Diz que me ama, é só isso que eu preciso.

1156 Palavras
Algumas horas depois, ainda nada de Gusmão. Donna dormia no sofá quando chegou uma nova mensagem dele: — Infelizmente não posso ir. Minha filha exigiu minha presença. Mas deixei seu presente na recepção da empresa. Passa lá pra pegar. Um beijo. Suspirei. Ele nunca soube meu endereço. Sempre combinava antes. Peguei a bolsa e fui. (...) O hall da empresa cheirava a mármore novo e perfume caro. Fui até a recepção. Após ver tantas pessoas em movimento ali. — Oi, boa tarde... O senhor Gusmão pediu pra eu passar aqui. Me chamou Bianca. A recepcionista sorriu e puxou uma sacola de joalheria. — Aqui está. Ele pediu pra avisar que sente muito. — Obrigada. peguei, e pela caixa grande parecia ser um colar. Estava prestes a sair quando escutei. — Clarisse? O som daquela voz me congelou inteira. Meu corpo arrepiou, minha respiração falhou. Virei devagar, como se não tivesse coragem. E lá estava ele. Edgar. Os olhos dele me atravessando como faca. O presente de Gusmão pesando na minha mão como uma culpa. Como isso podia estar acontecendo? .... Assim que ouvi aquela voz atrás de mim, meu corpo inteiro congelou. O arrepio veio dos pés à cabeça, como se eu tivesse sido atingida por um choque. Eu não precisava virar para saber quem era. Ele se aproximou. Como isso era possível? Ele estava me perseguindo? Estudando meus passos? Não... Não dava pra ser. Não tinha como ele saber de nada meu. Virei devagar e então meus olhos encontraram os dele. Azuis. Intensos. Capazes de bagunçar tudo dentro de mim, como se o tempo não tivesse passado. Edgar. — Clarisse? ele chamou de novo. Meu coração disparou, mas consegui reunir forças para responder, firme o suficiente para parecer outra pessoa: — Não me chame mais assim. Todos me conhecem como Bianca. Ele recuou um passo, como se tivesse levado um soco, mas não desviou os olhos dos meus. — Tudo bem… só… podemos conversar? Olhei ao redor, sentindo o coração galopar no peito. A recepção não era lugar para isso. Não era lugar para nós. — Eu não vou te forçar a nada. ele continuou, quase suplicando. — Sei que fiz tudo errado… eu só queria entender, eu sei que você quer também. Só esclarece comigo as coisas, eu juro que te deixo em paz se você fizer isso. Suspirei fundo, tentando aliviar o peso esmagador no peito. — Você não tem culpa de nada. murmurei, e essas palavras saíram como se libertassem algo preso dentro de mim. — Eu só precisava achar um culpado pra tudo que aconteceu, mas eu sei que não foi você. Eu sinto muito. Preciso ir.. Quando tentei sair, senti a mão dele segurar meu pulso. Não foi um aperto, não foi força… foi um pedido. Um pedido que eu nunca soube recusar. — Por favor… a voz dele soou vulnerável. — Vem comigo. Só alguns minutos. Respirei fundo. O olhar dele me implorava. Contra todo o meu instinto, cedi. A mão dele roçou minhas costas ao me guiar pelo corredor e aquele toque… meu Deus… era como se eu tivesse voltado anos no tempo, quando cada gesto dele me incendiava. Entramos em uma sala. Ele fechou a porta atrás de nós. Eu suspirei, nervosa. — Você trabalha aqui? perguntei, mais para ganhar tempo do que por real curiosidade. Ele apenas acenou, sem desviar o olhar de mim. — Não sei se fiz o certo em entrar aqui… murmurei, ainda de pé, sem coragem de me aproximar. Ele deu um passo para frente. — Você teve razão em procurar um culpado. E, em parte, eu fui sim. Balancei a cabeça, negando. — Não… não foi. Você só voltou pra onde pertencia. — Eu voltei porque sabia que minha mãe iria te destruir. ele disse firme. — Ela não ia parar. Eu precisei encontrar uma forma de enganá-la. O ar escapou dos meus pulmões. Eu queria não acreditar. Mas talvez, no fundo, sempre tivesse acreditado. — O meu erro foi achar que conseguiria. Nego sem saber o que responder. Nada mais faria diferença, remoer o passado.. nada muda o que aconteceu. — Isso não importa agora. Ele n**a novamente, porque importava. Mas porque continuar aquilo? Porque? — O que aconteceu com você depois que eu parti? ele perguntou, e aquela pergunta cortou fundo. Baixei os olhos, respirei fundo e deixei sair. Só queria acabar com aquilo, ele queria respostas... Não me deixaria em paz até respondê-las. E eu também queria seguir.. precisava seguir. — Fui expulsa de casa… Ele pareceu não acreditar. — O quê?! — Marlon foi atrás de mim… minha voz vacilou. — Queria reatar, disse coisas horríveis de você. Que tinha me usado. Eu contei o que ele fez, e ele foi expulso. Mas como vingança… ele vazou aquele vídeo e… Parei. Não consegui continuar. Edgar se aproximou, os olhos cheios de raiva e dor. Quando sua mão encontrou a minha, meu corpo inteiro entrou em colapso. O toque dele ainda era casa. — Teu pai te expulsou por causa disso? a voz dele saiu entrecortada, quase um rugido de indignação. Assenti, sentindo o rosto esquentar de vergonha. — Não tinha pra onde ir… Acabei passando a noite em uma estação de metrô. Uma mulher me ajudou por alguns dias, me deu abrigo. Ele fechou os olhos por um instante, como se estivesse engolindo a própria fúria. — Clarisse… Desviei, tentando me proteger. — Eu fiquei bem. É isso que importa. — Não! ele negou, os olhos fascinados em mim. — Você não ficou bem. Antes que eu pudesse reagir, os dedos dele estavam acariciando meu braço. Logo depois, segurando meu rosto com as duas mãos. Meu coração queimava. Ardia. Eu não podia resistir. — Essas são as respostas que você queria. soltei, com a voz embargada. — Você não teve culpa. Se é isso que te corrói, deveria ficar aliviado. Os olhos dele eram um azul puro, intensos... Tão expressivos, tanto quanto ele me olhava apaixonado. Ele me encarou com tanta intensidade que meus joelhos fraquejaram. — Não… não é isso que me corrói. Fiquei sem ar. — Tudo poderia ter sido diferente, Clarisse… Meus olhos encontraram os dele. Eram os mesmos de antes. Os olhos que me olhavam apaixonado. Os olhos que eu nunca esqueci. — Eu preciso ir… tentei me afastar, mas falhei miseravelmente. Meu corpo não me obedecia. Ele também não parecia ter controle. Atraídos, presos.. reféns. — Eu te procurei tanto… A voz dele saiu grave, quebrada. — Edy… não faz isso. minha voz suplicava, mas tremia de desejo. Ele umedeceu os lábios, tão perto que eu podia sentir sua respiração contra a minha boca. — Eu não consigo controlar. sua testa encostou na minha. — Eu preciso disso. — Edgar… — Diz que precisa também. ele sussurrou, os olhos fixos nos meus. — Diz que ainda me ama Clarisse. Meu coração parecia explodir. Aquelas palavras ecoaram dentro de mim, arrancando minhas defesas.
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