Você sumiu? onde você está Edy...

1363 Palavras
Depois, exaustos, nos deitamos. Eu encostei minha cabeça em seu peito, sentindo seu coração bater contra o meu. Adormecemos ali, entrelaçados, no calor do que nos consumia. De manhã, acordei assustada com o alarme, vendo ele ali do meu lado. Meu Deus! Ele dormiu aqui. balançando seu corpo o acordei: — Edy… acorda! Você dormiu aqui… sua mãe vai te matar! Ele abriu os olhos, vendo o sol já quente entrando pela janela: — Droga! murmurou, se levantando rápido. Me beijou de leve, ainda com sono nos olhos: — Te vejo na escola! — Tá... murmurei, sorrindo, sentindo o coração apertado. Ele saiu pela janela, e eu fiquei olhando enquanto se afastava, cada passo dele arrancando um pedaço de mim pra longe. .... Horas depois, acordei com o coração apertado. Queria consertar a briga de ontem, queria que ele me olhasse e entendesse. Mas assim que entrei na sala, percebi que algo estava diferente. A sala começou a encher, o barulho dos alunos enchendo meus ouvidos… mas ele não chegava. Esperei, tentando me convencer de que ele ainda viria. Olhei para o relógio várias vezes, cada minuto passando mais lento que o anterior. A ansiedade crescia, meu peito doía. Mas ele não apareceu. Quando o horário passou do limite que eu sabia que ele nunca teria faltado a aula, meu coração começou a falhar. Ele não viria. Ele… tinha ido embora? No fim do dia, não suportando mais a espera, fui até a casa dele. Fiquei no portão, olhando cada detalhe, esperando algum sinal, algum retorno. Até que uma funcionária apareceu. — Desculpe, senhorita… eles não estão aqui. — Mas eles vão voltar? minha voz falhou, e o desespero começou a apertar meu peito. — Sinto muito… eles levaram todas as roupas, não vão voltar. Só ficaremos aqui pra cuidar da casa. Meu coração pareceu parar. — Tem certeza? minha voz tremia. — Sim, mocinha. Desnorteada, recuei alguns passos, sentindo o mundo desmoronar. Ele… ele foi embora? Como assim? Ele disse que não iria sem mim. Que se fosse, me levaria junto. As lágrimas começaram a escorrer, e eu chorei na rua, abraçando a bolsa como se fosse ele. Cada soluço era uma lembrança, cada batida do coração doía como se fosse física. Quando finalmente cheguei em casa, meu pai me esperava, severo: — Onde esteve? Você tinha horário! O que as pessoas vão pensar de nós? Uma garota que passa a noite na rua? Entrei no meu quarto, trancando a porta, e chorei até não conseguir mais. Meu corpo inteiro tremia, meu coração sangrava. Os dias se arrastaram, e a fixa sobre ele ter ido embora foi caindo aos poucos. No começo eu achei que a mãe dele podia ter mandado mentir pra mim, mas eu fui outras vezes, eu até procurei ele todos os dias na escola... Mas ele não voltou. O vazio permanecia. Ele não voltou para a escola. Cada aula era um lembrete do que eu havia perdido. Ele me deixou... Me deixou aqui. Sozinha. Meu pai me questionava onde é que ele estava, o que tinha acontecido, mas eu não sabia. Nunca fui tão m*l tratada pelos meus pais quanto aqueles dias... Meu pai me olhava com desprezo, minha mãe com decepção. Até que um dia, ele chegou em casa embriagado. Estava deitada no quarto quando ouvir os gritos da minha mãe. — Antônio, para com isso! Você bebeu de novo? — Me deixa mulher, deveria se preocupar com a educação dessas meninas! Eu já te falei, não vou tá aqui pra sempre, se eu morrer anh? Vai comer o quê? Vocês não são nada sem o jumento de carga aqui trazendo pra vocês. Ouvir coisas sendo jogadas no chão. sair do quarto e vi Clara na porta do dela.. — volta pro quarto. — Ele... Acha que ele pode bater nela? — só.. volta pro quarto, eu vou lá. Ela só acenou assustada e eu fui até onde minha mãe estava. Desci as escadas com cautela e então