Minha escolha. minha consequência.

1222 Palavras
CLARISSE: Já não tomava mais decisões. Todas as minhas decisões estavam me levando a ruína, a destruição do pouco que me restou.. A impulsividade era a minha única arma agora. Pensar em mim, estou tão cansada de ser descartada. E o Gusmão... Ele estava me dando essa chance. Eu nem pensei, só aceitei. Os dias se passaram e ele me acompanhou até o aeroporto. Iria depois de alguns dias. Falou que só não iria agora porque os problema eram grandes pra resolver. Não gostava de saber, ele sabia disso. Ele ainda não tinha pedido o divórcio, e eu sabia que seria um processo longo, mas naquela altura... Eu só pensava em mim. O coração pesava, mas a decisão estava tomada. Por um instante pensei em convidar Donna para não me sentir tão só, mas não... esse era o meu caminho, e ele já tinha preparado tudo para nós dois. Ele queria me assumir, queria que eu fosse dele. Mulher dele. E, no fundo, eu sabia que não era o momento de levar mais ninguém nessa travessia. Quando paramos diante da entrada, ele segurou meu rosto com delicadeza, acariciando minha pele como quem memoriza um detalhe antes da partida. — Vou o mais rápido possível. Me espera. Abrir um sorriso pequeno. — Eu vou esperar. Ele retribuiu com aquele sorriso tranquilo, como quem tem certeza do futuro. — m*l posso esperar pra estarmos lá... só nós dois. Meu peito apertou. Ele parecia acreditar tanto nesse “nós”. Fechei os olhos quando ele beijou minha testa, e por um momento me permiti sentir segurança. Acenei, me afastando devagar. Cada passo era um adeus silencioso a tudo que me prendia ao passado. Ele ficou parado, me observando até eu não olhar mais para trás. Cabeça erguida. Respiração pesada. Eu estava deixando Edgar para trás. Suas memórias, sua indecisão, o vazio que sempre me deixou. Hoje ele casaria... e eu dava rumo à minha vida. Era isso. Eu precisava seguir. Mas então... Aquela voz. Forte. Desesperada. Rasgando o saguão e me atingindo como um raio. — Clarisse! Eu congelei. O ar fugiu dos meus pulmões. Virei, e quase não acreditei no que via. Ele estava com a barba mais cheia, cabelos mais volumosos... Só se passaram 3 dias, mas tudo parecia tão diferente. Quando o vi, ele correu em minha direção, de terno, apressado, perfeito... Tão impossível, tão inaceitável, e ao mesmo tempo tão... meu. — Edgar... meu sussurro escapou antes que eu pudesse me conter. Ele não disse nada. Apenas me alcançou, tomou meu rosto entre as mãos e me beijou. Um beijo potente, urgente, preso em anos de silêncio e em tudo o que nunca ousamos viver. Meus joelhos fraquejaram. Minha alma se incendiou. Tudo em volta sumiu... Tudo. Eu só conseguia sentir ele. Ele... Estava ali, comigo.. Tinha tantas perguntas mas ali, não consegue formular um só pensamento.. O beijo foi cheio de suspiros. Quente, desesperado, como se nossas vidas dependessem daquilo. Meus dedos ainda tocavam o rosto dele, incrédula. O que Edgar fazia ali? Ele... desistiu do casamento? Separando os lábios, fiquei sem ar. Era como se estivesse vivendo um sonho e eu temia acordar a qualquer momento. — Vou pra qualquer lugar com você... ele murmurou contra minha boca, firme, como se jurasse diante do mundo. — Não importa a merda do lugar, você é o meu lugar! Minha única escolha. Meu coração disparou. Eu o encarei confusa, prestes a me perder por completo, quando a voz de Gusmão cortou o ar como um trovão. — O que é isso!? Meus olhos voaram até ele. O tempo parou. Edgar se afastou um passo, e vi seu olhar petrificado. Fiquei entre os dois, sufocada. Dois homens que se declararam para mim no mesmo instante. Antes que eu pudesse reagir, Edgar se adiantou: — Eu não vou voltar, Gusmão. Se me seguiu até aqui, esquece... Gusmão franziu o cenho, sem entender. — Você conhece ele, Bianca? Aquela palavra me atravessou como uma faca. Edgar também me encarou, atônito. O choque no rosto dele doía mais que qualquer tapa. Os dois me olhavam como se eu fosse a grande vilã dessa história. Suspirei pesado. A verdade estava nua, exposta entre nós. Gusmão tinha direito de saber. — Edgar foi... o homem por quem eu me apaixonei, Gusmão. O silêncio que seguiu foi devastador. O olhar dele deslizou até Edgar, perplexo. — Você não devia estar aqui! sua voz saiu áspera. — Minha filha está lá, te esperando! Meus olhos se arregalaram. — Sua... filha? Gusmão se virou para mim. — Liana. Ela é noiva dele. O chão fugiu dos meus pés. Todo esse tempo... a mulher de quem tanto falavam era ela. A filha dele. A mesma... — Eu não vou cometer o mesmo erro que você. Edgar retrucou, firme. — Não vou casar por causa de um filho, vou ser pai estando ou não com ela, mas ninguém vai me obrigar a subir naquele altar e prometer amor de mentira! Gusmão cerrou os punhos e partiu pra cima, mas eu me coloquei no meio. — Não! Gusmão, não faz isso! Seus olhos queimavam de raiva, sua mandíbula travada. — Você não... ele parou me olhando, devoto, amargurado, logo encarando Edgar além de mim. — Qualquer uma, garoto. Mas ela não! Edgar agarrou minha mão, encarando ele de volta. — Sempre foi ela. Você estava lá, você sabe de tudo! Gusmão negou, olhos duros. — Vem comigo, Bianca. Eu posso te dar o que ele nunca vai dar. — O nome dela é Clarisse! Edgar rosnou. — Você não a conhece, não sabe nada dela! — Eu sei tudo, moleque! Gusmão explodiu. — Estamos juntos há anos! Você que não sabe de nada! Edgar não recuou, deu um passo à frente, mas eu o segurei. — Edgar, por favor, para! — Vai ter que procurar outra! Ele cuspiu, furioso. — Seu moleque! — Gusmão! gritei, desesperada quando ele agarrou Edgar pelo colarinho do terreno. — Solta ele, por favor! — Eu fui com você escolher esse terno. Você jurou que já cuidar da minha filha, eu te falei do divórcio. Ela é a mulher que eu quero! Você não tinha que esta aqui! — Gusmão... Olha pra mim, solta ele.. Nossos olhares se cruzaram. Eu implorei em silêncio, até que ele desviou, respirando pesado, derrotado. Seus olhos ardiam de dor. — Vem comigo... sua voz soou quase como súplica. Eu fechei os olhos. Respirei fundo. E quando os abri, Edgar estava ali, me olhando como se fosse a última chance da vida dele. — Não escuta ele. A voz dele quebrou. — Eu te amo, Clarisse. Eu não vou desistir de você. Nem hoje, nem daqui a dez anos. Mesmo que me rejeite, eu vou esperar até você enxergar que ele não é o que você quer. Nunca foi. Meu coração se dilacerou. Gusmão me oferecia estabilidade, cuidado, tudo o que qualquer mulher poderia querer... mas não era isso que eu precisava. Não era isso que queimava dentro de mim. Olhei para ele, com o peito em pedaços. Eu não conseguia. — Desculpa... Seus olhos se fecharam por um instante, como se tivesse levado um golpe fatal. Edgar apertou minha mão e me puxou. — Fica longe dela! E me levou dali, enquanto eu ainda tremia, deixando Gusmão para trás. Derrotado. ...
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