- CONTATO SECRETO

1660 Palavras
Ponto de vista de Logan Analisa sorri, um sorriso cínico, quase divertido. Teresa e eu trocamos olhares, nossas mentes trabalhando a mil por hora. Se são irmãs, então traçar o perfil familiar e descobrir as origens de Kira será muito mais fácil. Teresa parece hesitante, sem querer interromper o que, aparentemente, é um reencontro familiar. Mas minha mente já está processando informações rápido demais para ignorar a discrepância. Nos arquivos da Europa, quando invadimos a Vortoli e resgatamos Analisa, descobrimos que ela era uma cobaia havia pelo menos dez anos. Já Kira… segundo os registros, ela foi cobaia por apenas quatro anos. Algo não bate. Kira é mais velha que Analisa. Se os dados estiverem corretos, isso significaria que ela foi capturada quando tinha apenas seis anos. Minha cabeça entra em parafuso. O estômago revira. As informações se embaralham na minha mente como peças de um quebra-cabeça que simplesmente não se encaixam. Algo está muito errado nessa história. Teresa percebe meu olhar perdido e se adianta, quebrando o silêncio incômodo. — Logan, essa é Aurora. Ela é meu contato secreto dentro da BioCom. Meus olhos se fixam na mulher que se aproxima com passos firmes, mas hesitantes. Seu olhar oscila entre mim, Teresa e Analisa, avaliando a situação como se tentasse decifrar um enigma perigoso. Ela estende a mão para me cumprimentar. Aperto sua mão, sentindo a rigidez de seus dedos. — Então você é Logan. — Sua voz é controlada, mas há uma tensão oculta ali. Seus olhos se estreitam ligeiramente antes de ela voltar-se para Teresa. — Estou ajudando você a descobrir coisas… mas, pelo visto, tem coisa sendo escondida de mim, não é, Teresa? A acusação é direta, carregada de desconfiança e um toque de amargura. Teresa encolhe os ombros, desviando o olhar por um instante. — Espera aí… — Teresa começa, coçando a nuca e soltando um suspiro carregado de tensão. Sua voz sai hesitante, como se cada palavra fosse um passo em falso. — Eu fiquei sabendo por alto sobre a possibilidade de Analisa ser parente da Kira… mas nem pensei muito sobre isso. Quero dizer, onde isso ligaria você a ela? Isso foi há dois dias. As informações que tenho sobre Kira não apontam nenhuma conexão com você… Só que… com tudo acontecendo, acabei não dando tanta importância. Sua voz vai se apagando, como se quisesse desaparecer dentro das próprias palavras. Seu corpo se encolhe, os ombros se curvando como se estivesse se preparando para um golpe inevitável. Aurora cruza os braços, e seus olhos se tornam lâminas afiadas. — Dois dias? — Sua voz é uma faca fria cortando o ar. — DOIS DIAS?! Dá um passo à frente, a respiração se acelerando. — Você simplesmente… esqueceu de me contar que encontraram uma cobaia ligada à Kira? — Sua voz falha por um segundo antes de ganhar força, carregada de um misto de incredulidade e fúria. — Você sabia que estou te ajudando porque desconfio que Kira é minha irmã morta! E você… simplesmente deixou passar?! As palavras saem rápidas, atropeladas, como se estivessem tentando alcançar o tempo perdido. Quando termina de falar, Aurora está esbaforida, o peito subindo e descendo em respirações irregulares. O silêncio que se segue é avassalador. Ele pesa no ar como uma tempestade prestes a desabar. Eu respiro fundo, tentando organizar os fragmentos dessa história caótica. Há algo grande por trás disso tudo. Algo que ainda não conseguimos enxergar. Mas não podemos perder tempo. Tomo a dianteira, minha voz cortando o silêncio: — Aurora, Analisa… vocês têm outros irmãos ou irmãs? As duas se entreolham. Seus olhos brilham com uma mistura de lembranças e medo. Então, voltam-se para mim e acenam positivamente. — Sim… — Aurora engole em seco antes de continuar. — Tínhamos uma irmã do meio. Mas ela morreu em um atentado. Ela hesita, seus olhos fixos no chão como se revivesse cada detalhe do passado. Então, num fio de voz, acrescenta: — Amanda Figueiredo. Um arrepio sobe pela minha espinha quando ela completa: — Eu sou Aurora Figueiredo… e essa é Analisa Figueiredo. Silêncio. Mas algo na maneira como ela fala me diz que ainda há mais. — Só que… — Aurora começa a gaguejar. Pela primeira vez, seu rosto perde a frieza habitual. Seus olhos estão vermelhos, úmidos, brilhando com lágrimas contidas. — Nossos pais… e… Analisa… foram dados como mortos. Sua respiração vacila. Os lábios tremem. — Nossa mãe… tava grávida. A voz dela se desfaz em um soluço sufocado. — Nosso irmão… E então, como uma represa que finalmente cede, as lágrimas rompem. Grossas, pesadas, escorrem pelo rosto de Aurora sem controle. Ela tenta continuar, mas sua garganta se fecha. A dor que ela carregava há tanto tempo finalmente transborda, transformando-se em lágrimas silenciosas que caem sobre um passado que, até agora, ela tentava esquecer. Engulo em seco, sentindo o peso esmagador do momento. Tento encontrar palavras