- ENTRANDO NA CIDADE DA SUCATA

1536 Palavras
Ponto de vista de terceira pessoa Após chegar em seu alojamento na BioCom, Kira nota o relatório sobre sua cama. Uma batida na porta e ela vê o novato em frente à sua porta. Kira se virou para o novato, sua voz firme, cortante, sem espaço para questionamentos: — Vamos partir em duas horas. Sem esperar resposta, fechou a porta para se preparar, sua mente já imersa na missão. Precisava estar em sua melhor forma. Tomou um banho quente para relaxar os músculos e dissipar qualquer tensão desnecessária. Depois, seguiu para o refeitório e fez uma refeição reforçada, ciente de que os próximos dias na Cidade da Sucata não lhe dariam o luxo de um bom descanso ou de uma alimentação decente. Revigorada, retornou ao quarto e sentou-se diante do relatório da missão fracassada. Abriu os documentos e começou a analisar cada detalhe com olhos de predadora. A missão anterior havia sido realizada no porto de Manaus, onde um time de Sicarios foi enviado para interceptar o alvo antes que ele fosse extraído da cidade. O grupo de ataque—liderado por um dos Sicários que agora estava sob forte escrutínio—tinha a missão de impedir que Barney, o Sicário contratado para a extração, escapasse com o alvo e o projeto roubado da BioCom, uma arma biológica perigosíssima. A situação parecia controlável no início. O grupo de Barney estava carregando caixas com mercadorias para dentro de dois veículos de Impulso Vetorial quando o time de assalto lançou a investida. O fator surpresa deveria ter sido a chave para a vitória, mas o que aconteceu foi um desastre. A falha fatal veio da liderança incompetente. O líder da missão subestimou a necessidade de uma posição estratégica e se colocou longe demais para oferecer suporte. Sem sua supervisão direta, os atiradores avançaram sem um plano sólido e acabaram sendo pegos de surpresa. Antes que pudessem reagir, dois Sicários foram abatidos à queima-roupa por uma segurança que parecia ser mediana. Quando o líder finalmente percebeu seu erro e tentou corrigir a posição, já era tarde. Barney se aproveitou do caos da emboscada mäl-executada para agir rapidamente. Com precisão cirúrgica, infiltrou-se no meio do tiroteio, alcançou um dos veículos de Impulso Vetorial e partiu sem qualquer resistência significativa. O líder da operação furioso e tentando salvar o que restava da missão, eliminou alguns capangas do grupo inimigo que ficaram para trás. No entanto, nenhum deles carregava informações úteis sobre para onde Barney havia levado o alvo. O ataque foi um fracasso completo. Agora, a situação era ainda pior: o alvo estava escondido na Cidade da Sucata, onde tinha um contato esperando para comprar o projeto roubado. Kira fechou o relatório e massageou as têmporas. Tudo aquilo poderia ter sido evitado com um plano melhor. Mas agora era sua responsabilidade corrigir os erros dos outros. Não haveria segundas chances. Respirou fundo, levantou-se e começou a se preparar. Em duas horas, estaria partindo para o inferno, e o pior, sob a companhia do Sicário que falhara na missão de impedir a extradição. Pouco antes de partir, enquanto ajusta os últimos detalhes em sua moto, Kira percebe Alessandro se aproximando. Sua presença imponente dispensa formalidades. — Kira, após finalizar essa missão, preciso que me acompanhe até Brasília — diz ele, a voz firme, sem margem para questionamentos. Kira levanta o olhar, surpresa, mas logo esboça um sorriso contido. — Claro, Sr. Alessandro. Como o senhor quiser — responde, sabendo que não tem escolha, mas, no fundo, gostando da ideia de passar mais tempo com ele. Antes que a conversa pudesse se estender, Douglas surge apressado, interrompendo-os sem qualquer cerimônia. — Kira, preciso do relatório completo da missão na Europa — exige, os olhos cravados nela. Kira mantém a postura profissional e responde sem hesitação: — Já repassei os relatórios para o Sr. Alessandro. Douglas franze a testa, visivelmente contrariado. Seu olhar vai de Kira para Alessandro, carregado de desconfiança. — E por que eu não recebi uma cópia? — questiona, tentando manter a compostura. Alessandro, o vice-diretor, nem sequer vacila antes de responder. — Porque sou eu quem decide para onde vão os relatórios e quem tem acesso a eles. Você é apenas o primeiro secretário, Douglas. Saiba se colocar no seu lugar. A expressão de Douglas se fecha em raiva contida. Ele odeia ser deixado de fora, e sua curiosidade sobre os cibermembros de Kira cresce ainda mais. Mas agora, sem tempo para arrancar respostas, ele teria que encontrar outra