, Rocco subiu sem quaisquer dificuldades. Saímos lado a lado explorando a fazenda, eu suava frio com receio de levar um tombo ou do animal "dar à louca" e sair em disparada comigo.
Mas conforme o tempo passava, eu fui ganhando confiança e sentia até um certo prazer em andar a cavalo.
Chegamos até o fundo da fazenda onde era uma zona de preservação, ou seja mato puro, mais ao longe avistei uma casinha simples próxima ao rio que corta a propriedade. Me afastei de Rocco e fui em rumo daquela construção.
Quando cheguei perto observei como era rústica.
Escutei os trotes do cavalo em que Rocco estava se aproximando.
_É uma construção do antigo peão, ele morava ai, sozinho. Mas quando o senhor Amâncio, vendeu as terras para sua mãe, no caso para mim, ele decidiu ir embora.
Aquele nome não me era estranho, já o ouvi em algum lugar. Fiquei buscando e forçando minha mente a recordar de onde.
_O mato está cobrindo a passagem.- falei interessado naquele casebre- Poderia pedir para fazer uma limpesa em volta dela?- perguntei.
Rocco me olhou com ar de interrogação.
_ Lógico, mas porquê não dá preferência para a casa sede, esse barraco depois você pode demolir e...- não o deixei terminar a frase.
_ Nada será demolido, essa cabana permanecerá onde está. Apenas peça para fazer uma limpesa ,por favor.
A visão daquela casinha, alguns metros longe do rio, com uma pequena mata na lateral, há uns quinhentos metros de distância ,mais ou menos, e a existência de uma densa floresta depois do rio, deixava tudo tão simples e lindo.
_ Vamos voltar, Rafaello, são quase cinco da tarde, seu pai poderá ficar preocupado com sua demora.- falou, olhando ao redor.
Apenas concordei e retornamos.
Saímos da fazenda por volta de umas seis da tarde. Conhecer aquelas terras me deu esperanças ,ocupar a minha mente , e quem sabe aplacar um pouco a dor de perder minha mãe.
Fui deixado pelo advogado na porteira da Grão Doce e de lá segui andando, minha barriga já doía de fome.
Eu, estou precisando de um banho com urgência , tenho suor de cavalo grudado nas pernas de minha calça, minha camisa colada em meu tórax por causa da transpiração. Conclusão estou sujo e fedendo .
Me aproximo de casa, escuto os berros de Genaro. Pelo modo como vocifera percebesse que está fora de sí.
Concerteza a situação não iria melhorar quando ele me ver chegando.
Apenas respirei fundo e entrei.