Capítulo 4

1826 Palavras
Eduardo Valentin   Parece que minha vida deu uma pequena cambalhota, meses atrás eu estaria em uma festa qualquer rodeado por bebidas e algumas mulheres, e hoje, bom, estou aqui, sentado num banho do aeroporto esperando por meu pai, ele disse que estaria aqui para me buscar, olho meu relógio em meu pulso e vejo que ele está quase 20 minutos atrasado. Passei quase um ano nos EUS fazendo um curso de designer de joias, aprendi e evoluir bastante nesse tempo, vi para o Brasil apenas umas 3 vezes, e apenas para visitar meu pai durante 7 dias, foi rápido, e não pude matar as saudades que eu sentia dele, então por isso ainda estou me mantendo calmo e o esperando, pois sei que ele está tão ansioso quanto eu para nos encontramos. Eu diria que esse tempo fora me fez pensar em bastante coisa, me vejo agora como um homem mais maduro, mais responsável. Respiro fundo, pensando no homem de cabelos e olhos castanhos que vi antes de partir, aqui mesmo nesse aeroporto, se passou bastante tempo desde aquele dia, como eu disse, quase um ano, mas nunca fui capaz de esquecer seus olhos, olhos que carregavam uma tristeza que me fazia querer mergulhar neles. Para falar a verdade, me encontro preocupado com o que pode ter acontecido com esse homem. Passo a mão pelos meus cabelos, os sentindo macios, esfrego meus olhos, estou cansado da viagem, só quero minha cama e uma boa xícara de chá bem quente antes de dormi. Olho ao redor, nada de papai aparecer. Pego minha mochila ao lado de minha mala e procuro por meu caderno dentro da mesma, o achando enfio minha mão por entre as mais diversas coisas que tem dentro de minha mochila, achando meu lápis, abro o caderno numa folha qualquer e começo a fazer uns rabiscos, além de desenhar joias, descobrir que sou bom em desenhar pessoas, deixo que minhas mãos me guie, vendo lindos olhos castanhos surgi na folha em branco, mas me assusto tendo uma mão tocando meu ombro, levanto a cabeça e o encontro ali, meu pai, ele me olha com um sorriso cheio de saudades, seus olhos desviam para o papel apoiado em minhas pernas suas sobrancelhas franzem e seu sorriso se expande orgulhoso, é realmente bom saber que agora eu sou motivo de orgulho para ele. - Papai, achei que tinha me esquecido aqui. - Fecho o caderno e o deixo sobre a cadeira ao meu lado, me levanto e me jogo em seus braços quando ele abre o mesmo para me receber ali dentro. Me sinto feliz, realmente me sinto bem em estar de volta para casa definitivamente. - Que felicidade ter você de volta, quase me arrependi por tê-lo obrigado a ir, bi que não consigo ficar muito longe do meu menino. - Ele alerta minhas bochechas, e eu sorrio, sentindo meu peito cheio de amor e orgulho por poder chamar esse homem de pai, que sorte eu tenho de ter ele na minha vida. - Eu te amo papai, e querendo ou, isso fez com que eu enxergasse a vida diferente, antes eu não tinha propósito, fazia o que bem queria sem me importar com as consequências, e hoje eu vejo que não era errado viver assim, mas também não era o certo para mim, nem muito menos para o senhor, você sempre foi um pai maravilhoso, cuidou de mim, e me amou quando minha mãe me abandonou, então eu devo tudo a você pai. - Seus olhos estão marejados, ele me puxa para seus braços novamente e deixa um beijo em meus cabelos, e começa a falar baixinho com seu queixo apoiado em minha cabeça. - Se aquela vida te fizesse feliz, eu não pensaria duas vezes em te apoiar, mas eu via sua tristeza, o vazio que ficava em seus olhos depois da noite de bebedeira. Eu te amo, e tudo o que eu fizer vai ser pensando no seu bem, então me perdoe se eu me intrometer demais filho. - Me afasto do seu peito, e sorrio para ele. - Eu te amo. Agora vamos para casa, quero o chá maravilhoso que Jasmim me acostumou a tomar, fiquei em abstinência todo esse tempo sem o precioso chá dela. - Papai rir. - Ela sentiu sua falta. - Eu também senti a de vocês. Jasmim é a governanta de nossa casa, desde que me lembro ela esteve presente em minha vida, papai e ela são muito amigos, desde que eram crianças, quando a mãe dela trabalhava para meu avô, ela foi minha mãe mais do que a mulher a qual o sangue corre em minhas veias. Eu amo os dois demais, eles são minha vida, minha base. O caminho até em casa se mostra longo, talvez porque eu esteja muito cansado, então apenas me deito no ombro de papai e respondo suas perguntas sobre como foi minha vida nos últimos meses, vamos conversando, colocando os assuntos que não deu para me falar pelas poucas horas de conversa pelo celular. Eu voltei, voltei um novo homem, com um diploma em mãos e disposto a viver uma nova fase da minha vida, quem sabe até me casar? É, eu sei que estou no auge dos meus 21 anos, mas eu já vivi tudo que um adolescente pode viver, está na hora de criar raízes. De focar em coisas mais importantes do que uma noite regada a bebedeira e pessoas que não estão realmente preocupadas comigo e com meu bem-estar. -Querido? - Escuto uma voz um pouco longe. - Filho, chegamos. - Papai