capítulo 02

2145 Palavras
Sinto os braços do meu namorado me abraçando por trás antes mesmo de abrir os olhos. Ele está quase me sufocando por causa do abraço apertado, enquanto a sua respiração suave faz cócegas na minha orelha. Tento sair do seu aperto, mas seus braços musculosos são praticamente uma prisão e não se movem um milímetro. A luz que entra pela janela do quarto faz com que eu veja facilmente o meu celular, que está ao lado do meu travesseiro. Estendo a mão e o pego, antes de traze-lo para perto de mim e liga-lo. Já são oito e meia da manhã, e eu tenho que ir para a escola as nove. Há várias mensagens do meu melhor amigo Tommy, mas decido responde-lo depois. - hey, Diego.- falo enquanto cutuco-o com o cotovelo. - hum...- ele funga na minha orelha, fazendo um arrepio subir pela minha nuca.- que horas são? - oito e meia.- respondo, surpreso por ele ter acordado tão rápido, geralmente dorme tanto que parece está desmaiado ou morto... - O QUE?! – ele levanta da cama rapidamente e fica em pé segundos depois. Está completamente nu e olha para o chão do quarto, procurando suas roupas. Ele pega a cueca boxer branca e tenta vesti-la apressadamente, o que faz com que ele coloque um dos pés no lugar errado, o atrasando ainda mais. Solto uma risada ao ver o meu namorado desastrado sendo desastrado (um pleonasmo necessário). - por que a pressa?- pergunto tranquilamente, antes de bocejar. - eu preciso... Entregar uma pasta de arquivos na faculdade.- diz enquanto pega a calça e a veste ainda mais desajeitadamente do que a cueca (o que é quase humanamente impossível). - não vai nem escovar os dentes antes? - a pasta está na minha casa, eu escovo quando chegar lá. - okay.- murmuro, também levantando da cama para me vestir. Ele me abraça por trás e dá um beijo estalado na bochecha. - até mais tarde baby.- a camisa preta está sobre um de seus ombros, e os sapatênis em uma das suas mãos. - você veio de que mesmo?- pergunto, por quê ele tem um carro e ganhou uma... - vim de motocicleta. Agora preciso realmente ir, se levar a caixa um segundo fora da hora estou ferrado. - caixa? Não era uma pasta?- franzo o cenho e procuro a bendita cueca pelo chão do quarto, ainda morrendo de sono. - err... Acho que me confundi, é uma caixa.- diz saindo do quarto e vestindo a camisa ao mesmo tempo. - tudo bem. Tchau, até mais tarde!- grito, não tendo certeza se ele escutou. Olho para o chão do quarto, desistindo de tentar vestir a calça, até porque eu vou tomar banho e vestir o uniforme mesmo. As caixas se papelão ainda estão espalhadas por todo o quarto e pelo apartamento em si, me fazendo revirar os olhos. Aquele bocó veio aqui para me ajudar a desempacotar tudo e acabamos sem fazer isso. Vou até o guarda roupas e pego uma toalha, agradecendo internamente por ele ter colocado pelo menos as minhas roupas no lugar, estão desorganizadas, mas pelo menos estão aqui. Saio do quarto e vou em direção ao banheiro, quase tropeçando em uma das malditas caixas. Já no banheiro, escovo os dentes rapidamente, antes de tirar a cueca e ficar debaixo do chuveiro, sentindo a água quente passar pelo meu corpo. Lavo o meu cabelo castanho com bastante shampoo, massageando em movimentos circulares até fazer espuma. Depois de uns cinco minutos, saio do banheiro e volto para o quarto, onde visto o meu uniforme escolar e pego minha mochila, antes de caminhar para fora da minha nova casa enquanto tento colocar os fones de ouvido. (****) As ruas da cidade estão movimentadas como sempre, há pessoas andando por todos os lados e em todas as direções, os carros estão praticamente colados uns nos outros e alguns apressadinhos buzinam sem parar. Olho para o relógio no pulso, ainda faltam 15 minutos para entrar na escola. Só não vou chamar um taxi porque em um engarrafamento como esse eu provavelmente me atrasaria, andar os próximos quarteirões é a única soluções. - HEY!