forma de saciar sua inquietação. Kira se despede de Alessandro e Douglas sem demonstrar qualquer incômodo ou preocupação com os pormenores entre os dois. Em seguida, monta em sua moto, dá a partida e segue até o ponto de encontro. No local, encontra Killey, que já está munido das informações sobre a falha. Sem perder tempo, Kira o intimida: — Esta operação é minha. Aqui, você obedece. Se eu mandar você morrer, você morre. Se eu mandar que não o faça, assim será. Se me desobedecer, estará sujeito a uma punição para a qual garanto que não estará pronto. Kira desce da moto e se embrenha no mato até chegar a uma árvore próxima à entrada da Cidade da Sucata. O tronco é oco e grande o suficiente para esconder duas motos ou até mesmo um carro. Sem rodeios, ela ordena: — Ponha sua moto aí também. Killey obedece de imediato. Kira esboça um meio sorriso e comenta, a voz carregada de sarcasmo: — Pelo menos aprende rápido. Com as motos devidamente escondidas no interior da árvore oca, Kira e Killey se preparam para observar a entrada do túnel que dá acesso à Cidade da Sucata. A vegetação ao redor é densa, proporcionando uma cobertura natural perfeita para que possam espiar sem serem notados. O cheiro de ferrugem e óleo queimado paira no ar, misturando-se à poeira fina que se ergue a cada brisa. Não demora muito para que uma picape monstruosa chegue, rugindo como uma fera mecânica. O veículo é enorme, com suspensão elevada e pneus reforçados para atravessar terrenos hostis. A lataria está suja de barro seco e apresenta marcas de balas, cicatrizes de confrontos passados. Dentro da picape, quatro brutamontes fazem algazarra, rindo alto e trocando empurrões como se fossem donos do lugar. Eles vestem roupas surradas, mas reforçadas com placas de metal e couro, sugerindo que não são simples viajantes. Cada um carrega pelo menos uma arma visível — facões enferrujados, pistolas velhas e até uma espingarda de cano curto apoiada no painel do veículo. Ao se aproximarem do posto de controle da entrada do túnel, um deles estende um documento amassado para o segurança. Kira não espera para entender o que está acontecendo. Seus instintos falam mais alto. Com um movimento ágil e preciso, ela aciona o gancho embutido em seu ciberbraço. O mecanismo dispara com um estalo metálico, e o cabo se desenrola velozmente até que o gancho se prende firme nas ferragens próximas ao escapamento da picape. Antes que Killey possa reagir, Kira já está sendo puxada na direção do veículo. No último instante, ela dobra o corpo e se agarra às barras de sustentação do chassi, deslizando para debaixo do carro com uma destreza impressionante. Graças à altura elevada da picape, há espaço suficiente para que ela se acomode entre os eixos, evitando contato com as partes mais quentes do motor. O calor e o cheiro de óleo queimado são sufocantes, mas Kira mantém a calma. Acima dela, as vozes dos brutamontes ecoam através do assoalho do veículo. — Esses otários nunca vão questionar esse passe. — Um deles ri. — Desde que paguemos bem, ninguém pergunta nada — responde outro, batendo a mão contra o painel. A picape avança lentamente em direção ao túnel. Killey, ainda escondido no mato, engole em seco. — Ah, mërda… Ele olha para a picape se afastando e sabe que não tem escolha. Com pressa, puxa seu próprio gancho improvisado — um dispositivo rudimentar, nada tão avançado quanto o de Kira — e dispara. O gancho se prende a uma das barras do chassi, mas não tão bem quanto o dela. Quando o cabo se tensiona, Killey é puxado com menos controle do que gostaria. Ele se choca contra o solo, ralando os braços e batendo o ombro contra uma raiz exposta. A dor o faz ranger os dentes, mas ele não pode parar. Com um esforço desajeitado, ele tenta se agarrar às ferragens enquanto a picape avança. Seus pés deslizam na terra solta, e por um instante ele quase perde o equilíbrio, o peito raspando no metal quente. — Dröga, dröga, dröga! Ele finalmente consegue se firmar, respirando pesado. O ombro lateja, e ele sente algo quente escorrer pelo braço — sangue. Provavelmente um corte fëio, mas nada que o impeça de continuar. Abaixo da picape, Kira percebe sua presença. — Tsc… Você quase estragou tudo. — Ela sussurra, sem esconder o tom de desprezo. Killey solta um riso nervoso, tentando ignorar a dor. — E eu consegui, não consegui? Ela revira os olhos, mas não responde. A picape segue seu caminho para dentro do túnel. Agora, os dois estão dentro. E seja lá o que os espera na Cidade da Sucata, não há mais volta.
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