13: Budapeste: O Rastro do Sedutor e o Gelo da Suspeita

1179 Palavras
(Ambientação:Um apartamento de segurança perto do Rio Danúbio, Budapeste. Manhã fria e neblina sobre o rio) A viagem de Paris a Budapeste foi um silêncio rápido de jatos particulares e nomes falsos, Budapeste era uma cidade cheia de segredos e uma neutralidade que não era escolha de ninguém, o lugar ideal para um agente duplo se esconder. A cidade é cortada pelo rio Danúbio, e isso é como uma imagem da minha vida: de um lado, Buda (a parte estável, tradicional, com o castelo antigo), e do outro, Peste (o lado bagunçado, cheio de negócios e máfia moderna). A máfia siciliana não manda muito por aqui, prefere deixar a cidade como um ponto neutro para reuniões e passagem de coisas. Sebastian, com seus contatos de professores e bandidos de Roma, deve ter usado isso a seu favor. Chegamos antes do sol nascer, entrando quietinhos num apartamento seguro que o Serafiny arrumou de um jeito eficiente que me irritava. O lugar era sem graça, sem personalidade, mas tinha uma vista linda pro Danúbio, onde a Ponte das Correntes ficava quieta debaixo da neblina da manhã. Meu cérebro estava trabalhando a mil, não com a logística da Máfia, mas com o cálculo da traição. A letra "S." na parede do cofre do Dubois em Paris Sebastian? Ou Serafiny? Serafiny, sentada na minha frente, mantinha a pose de aliada perfeita. A sua postura era imperturbável, os seus movimentos calculados. Era a personificação da Sombra eficiente, silenciosa e impossível de ler. Ela abriu um mapa de papel da cidade e espalhou ele na mesa de vidro. A tela do meu celular tava ligada num sistema de rastreio de grupos criminosos que o Marco me mandou. “A Camorra não tem muita força aqui. Este é um território neutro, o que significa que Sebastian está usando um grupo do Leste Europeu. Provavelmente, os contatos que ele fez quando morou em Roma. Estamos entrando no território dele,” Serafiny explicou, com a voz profissional e sem emoção. “Território dele. Ou nosso,” corrigi, com a voz fria. “A Camorra do Dubois foi silenciada em Paris. Sua ordem de execução era um erro. Erros são imperdoáveis no nosso mundo.” “Minha ordem era para garantir o silêncio e nossa segurança. Sua decisão de usá-lo foi um risco desnecessário. O que seu pai me ensinou foi: «o sentimentalismo mata».” O sentimentalismo. Eu sorri por dentro. Ela estava usando minhas próprias regras contra mim. “Você está certa. Meu pai era genial. Mas ele também me ensinou a nunca confiar na Sombra. Eu quero a lista de todos os contatos da Camorra que Sebastian fez em Budapeste. Inclua qualquer pessoa que ele tenha ligado nos últimos três meses. E, Serafiny, tire um momento para ler os documentos que peguei em Milão,” ordenei. Serafiny olhou para os documentos, seus olhos azuis gelados percorreram as páginas. Este era o teste. Eu estava pedindo para ela ver a prova da traição interna, a que envolvia alguém chamado "A Sombra". Ela fechou o dossiê. “É uma obra-prima de mania de perseguição. Prova que seu pai sabia que seria traído. A lista é antiga. É por isso que ele a guardou. Se eu fosse a traidora, Íris, eu nunca teria te levado para Milão.” A lógica dela era impecável. Mas o que me interessava não era a verdade; era a reação dela. O Rastro do Sedutor O rastreador de Alice estava agora desligado. Sebastian estava confiando em pistas visuais. O Sedutor tinha deixado sua assinatura. Encontramos o primeiro sinal numa galeria de arte caindo aos pedaços, perto da Ponte das Correntes. Sebastian foi professor de História da Arte; o local escancarava que era ele. Não havia guardas. Havia apenas uma única foto pendurada numa sala vazia. Era uma foto antiga. Eu, Sebastian e Alice, em Miami. Éramos uma família. No verso, uma mensagem: “A Executora veio para me m***r. A Mãe veio para o resgate. Se você me ama, Íris, entenda meu papel. O próximo isco está onde os filhos de Buda e Peste se encontram.” Meu coração se partiu de novo, desta vez com uma dor misturada com confusão. Ele estava dizendo que me amava. Ele estava dizendo que meu papel era matá-lo, mas que minha essência era a de Mãe. “Ele está mexendo com seus sentimentos. Ele sabe que isso te enfraquece,” Serafiny comentou, impassível. “Ele não está mexendo. Ele tá revelando o jogo,” eu respondi, sentindo um arrepio na espinha. "Sebastian não era covarde. Ele tava nos dando a chave pra encontrar ele, mas fazendo isso do jeito dele, num código pessoal. 'Onde os filhos de Buda e Peste se encontram'... ele tá usando a origem do nome da cidade. É um dos joguinhos do Sebastian, Buda e Peste eram cidades separadas, unidas pelo Danúbio. A junção, o ponto de encontro, é o próprio Rio Danúbio. Mas o que isso significa na prática, Serafiny? Ele não vai tá na água.” A Serafiny pegou o mapa de novo, com uma rapidez que quase mostrava impaciência. Ela olhou pra área do Castelo de Buda, na margem oeste. “Ele tá falando do Labirinto,” ela disse, apontando pra um ponto específico embaixo da colina do Castelo. “O Labirinto de Buda, o Budavári Labirintus. É uma rede de cavernas e túneis naturais e feitos pelo homem que se estende por mais de dez quilômetros debaixo da colina. É um lugar que já foi depósito, prisão, abrigo contra bombas. É usado por todo mundo, da máfia aos traficantes de armas, porque o governo perdeu o controle total daquele subterrâneo. É um labirinto de verdade, perfeito pra esconder ou pra prender. O encontro de Buda e Peste é o ponto que conecta a colina de Buda, onde fica o labirinto, com o rio que deságua em Peste.” O Labirinto. As catacumbas. Um lugar onde a tecnologia moderna de vigilância da Máfia era quase inútil. “Ele está nos chamando para as catacumbas,” eu disse, a Executora analisando o risco. “Ele sabe que o calor e os sensores não vão funcionar lá embaixo. É um jogo da Sombra.” “Não é a minha Sombra, é a dele. Ele está te desafiando a ir sozinha,” Serafiny disse. “Mas nós não vamos. Vamos planejar a entrada. Vamos precisar de gás, de calor infravermelho e de um ataque coordenado. Você não vai entrar naquele buraco sem cobertura.” Eu peguei a foto e guardei no bolso de dentro do meu casaco. Meu marido, o Sedutor, era agora meu maior inimigo e meu único alvo. “Não. Sebastian não está jogando para fugir. Ele está jogando para ser encontrado. Ele quer que eu o confronte. Vamos encontrá-lo, Serafiny. E você vai ficar de guarda na superfície. Não vamos perder tempo com essa oportunidade,” decidi, aceitando o desafio. A dor da traição era um luxo. A Rainha Corleone tinha uma missão: encontrar Sebastian e fazê-lo confessar a traição antes de matá-lo.
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