Finalmente as coisas estavam se encaixando perfeitamente. O baile que não pôde ir com a senhorita Sackville, foi na verdade o início de uma nova etapa na vida das duas amigas. Justamente neste baile, Ivy contou ao lorde Clifford sobre a sua gravidez, e enquanto fazia isso, se deparou com ninguém menos que o seu amor das terras italianas, Andrew.
Andrew Windsor era na verdade o futuro duque de Gloucester, filho do anfitrião do baile. Claro que ainda houveram alguns contratempos, mas, no final das contas os dois se acertaram novamente e agora iriam se casar com uma licença especial.
Vários dias se passaram desde então, e Lunna pôde distrair a sua mente, ajudando nos preparativos para o casamento. Não teve mais nenhum encontro ou notícias do visconde, apenas um sonho mais ousado de vez em quando, mas, ela estava certa de que agora que estavam de volta ao condado, ela finalmente poderia esquecer todo aquele episódio e finalmente parar de sonhar daquela forma.
Provando a sua amizade mais uma vez, Ivy convidou Lunna para ser a sua madrinha de casamento, uma atitude inimaginável para a maioria das pessoas presentes, mas, ninguém ousava falar isso na sua cara, afinal, ela estava se encaminhando para se tornar uma duquesa.
Juntamente com Lunna, a atriz e amiga, vivienne Hamlets, também havia sido convidada como madrinha, assim como Suzan, que também era sua cunhada.
O casamento aconteceria no condado de Dorset, com vista para o mar. Ivy era a noiva mais linda que Lunna já tinha visto, na verdade, ela sempre foi uma admiradora da sua beleza da amiga.
Na hora da marcha nupcial tudo estava bastante agitado, nada poderia dar errado naquele dia. A primeira madrinha a entrar, jogando pétalas no chão da noiva, foi Suzan, ao lado de Hebert, irmão de Ivy e convidado por Andrew como padrinho. Em seguida, vivienne entrou ao lado do lorde Clifford, provocando uma indignação visível na condessa de Gloucester, sua mãe, que desaprovava por completo a ideia das madrinhas fora da nobreza e principalmente de por uma delas ao lado de um futuro conde.
Lunna estava tão ansiosa com cada detalhe, que só se deu conta do último padrinho escolhido por Andrew, quando este já estava parado a sua frente, e por um momento torceu para que os seus olhos estivessem vendo errados. Justo agora, quando quase não sonhava mais com ele, quando já vivia a sua vida sem parar para pensar naquele par de olhos tão escuros, ele estava alí, bem na sua frente e com o braço estendido em sua direção.
- você?!
Obviamente que a sua respiração acelerou, como já era comum em seus sonhos, e Lunna temeu aceitar o seu braço e se queimar, como também acontecia enquanto sonhava com ele. Um tanto nervosa, observou enquanto vivienne caminhava ao lado de James já distante deles dois, e soube que não teria outra alternativa, senão aceitar que deveria caminhar ao lado daquele homem, para não destruir o casamento tão sonhado de Ivy.
- ah, imagino que agora não terá como fugir.- disse com a voz tão grave e calma, quase uma canção de ninar se comparada a sua voz interior que gritava em desespero.
Lunna finalmente aceitou o braço que ele lhe ofereceu, e mesmo por cima da luva, o magnetismo que ele emanava, pareceu penetrar na sua pele. Juntos caminhavam lentamente em direção ao altar, sob o olhar de toda sociedade, chocada, com o fato de uma criada ser posta ao lado de um visconde em uma posição de tanto prestígio. Lunna sabia que ao ser escolhida por Ivy para estar ali, deveria se sentir extremamente honrada, e até se sentia, pois conhecia bem as intenções da amiga, no entanto, não conseguia deixar de se sentir constrangida e deslocada, quando notava todos os olhares a repudiando, como se fosse uma barata voando bem no meio daquela festa.
- também imagino que não poderá me denunciar, destruiria o casamento do qual está sendo padrinho, se o fizesse. - disse ignorando os olhares que a feriam, como já estava acostumada a fazer.
- ainda posso contar a verdade ao noivo, antes que esta noite termine.- Lunna não teve certeza se ele falava sério, ou se havia um humor embutido em sua voz. Sempre fora boa ao decifrar as verdades ocultas por trás de cada tom de voz, mas no momento, estava nervosa demais para se concentrar em qualquer coisa que fosse.
- pois saiba que o seu amigo é um cúmplice primordial, do que o senhor chama de crime. Reconhecerá a noiva dele quando a vir. E deve saber que ele esteve na Itália no mesmo período em que partimos de lá naquele navio. Deveria mesmo falar com ele sobre isso.
O par finalmente chegou ao altar, e agora estavam de frente para toda sociedade, portanto, o assunto teve que ser encerrado. Neste momento, a noiva fez a sua entrada triunfal, e por mais que a admirasse e até se emocionasse com a cerimônia, Lunna sempre esteve consciente da presença masculina ao seu lado, a puxando como um ímã, hipnotizando o seu subconsciente sem sequer dizer uma palavra, e ela realmente o odiava por isso.
Quando a cerimônia terminou, e os noivos fizeram sua caminhada até a carruagem, onde receberam uma chuva de arroz, Lunna mais uma vez os seguiu ao lado do visconde, pelo menos essa seria a última vez que teria que fazer isso em função do casamento. Enquanto caminhavam, notou quando o lorde Severn se aproximou mais do que deveria, e ao seu lado, ela sentiu o calor que vinha do corpo dele.
- a senhorita está esplendorosa, mas, ainda não fomos formalmente apresentados, lady...
- sinto desaponta-lo, não sou uma lady, milorde. Me chamo Lunna Lowell e sou a criada pessoal da nova duquesa. Também somos boas amigas, é claro.
- uma criada?- o visconde parecia realmente surpreso com aquela informação, as poucas vezes em que tinha visto Lunna foram vestidas como um cavalheiro ou de forma extremamente elegante, como estava agora, e nas pressas do seu amigo Andrew, para casar, m*l conversou com ele sobre o seu par.
- exatamente, milorde, uma criada. - era sempre a mesma coisa, e isso já não a chocava mais. Era bem tratada e recebia sorrisos bajuladores, porém, apenas até descobrirem que não era uma lady. Só não esperava que fosse se ressentir tanto, ouvindo aquelas mesmas palavras pela boca do visconde de Severn.
- perdoe-me, eu não quis ser grosseiro.
- não se preocupe, eu já estou acostumada com isso.
Ele a observou por alguns instantes, com um olhar que ela também não soube decifrar e os dois chegaram até a carruagem que os levaria até a festa, juntamente com vivienne e james.
Quando entrou na carruagem, Lunna notou um rubror excessivo na jovem atriz, e a aproximação do lorde Clifford ao seu lado. Não era difícil imaginar o que estava rolando ali, mas Lunna optou pela discrição e permaneceu calada. Como era o seu acompanhante aquela noite, lorde Severn preferiu acompanha-la na carruagem de James até o local da recepção, onde já haviam cadeiras reservadas na mesma mesa para os dois.