- escuto alguém gritar por cima da música alta que sai dos meus fones de ouvido, então olho em volta para ver se estão falando comigo ou com uma das dezenas de pessoas andando na calçada. Vejo meu amigo, Tommy andando uns bons dois metros atrás de mim, então retiro os fones e abro um sorriso para ele. - oi.- digo, parando de andar e esperando para que possamos continuar lado à lado. Tommy é meu amigo desde o 7º ano do fundamental, desde lá ele sempre foi meu melhor amigo. - você já mudou pro seu apartamento não é?- ele indaga, então olho por cima do ombro e encaro seus olhos castanho, antes de confirmar com a cabeça. - isso é ótimo! Não vejo a hora de comprar um lugar só para mim.- nós estamos no 3° ano do ensino médio, com menos de um mês para concluirmos, o que me dá um certo alívio . - você poderia comprar um apartamento lá no meu condomínio, tem vários vagos.- sugiro, com um pouco de medo de nos afastarmos depois que as aulas começarem. - é, talvez eu faça isso.- me animo com essa ideia, ter ele por perto o tempo todo seria legal. Nós continuamos andando apressadamente e falando sobre a formatura, que acontecerá daqui 25 dias. Tenho que lembrar de mandar uma mensagem para meu namorado, para que ele arranje um smoking com antecedência (mesmo cursando direito, acredito que ele ainda não tenha um). Nós chegamos na escola uns 10 minutos depois, ajeito a gravata vermelha (que aquela diretora rabugenta obriga todos à usarem sob a camisa social branca) que está um pouco torta, lembrando-me de enfiar os fones desajeitadamente dentro do bolso da calça azul royal. Tommy e eu subimos os degraus que levam até as grandes portas de vidro da escola, entrando no mar de adolescentes vestindo as mesmas roupas que nós. Piso no pé de alguém sem querer e ao ver que é um dos brutamontes da minha sala, começo à ziguezaguear no meio da multidão, apenas escutando um ‘aaai!’ digo por alguém lá atrás. Eu continuo meio que sendo o nerd da turma, mas o simples fato de ser namorado de Diogo faz com que ninguém me trate com agressividade ou falta de educação, me tornando quase um dos populares, mesmo que meu namorado tenha saído dessa escola à dois anos. - Alex, vai mais devagar.- ouço Tommy falando atrás de mim, então paro bruscamente e espero ele. - desculpa.- cruzo os braços sobre o peito e solto um longo suspiro, ainda bem que falta apenas três semanas para que eu deixe todo esse inferno. - tudo bem, mas é melhor subirmos logo para o terceiro andar, nossa primeira aula é de matemática e aquela bruxa nos mataria e beberia nosso sangue se nos atrasarmos um segundo. - vampiros. - o que?- ele pergunta, franzindo o cenho enquanto andamos. - vampiros bebem sangue, não bruxas.- explico, olhando-o com um sorriso zombeteiro. - quem disse que elas não bebem sangue? Vai que estão tentando invocar alguma entidade maligna... - okay okay.- reviro os olhos, ele provavelmente está disposto à ler uma enciclopédia sobre seres místicos, já que é meio viciado nessas coisas. - hey, que tal irmos ao cinema amanhã??- pergunta assim que chegamos as escadas brancas que levam para os outros andares. - talvez. Amanhã de dou a resposta.- murmuro, já que vou ter que desempacotar todas as caixas, e sozinho!! - okay.- nós terminamos de subir as escadas quase correndo, então entramos no corredor do terceiro andar e começamos à andar rapidamente, olhando fixamente para a porta da última sala à esquerda. Abro a porta da sala e noto que todos os alunos estão sentados em suas cadeiras, a bruxa... Ãh... Quer dizer, a professora está fazendo a chamada. - ainda podemos entrar professora?- pergunta, lançando-lhe o meu melhor sorriso. - hum... Tudo bem, mas da próxima vez, os dois vão ter que ir lá ma diretoria. - obrigado professora.- agradeço, ainda surpreso por ela não nos colocar para fora à pontapés. Eu e meu amigo caminhamos até a nossa mesa (que dividimos desde sempre). Tiro a mochila das costas e coloco no pequeno compartimento debaixo as mesa. - fizeram a tarefa de casa?- ela pergunta, olhando diretamente para eu e Tommy. - sim.