fala e então me dou conta que estamos parados, acho que acabei dormindo durante o percurso, olho para fora da janela e vejo Jasmim, um sorriso se abre em meus lábios, seus cabelos parecem mais brancos, suas rugas mais evidentes, mais ainda continua sendo a mulher que junto com meu pai foram minha única família. Saio do carro às pressas, apenas ouvindo o riso divertido de papai ficando para trás, mas me foco no sorriso lindo que Jam me direciona, seus olhos com algumas lágrimas, então me jogo em seus braços que estão abertos para me receber. -Como senti sua falta meu menino, parecia que o tempo não passava com você tão longe. - Eu sorrio, gostando como sua cabeça se encaixa em meu peito, nos separamos e eu olho em sua direção. -Estava morrendo de saudades Jam. Cuidou bem de papai? E você está bem? Como tem passado? Ele rir apertando minha bochecha. -Meu menino sempre se mostrando ter um bom coração. -Sabe que isso eu aprendi com os melhores. Olho para ela e para papai que sorrir, Jasmim passa seu braço por minha cintura e me arrasta pela grande sala, noto que não mudou nada aqui em casa, parece até que nunca sai daqui, chegamos até a cozinha onde tem uma mesa posta, desde pequeno fazemos nossas refeições aqui com Jam e alguns outros empregados da casa, mas agora se encontra vazia a não ser por nós três, logo sinto do chá, me solto de Jasmim e me sento em umas das cadeiras, pegando uma xícara e me servindo de uma generosa quantidade do chá mate, como eu senti falta. -Maravilhoso. - Falo assim que sinto o líquido um pouco gelado descer por minha garganta. - Sinto as mãos de nossa governanta em meus ombros e ela deixa um beijo em meus cabelos, então ela se senta ao meu lado e papai na cabeceira da mesa, começamos a conversar enquanto me sirvo do delicioso bolo de cenoura. -Filho, tenho algo para falar com você. -Sobre o que papai. - Olho para ele que mantém uma expressão séria. -Vim pensando nisso por um bom tempo, quero que você, meu filho assuma a presidência da joalheria Valentin´s. Tenho meus olhos arregalados. -Mas papai, eu gosto apenas de desenhar, não saberia lidar com todas as burocracias da empresa, isso envolve mais do que eu sou capaz de fazer. - Eu estudei designer, não saberia lidar com questões financeiras. Isso é loucura. -Claro que não seria agora filho. Mas ao invés de você ficar preso em uma sala desenhando, você me acompanharia em todos os negócios, assim você vai aprendendo tudo que precisa para poder lidar sozinho depois, agora seria uma temporada de testes, onde você apenas vai aprender. -Papai, eu não sei se eu poderia fazer isso, tudo que eu quero fazer é apenas desenhar. Eu... - Mordo meus lábios nervoso, eu não saberia lidar com nada disso. - Eu não teria mais tempo para fazer o que eu gosto. - Papai suspira e sinto Jasmim segurar minha mão em cima da mesa, tentando me passar um pouco de calma, mas realmente não sei como me sinto em relação a isso. -Ok, entendo que não queira, mas me dê a chance de te mostrar como as coisas funcionam, e você verá também que pode assumir a presidência sem deixar de fazer o que gosta, você pode fazer os dois. Sei que eu nunca vou me interessar por essa parte financeira, nunca serei um bom CEO, mas tenho que deixar papai me mostrar, assim ele verá com os próprios olhos que não sirvo para isso. Nunca precisei estar à frente de nada, então com certeza não saberia lidar com isso. Agora, pensando no tamanho da responsabilidade. Se eu arruinar tudo o que nossa família levou tempo para construir? Eu nunca me perdoaria por acabar com um legado de longa data, que passou por gerações. -Ok, papai, o senhor pode me mostrar, mas não prometo nada. - Ele sorrir. -Isso já é o bastante, irei te mostrar que você pode fazer o que quiser, e não precisa começar sendo o melhor ou ter um diploma para isso. Apenas assinto e volto a comer meu bolo, talvez seja bom, eu disse que começaria uma nova vida, talvez tentar sempre fazer coisas fora da minha área me renda novas e boas experiências. Não preciso apenas me prender a desenhar joias, acho que posso fazer mais coisas que eu queira e deseje fazer, mesmo que isso comece por influência do meu pai. Assim como eu encontrei algo de que gosto com ele me mandando estudar nos EUA, posso encontrar novamente algo do que gostar seguindo-o nos seus negócios. Suspiro, lembrando de certos olhos castanhos e expressões tristes, aquele homem mesmo depois de meses continua a povoar meus pensamentos, meus sonhos, parece que o calor do seu corpo ainda se espalha pelo meu, isso porque só nos tocamos por míseros segundos. Penso se um dia eu voltarei a ver aqueles olhos, se ele ainda carregaria aquela ponta de tristeza..., mas sei que isso é impossível, qual a chance de ver ele novamente? Diria que de 100%, não existe nem mesmo 20% de chance deu ver seu rosto. O mundo é um lugar grande... nunca mais terei a chance de vê-lo, e constatar isso, deixa um certo incômodo em meu peito.
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