vi. A mesa arremessada sobre o chão e ela catando os cacos chorando. — mãe? Ela ergueu o olhar, mas ele saiu de dentro da dispensa. O olhar dele pra mim, foi o pior que já vi em toda minha vida. — vem cá! Ele veio tão abrupto pra cima de mim que não tive tempo de raciocinar. — Antônio, não! Minha mãe rogava por mim, mas não teve jeito. Ele me arrastou até a dispensa, abrindo a porta. A madeira bateu forte contra a parede. — Tá vendo isso aqui?? Olhei a dispensa quase vazia, só havia alguns enlatados e cereais. — Isso aqui é o que vocês vão ter sem mim garota! E você não foi suficiente pra arranjar um marido bom que nem eu pra sustentar vocês. — pai.. pai me solta. Meu coração estava acelerado, tanto medo. Eu só conseguia ver minha mãe chorando, a voz dela pedindo pra ele me soltar. — Aquele rapaz era rico! Eu perguntei por ele na cidade e ele foi embora? O que você fez anh!? Neguei freneticamente, eu não fiz nada.. nada.. Mas ele ficou furioso. — O QUE VOCÊ FEZ!!? Gritou tão forte e alto que conseguir vê saliva sair dos seus lábios, respingando pra fora. Não respondi, eu não tinha o que responder. E então ele me jogou naquele chão. — ahrn... — Antônio!! Minha mãe gritou, ouvir passos correndo na madeira e então minha irmã de abaixou perto de mim. — PARA COM ISSO PAI!! PARA COM ISSO! Ele nos olhou, pra nós três naquele chão. Com olhos em chamas e saiu batendo a porta de casa. Eu só sabia chorar, alto, forte. Minha vida parecia ter acabado ali... E quem me dera se naquele dia, ela tivesse acabado mesmo. Não sai mais do quarto aquele dia, Clara ficou comigo o tempo todo. Minha mãe disse que a culpa foi minha, que ele nunca mais tinha bebido, foi por minha causa. — Não fica assim, ele vai voltar. Clara disse com o tom baixo, passando a mão nos meus cabelos. O que ela entendia disso? Nada... Ela era só uma menina, m*l sabia nada da vida. E minha mãe... Ela sempre me disse pra fazer as coisas direito, namorar na porta de casa, não me entregar antes do casamento. Porque se eu fizesse isso antes, daria tudo que os homens querem, sem compromisso. E eu não acreditei... Eu só, fiz o que eu queria, sem ouvir ela. Me questionava se não foi isso mesmo. Se o Edy.. só aproveitou tudo que tinha de mim e voltou pra cidade com os pais dele porque não tinha mais nada aqui de novidade. Minha cabeça me sabotava, cada dia que passava, sem ele voltar, sem dar notícias, só me fazia acreditar ainda mais na mãe dele. Que foi por rebeldia, que... Ele só me usou, como o Marlon fez. — Aquela briga.. daquele dia, foi esse o motivo dele ter ido embora? Neguei olhando pra ela — A gente esteve juntos naquela noite... Clara, não foi por causa disso, ele disse que me amava que me veria na escola. — Então porque foi? Neguei não sabendo. Os olhos dela tomaram outra direção, e então foi como um estalo. Ela me olhou de novo. — Você se entregou pra ele? Meu coração afundou, porque eu sei que ela vai dizer as mesmas palavras de mamãe. E então eu só me joguei nos braços dela e chorei, era tudo que eu podia fazer... Chorar. ..... No outro dia, procurei a biblioteca da cidade, antes da minha aula. E pesquisei sobre o nome da família dele. "sturdart" havia fotos na internet, dos pais dele juntos, como se fosse um casal exemplar. Deslizei o mouse do computador antigo e encontrei fotos deles com várias pessoas. Do lado dele tinha duas garotas, uma mais nova, mas distante e a outra... A mão dela estava sobre o ombro dele, o corpo inclinado encostando no dele e o sorriso dela... Era tão expressivamente feliz. Levei a mão a boca chorando em silêncio, então.. ela deve ser a garota que a mãe dele falava. — Aí meu Deus... O que eu fiz com minha vida. ...
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