para confortar Aurora, mas sei que nada que eu diga será suficiente para amenizar a dor que ela está sentindo. Ela tenta continuar, a voz embargada, mas antes que consiga, Analisa a interrompe com um tom firme: — Aurora… nós fomos raptados. Nossos pais e eu. Aurora congela, o olhar vidrado na irmã. — Tenho quase certeza de que eles estão vivos — Analisa continua, seu tom carregado de uma convicção sombria. — Mas devem estar na Europa… provavelmente na Alemanha, em uma antiga instalação militar. Ela faz uma pausa, como se estivesse revivendo cada fragmento de memória antes de seguir. — Eu era mantida em coma constante pela Vortoli, enquanto experimentavam em mim. O silêncio pesa entre nós. Então, sua expressão se obscurece. Há algo mais… e ela então simplesmente confirma nossa suspeita. — Mas eu já era cobaia da Elitech há muito tempo. Aurora arregala os olhos, como se tivesse levado um soco no estômago. — Como assim?! — Sua voz sai num sussurro atordoado. — Você era aluna de uma das instituições mais renomadas da Europa! Analisa solta uma risada amarga, sem humor, sem alegria. Ela abaixa o olhar, os punhos cerrados. — Você realmente acreditava nessa bobagem? Há uma dor profunda em sua expressão, uma mágoa que se arrasta há anos, oculta sob mentiras bem elaboradas. Aurora dá um passo à frente, agarrando as mãos da irmã com desespero. — Por que nunca nos contou?! Sua voz é exasperada, carregada de uma mistura de raiva e dor. — Não ia adiantar. — Analisa responde, sua voz carregada de um pesar sufocante. Ela encara Aurora com olhos sombrios, antes de lentamente retirar suas mãos das dela. — Depois do que nossa irmã fez… não importava o que eu dissesse. Eu teria que continuar na instituição. E fazer exatamente o que eles queriam. Aurora abre a boca para retrucar, mas Analisa continua, um brilho frio nos olhos. — Eu sou uma cobaia, Aurora. Sempre fui. Não era uma aluna de elite, era uma peça no jogo deles. E agora que escapei… Ela solta um suspiro pesado, a voz embargando com um misto de raiva e medo. — Eles querem me recuperar. O silêncio que segue é como um soco no peito. — Eles não desistiram de você? — Aurora sussurra, os olhos arregalados em choque. — Nunca. — Analisa responde com um tom sombrio. — Para eles, eu sou preciosa demais. Aurora dá um passo para trás, como se precisasse de espaço para absorver aquilo. — Mas… como você escapou? — Kira e a equipe dela me tiraram de lá. Se não fosse por eles, eu ainda estaria presa. O nome de Kira paira no ar como um prenúncio de tempestade. A Elitech quer Analisa de volta—isso só pode significar que eles vão caçá-la. Mas por quê? Por que ainda não conseguiram capturar Kira? E o mais perturbador: como diabos eles têm acesso ao projeto completo dela? As perguntas se atropelam na minha mente, formando um nó sufocante de dúvidas. Antes que eu consiga organizar meus pensamentos, Analisa me encara com um brilho enigmático no olhar e solta a bomba: — Vocês não sabem nem metade do que Kira é capaz. Esse parasita nela... tem mais de mil anos. O mundo ao meu redor parece girar. Minha garganta seca. Meu coração martela contra as costelas. — Não... não pode ser — murmuro, tentando encontrar um fiapo de lógica. — Kira é Amanda! Ela nasceu dos pais dela, vocês são irmãs! E você tá me dizendo que aquele... aquele negócio na coluna dela tá ali há mais de mil anos?! Minha própria voz me trai, carregada de descrença e medo. Meus pensamentos se despedaçam, se tornam ecos desconexos em meio ao turbilhão da revelação. Se isso for verdade… então quem—ou o quê—Kira realmente é? Mas dúvidas e incertezas povoam minha mente. Como Analisa sabe tudo isso, estando em coma por anos? Como se pudesse ler meus pensamentos, Analisa responde antes mesmo que eu pergunte: — Eu não estava em coma. Eu estava dentro da rede o tempo todo. Onde houvesse uma câmera, um computador ou até mesmo apenas eletricidade, parte da minha consciência estava lá. Sinto o ar me faltar, como se tivesse levado um soco no estômago. Do que ela está falando? Não era só a rede? Apenas eletricidade já basta? Então ela viaja na velocidade da luz e do pensamento? A ideia parece absurda, mas faz sentido de um jeito perturbador. A eletricidade, em sua essência, é um fluxo de elétrons através de um condutor, e os sinais digitais são codificados como pulsos elétricos que percorrem circuitos eletrônicos e redes de comunicação. Em teoria, se a consciência dela estivesse integrada a um sistema digital avançado, capaz de interpretar e manipular esses sinais em tempo real, ela poderia se espalhar por qualquer infraestrutura eletrificada, navegando pelos fios de transmissão, saltando entre dispositivos conectados e expandindo sua percepção para qualquer ponto alcançável por impulsos elétricos. Se essa tecnologia realmente existe... Analisa é uma arma tão perigosa quanto Kira.
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