- dizemos juntos, antes de começarmos à tirar os cadernos de dentro das mochilas e abrindo na matéria de matemática. Mesmo com todos os livros digitalizados nos nossos computadores, ela insiste em nos torturar e nos obrigar à escrever palavra por palavra no caderno. - ótimo.- a entonação da sua voz mostra que ela está surpresa, o que me faz franzir a testa, nós sempre entregamos nossas tarefas em dia e não deixamos de fazer absolutamente nada em relação as aulas (precisamos de um histórico perfeito para entrarmos na faculdade, que iremos fazer juntos, Tommy é como um irmão para mim). A brux... Professora começa à explicar como podemos achar o resultado de questões complexas sobre estatísticas e equação. Meus olhos estão grudados no telão onde estão os gráficos, preciso urgentemente entender esse assunto para tirar nota máxima e fazer meu boletim continuar perfeito. (****) Quando as aulas terminam já são umas duas horas da tarde, mesmo estando morrendo de fome, a felicidade por agora faltar um dia à menos para as aulas acabarem disfarça qualquer sinal dela. Parece uma coisa insignificante eu sei, mas não vejo a hora de terminar o ensino medio e ficar de férias por alguns meses, antes de entrar na faculdade. - quer uma carona para casa?- meu amigo pergunta assim que cruzamos as portas da escola. O pai de Tommy vem busca-lo algumas vezes de carro. - não precisa, vou andar um pouco.- respondo, enfiando as mãos nos bolsos da calça para tentar achar os fones. - okay, a gente se vê depois.- faço que sem com a cabeça e observo ele andar até o estacionamento, em direção ao carro preto do seu pai. - Tchau!- grito, antes de colocar os fones e clicar em uma música qualquer. Ele olha para trás e fala alguma coisa, e mesmo não tendo escutado, sei que ele devolveu o meu “tchau”. Começo à andar rapidamente pela calçada, escutando uma música da Camilla cabelo. Levo as mãos até a gravata e puxo-o para baixo, de modo com que ela fique super folgada e pendurada no meu pescoço de um jeito desorganizado. Essa coisa estava me sufocando. Queria ter comido alguma coisa antes de vir, mas Diogo me fez dormir até tarde. Minha barriga ronca sem parar, mas o barulho é abafado pelo som dos carros e dos passos apressados das pessoas. Há muitas nuvens no céu, deixando o clima de Los Angeles um pouco abafado. Avisto um fast food na outra esquina, então cruzo a rua (agradecendo por ter uma faixa de pedestres) e vou até lá. O ar frio banha meu corpo um segundo depois que coloco os pés dentro da lanchonete. Olho ao redor e vejo várias mesas vermelhas, com cadeiras acolchoadas ao redor delas. Caminho até o balcão, onde tem uma enorme placa mostrando todo o cardápio. - Bom dia.- digo para o moço atrás do balcão, que está com um avental branco amarrado sobre o uniforme e um boné vermelho, de onde sai alguns cachos negros. - bom dia.- ele responde com um sorriso gentil no rosto (ele provavelmente é pago pra isso também) enquanto pisca vagarosamente os olhos, escondendo os olhos verdes sob os cílios pretos grandes. - eu quero um... Hambúrguer desse aqui- aponto para o cartaz, mostrando-lhe um grande hambúrguer de frango, que faz minha boca salivar. - é pra já!- responde, antes de sumir na porta à esquerda, que provavelmente leva até a cozinha. Tiro o dinheiro do bolso de trás e espero ele voltar com a minha comida. Mais ou menos um minuto depois, ele aparece com o meu hambúrguer dentro de uma daquelas típicas caixinhas de fast food. - aqui está.- diz, estendo a comida para mim. - obrigado.- agradeço, pegando a caixinha com uma mão e estendendo o dinheiro com a outra. Ele pega o dinheiro da minha mão e confirma com a cabeça levemente. Vou em direção à uma das mesas vagas e sento na cadeira confortável, antes de começar à comer. Quando chegar em casa vou ter que fazer alguma coisa para o jantar, não sou nenhum profissional no assunto, mas consigo fazer algumas coisas simples como macarrão, arroz, bolos... Termino de comer uns minutos depois, lembrando-me de pegar um guardanapo e limpar a boca, que estava suja de molho. Saio do fast food e vou para casa, agora com a barriga cheia.
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