Lili Harris
Ainda encolhida aqui, eu não consigo deixar de olhar para essa cena de terror absurda em completa confusão. Como que uns cuidados cosméticos dá nisso aqui? Era apenas cuidados com os cabelos e corpo, algo normal para qualquer pessoa e agora, eu vejo três corpos banhados em sangue nesta sala.
Esse lugar nunca mais será o mesmo para mim.
É muito evidente os ferimentos causados pelos tiros. Uma delas está com um buraco negrö no meio da testa e a outra, bem na garganta e o rosto está virado para mim. Os olhos estufados na minha direção, com sangue escorrendo pelo pescoço e boca. Se não fosse esses homens, eu não sei o que seria de mim agora.
— Ela está viva... — Ouço ao longe. — Administraram alguma coisa nela... — Um deles vem passando e eu me encolho mais. — Está a salvo, senhorita Harris. — Eu não me mexo e nem consigo olhar para ele. — Está me ouvindo? — Ele se agacha. — Elas estão mortäs... não vão lhe fazer mäl.
— E-elas... iriam me... — Eu nem consigo pronunciar isso.
— Não vão mais! Mantenha a calma que não tem mais perigo. — Ele insiste em chamar a minha atenção. — O senhor Baldoni já está sabendo do ocorrido e está vindo... Dina está bem. Apenas sedaram ela. — Pelo menos é uma notícia boa. — Quer ajuda?
— Não! — É a única resposta rápida que tenho.
Ele apenas acena e se levanta me deixando. Eles conversam entre si e mais outros deles entram para vigiar a porta e olhar o local. Eles começam a vasculhar o que as mulheres trouxeram e eu vejo daqui sem conseguir pensar em nada. Eu estou pelo menos tentando não olhar para os copos. Mas não é fácil.
Fora que eu já estou sentindo um cheiro estranho em mim. É do sangue.
Eu não paro de relembrar do meu desespero. Esses homens foram muito ousados, pois num movimento errado, seria eu ali no chão. A mulher que me puxou estava bem atrás de mim e mesmo assim foi atingida na testa por uma bala. E se ele tivesse errado?
Eu quase morri.
— Não tem muita coisa... mas tem essas ampolas. — Um deles comenta. — O senhor Baldoni vai gostar de ver isso... pelo jeito, não queriam matá-la. — Um deles me olha. — Provavelmente, queriam levá-la e isso se fortifica por Dina está viva.
Ouvir isso me faz lembrar do que ouvi de uma delas.
“Flávio só quer que você chegue a ele... viva e intacta. Garanto que não vamos machucá-la... só vai dormir um pouco.”
Flávio não vai descansar até colocar as mãos dele em mim e eu não sei mais como posso fugir dele. Como que ele soube que estou aqui? Como conseguiu fazer com que entrassem aqui e me atacassem? Até onde o poder dele vai?
Por nunca ter visto nada parecido com isso, eu ainda me sinto petrificada e o meu coração bate como se fosse rasgär o meu peitö. Lágrimas escorrem pelo meu rosto eu vejo os respingos de sangue pelos meus braços e outros na minha roupa. Eu nem imagino como deve estar o meu rosto e cabelo. Eu sinto que tem.
Os minutos vão se passando e eles continuam a olhar outros objetos. Eles não deixam passar nada e começam a falar entre códigos. Eles ainda não mexem nos corpos e penso que é para Gustavo Baldoni ver.
Eu espero de verdade nunca mais passar por algo assim.
— Mas que merdä aconteceu aqui? — Gustavo chega furioso e eu me levanto e me apoio na parede. — Está ferida, Lili? — Eu negö com a cabeça. — Ótimo! Vá para o quarto e não saia de lá... — Ele me encara se enfurecendo mais... — Ouviu, garota? Anda... para o quarto. Agora!
Eu não espero mais ouvir alguma grosseria e corro fugindo do local. Já no quarto, eu tranco a porta e me apoio nela me tremendo toda por um filme de tudo se repetir nos meus olhos. Em desespero, eu começo a puxar a minha roupa por sentir uma náusea grande e vou ao banheiro para tirar isso tudo.
Nunca mais visto aquela roupa na minha vida.
Eu fico debaixo do chuveiro para um banho quente e uso a esponja com bastante força para tirar qualquer resquício de sangue. Eu lavo os cabelos umas cinco vezes seguidas, me esfrego com a esponja umas quatro vezes e só paro ao notar a minha pele vermelha. Está ardendo.
Saindo do banho, eu procuro uma roupa melhor e visto um tipo de pijama. Ele é uma calça de algodão marrom bem confortável e a blusa tem mangas longas. Eu fico aqui no quarto, nem pensando em sair. Mas, eu penso em Dina. Será que ela está bem mesmo? Será que está de pé?
Espero que sim.
{ . . . }
— Lili? Abre a porta... — Ouço batidas. — É o Gustavo, querida.
Eu juro que repenso se abro ou não, mas eu atendo. Ele nunca me machucou e apesar de ter ficado bravo antes, eu acho que foi pela situação.
Eu dou de cara com ele que parece mais tranquilo.
— Como você está? Melhorou? — Ele me olha de cima a baixo, procurando alguma coisa.
— Não muito. O susto foi grande e nunca passei por aquilo. — Ele acena. — E Dina?
— Ela acordou, mas eu pedi que a levassem para casa. Aplicaram uma dose grande de tranquilizante nela... — Coitada, penso eu. — Ela vai ficar indisponível por uns dois dias ou mais, porque ainda não sabemos o que mais pode ter naquelas ampolas. O plano era lhe abater e lhe colocar dentro de uma das malas... — Eu fico perplexa com tudo ainda. — Venha... você precisa ver uma coisa.
Ele vai à frente e eu o sigo logo atrás com cautela em cada passo. No começo do corredor, eu já não vejo mais a bagunça que estava, muito menos os corpos. Tudo está limpo e organizado como antes, ou mais limpo. Os móveis estão no lugar, o aroma do ambiente é de limpeza e tudo que aquelas malucas trouxeram não está mais aqui.
Mas eu vejo um homem alto e forte parado mais à frente. Mãos para trás, postura ereta e um rosto sem expressão alguma.
— Esse é o Raviid. Ele vai ficar aqui por dentro sempre que alguém passar por essa porta e ele vai garantir a sua segurança. — Gustavo explica. — Ele não vai sair de perto de você e na porta tem mais dois homens. O lugar é cercado..., tem homens por todos os lados e em qualquer sinal, eles entram.
— Entendi... — Sussurro tentando pensar.
— Ótimo! Por causa desse ataque, o casamento será adiantado e se prepare... — Eu engulo em seco. — Não podemos mais perder tempo, porque se casando, você já se muda e sai do país... Flávio nem vai sonhar.
— C-como ele soube que... que eu estou aqui? — É isso que não entra na minha cabeça.
— Ele tem muitos recursos na palma da sua mão e deve ter mandado me seguirem... o resto foi só juntar fatos. — Aquele homem não tem limite mesmo. — Por isso precisa se casar. Eu ligarei avisando, porque Alex exigiu que o casamento seja feito sendo representado pelo advogado dele que está fora do país. — Eu nem sei mais o que perguntar. — Bom, eu tenho que ir. Você está segura e já temos outro protocolo...
Gustavo se despede com apenas um aceno leve de cabeça e sai. O Homem, o tal de Raviid, o segue e a porta é fechada me deixando sozinha aqui.
Só agora é que eu vejo o Caramelo vindo meio assustado e eu tento me acalmar com ele.
É tudo que eu tenho!