7 - Acordo incomum

1253 Palavras
Giorgia Chegamos ao segundo dos três andares da casa. Um longo e elegante corredor se estendia à nossa frente, cruzando com outros três corredores, cada curva levando a mais cômodos. Eu estava começando a entender o que Atlas quis dizer quando afirmou que o lugar era mais do que grande o suficiente para todos eles. Passamos por alguns outros funcionários, todos ocupados limpando ou carregando suprimentos de um lado para o outro. — O que você achou dos Langford? — perguntou Mathilde de repente. — Eles parecem simpáticos, não? Ela riu antes que eu respondesse. — “Simpáticos” é o que a gente diz de pessoas que não sabe bem como descrever, não é? De qualquer forma, os três são bons homens. Podem ser durões e exigentes à própria maneira, mas tenho certeza de que você vai encontrar um jeito de navegar esse relacionamento com eles. A forma como ela enfatizou a palavra navegar me deixou hesitante. Mas não tive tempo de perguntar o que exatamente ela quis dizer com aquilo. Paramos em frente a uma porta aberta, e uma rápida olhada para dentro confirmou que era o quarto de Brian. Era adorável: grande, espaçoso, com janelas compridas que se abriam para a paisagem verdejante nos fundos da propriedade. Um jardim cuidadosamente esculpido se destacava no centro. As paredes do quarto eram pintadas de azul-claro, com desenhos de caminhões de bombeiros, tratores e outros veículos de construção. — Aperte este botão aqui — disse Mathilde, apontando para um pequeno painel eletrônico ao lado da porta. — Observe. Ela tocou a tela, apertou um botão e depois outro. A janela escureceu gradualmente, como se estivesse sendo preenchida com tinta. Em segundos, o quarto estava tão escuro quanto uma caverna. — Já deixei tudo pronto antes de você chegar, então não precisa se preocupar com isso. Pode deitá-lo. Assenti e tirei delicadamente os sapatos de Brian, levando-o até a caminha. Enquanto me movia, senti a parte de trás do pescoço formigar — aquele instinto inconfundível de que Mathilde me observava, avaliando minha técnica. — Tudo bem, campeão. Hora da soneca. Deitei-o com cuidado. Mesmo dormindo, ele esticou os bracinhos e agarrou um dinossauro de pelúcia que estava por perto, abraçando-o com força. Felizmente, não precisei fazer muito — bastou deitá-lo para ele se entregar ao sono por completo. Puxei o cobertor sobre seu corpinho e esperei alguns instantes para ter certeza de que ele não acordaria. — Isso é bom — disse Mathilde, pousando a mão no meu ombro e acenando com a cabeça. Fomos até a porta e saímos em silêncio, fechando-a atrás de nós. Assim que estávamos de volta ao corredor, ela continuou: — Há um monitor. Vou garantir que ele esteja conectado ao seu celular. Mas, por enquanto, deixe-me levá-la até o seu quarto. Por aqui. Mathilde girou nos calcanhares e começou a andar com passos decididos. Apesar de ser mais baixa que eu e visivelmente mais velha, movia-se com surpreendente agilidade. Mesmo sem mais carregar uma criança de dezoito quilos, eu ainda precisava me apressar para acompanhá-la. — Como pode ver — disse ela, apontando ao redor para os corredores impecáveis —, nossa equipe trabalha duro para manter tudo limpo e organizado. Os Langford prezam muito por isso, e nós nos esforçamos para manter o padrão. Ela estava certa. A casa parecia tão limpa que era difícil acreditar que alguém morava ali. — Embora sua principal obrigação seja com Brian, ainda assim espero que se comporte de forma discreta. Não deixe bagunça quando puder evitar, e limpe aquilo que sujar. Sim, há funcionários para cuidar da cozinha, mas isso não significa que você não deva limpar caso decida preparar sua própria comida. — Parece justo. Chegamos ao fim do corredor. Ela parou em frente a uma porta e se virou para mim, ficando de frente, como se estivesse guardando a entrada. Só abriria se dissesse o que ela queria ouvir. — Seu acordo com os Langford... é bem incomum. Entrar para a equipe normalmente é um processo demorado. Mas o senhor Átila pareceu bastante impressionado com você só com uma ligação, e sei que você também tem uma ligação com a filha dele. Ainda assim, estará hospedada aqui, na casa principal, o que não significa que estará fora da minha supervisão. — Claro — respondi, mesmo sem entender exatamente onde ela queria chegar. — Se tiver problemas ou preocupações, venha até mim. Os Langford têm muito com o que se ocupar. Você está aqui para ajudar Brian e facilitar a vida deles. — Isso mesmo. E quero ser um m****o sólido da equipe. Ela assentiu devagar, como se eu tivesse passado em um teste invisível. — Digo isso porque, vivendo aqui com a família e não na casa dos funcionários, você terá um pouco mais de independência. Não abuse disso e não desperdice a confiança que depositaram em você. Estamos entendidas? — Sim. Quer dizer... sim. Com um último aceno e um leve sorriso cúmplice, ela se virou e abriu a porta. Arregalei os olhos. O quarto era imenso. As cores eram todas em tons de branco e bege, limpas e suaves. As paredes externas eram inteiramente de vidro. De um lado, uma escrivaninha elegante; do outro, uma cama enorme com lençóis macios. Um closet espaçoso e, adiante, um banheiro particular com banheira, chuveiro separado e muito espaço. Meus olhos brilharam ao ver a vista: dava para a frente da propriedade, com a grama verdinha, a piscina de borda infinita e, ao longe, a cidade, a praia e o mar. Corri até a janela, encantada com a paisagem. — Como pode ver, este quarto é bem confortável. Você ficará aqui pelos próximos meses, então sinta-se livre para decorá-lo como quiser. Suas malas já estão no closet. E este painel ao lado da porta controla a iluminação e o tom das janelas. É bem intuitivo. Mathilde tocou no painel, revelando um menu digital. Com alguns toques, as janelas escureceram exatamente como as do quarto de Brian. Mais alguns comandos e a luz voltou, inundando o quarto. — Os quartos são à prova de som e têm sistemas de som embutidos. Você pode conectar seus dispositivos. Tudo é ativado por voz. Basta falar com o quarto. Ainda há muito a aprender sobre a tecnologia da casa, mas você parece uma garota inteligente — tenho certeza de que vai se virar bem. Agora, se me dá licença... — Obrigada, Mathilde. Estou feliz por estar aqui. Ela me lançou um último olhar cético. — Sim, bem... faça seu trabalho, e tenho certeza de que todos nos daremos bem. Com isso, ela fechou a porta e foi embora. Caminhei até a cama e me joguei nela, um sorriso bobo no rosto. — Hum, quarto? Pode abrir uma janela? Um som suave ecoou e uma das janelas se abriu levemente, deixando entrar o ar fresco e salgado do mar. Deitada ali, pensei nos irmãos Langford. Era incrível como todos eram bonitos. Atlas era deslumbrante, mas Artem e Átila também não ficavam atrás. Claro, nada disso importava. Eu estava ali para trabalhar, não para me envolver com ninguém. Mas isso não queria dizer que eu não pudesse notar. — Você pode programar um alarme para daqui a duas horas? Um leve bip soou, e o horário programado apareceu por um instante no painel. Fechei os olhos, deixando o ar do mar me envolver, sentindo o corpo relaxar na maciez da cama. O que esse verão me reservava, eu não fazia ideia. Mas, com certeza, estava animada.
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