Capítulo 04

1453 Palavras
Mariana narrando Eu e a Débora crescemos juntas aqui na favela. A gente era inseparável. Eu, ela, o Guto, e o pescoço, nós quatro pintávamos nesse morro, não dava pra ninguém! Era o quarteto fantástico do terror, quantas janelas nós já quebramos por aí, quanta corrida já deram em nós quatro, e quantas vezes nós fazíamos drama pro tio da padaria depois da aula pra ele dar pão com mortadela pra gente. Nós quatro fomos cria do mesmo beco, das mesmas brincadeiras, das mesmas aventuras. Nossa infância teve muito pique-esconde, muito pé no chão, muita risada, muito sonho. A adolescência trouxe os bailes, os amores, as escolhas. E, no meio disso tudo, aconteceu o que ninguém esperava: eu e Guto. Foi um acidente. Literalmente. Uma noite, uma cerveja, um olhar mais demorado, uma tensão que cresceu… e pronto. Aconteceu. Mas não nos perdemos por isso. Muito pelo contrário. A gente se respeitou ainda mais depois daquilo. O resultado? O grande amor da minha vida: Matteo. Guto, ou melhor, Caveira, é o pai mais presente que eu poderia ter sonhado pro meu filho. Ele nunca mediu esforços, nunca expôs o nosso menino a risco, nunca deixou ninguém chegar perto do Matteo com más intenções. Ele é um monstro na rua, eu sei. Todo mundo sabe. Mas com o filho… com o nosso filho, ele é um leão. Um pai protetor, babão, dedicado. Desde que Matteo era um bebezinho de colo, ele já pegava pra dormir com ele, fazia questão de estar presente. Quantas vezes ele dormiu no sofá aqui de casa só pra ficar perto do Matteo? Incontáveis. A nossa relação? É parceria. É respeito. É amor de pai e mãe por um filho. Só. Eu nunca dei brecha, e ele também nunca forçou nada. Nossa conexão é pelo bem do nosso menino. Mas quem vê de fora, acha que existe algo entre nós ainda. E eu entendo. Porque o Guto é gostoso pra c*****o, convenhamos. Mas eu não sou burra. Eu conheço aquele homem. Ele é surtado. Comigo então? Nossa. Ele me atormenta sempre que eu começo a conhecer alguém. Fica tirando onda, fazendo piada, me inferniza. Não por maldade, mas porque ele é protetor com quem ele ama. E o círculo de amor dele é pequeno. Ele protege como quem mata, e ele mata mesmo, sem piscar. Graças a Deus, eu tenho minha estabilidade. Tenho duas lojas na favela, minha casa, meu carro, minha moto. Tudo conquistado com muito suor, mas com a base que ele me deu. Nunca precisei depender de ninguém além de mim mesma, mas ele fez questão de dar uma estrutura boa pro Matteo. E, mesmo que eu tenha minha profissão, minha correria, minha vida, eu sou MÃE acima de tudo. Me orgulho disso. Eu dedico meu tempo, minha energia, minha alma pro meu filho. E foi por isso que eu decidi colocá-lo logo na creche. Não pra me livrar dele, jamais. Mas porque ele precisava. Eu incentivo demais a evolução dele, e por mais que o Guto ficasse surtado com a ideia, querendo manter o menino debaixo da asa, eu fui firme. Ele entendeu. E confiou em mim. Agora, ver a Débora de volta… p***a, foi como se o passado invadisse o presente. A gente se afastou pela vida. Sem brigas, sem tretas. Só o curso natural de quem toma rumos diferentes. Ela foi pra pista, estudar, trabalhar com o pai. Eu fiquei aqui, tocando minha vida com o Guto e depois com o Matteo. Mas o carinho, a irmandade, sempre ficaram intactos. E quando eu vi ela descendo da caranga com dois filhos… a emoção bateu. Eu não sei o que é tomar um chifre, não sei a dor de ver um casamento ruir com dois filhos no meio. Mas só de imaginar a dor que a Débora tá sentindo, me dói por ela. Porque eu conheço essa mulher. Sei o quanto ela é intensa. O quanto ela sonhou com aquele casamento. E é por isso que agora, voltando pro nosso chão, eu vou estar do lado dela. Eu não vou deixar minha amiga afundar. Se ela tiver que chorar, vai ser no meu ombro. Se ela quiser gritar, a gente grita junto. Se ela quiser sair, dançar, beber, infernizar a vida de quem quer que seja, nós vamos!. A Débora é poderosa, p***a. Rica, linda, empresária, mãe. Uma mulher que qualquer um babaria. E agora ela tá aqui, no morro, no nosso morro. E eu já tô vendo: nós duas vamos voltar a aterrorizar esse lugar igual na época da adolescência. Vamos rodar o Jacarezinho de cima a baixo. Vamos pro baile, pro pagode, levar as crianças no shopping, tirar foto de biquíni na laje. Porque não é porque a vida deu uma rasteira que a gente vai ficar no chão. A Débora vai se reerguer. E eu vou estar do lado dela. Porque amiga que é amiga segura a onda, limpa as lágrimas, dá risada e ainda ajuda a escolher o look pra sair plena pro baile. E pra quem acha que ela voltou derrotada, se prepara. A fênix tá de volta. E o morro vai lembrar quem é a Débora. Aliás… quem somos nós duas juntas. Porque se tem uma coisa que esse lugar vai ver, é duas mães fodas, empoderadas e com o mundo inteiro pela frente. E que se segurem… porque a gente vai causar. Igual nos velhos tempos. E talvez até mais. — tia lembra aquele dia que chamaram a senhora e a minha mãe na escola porque nós quebramos o farol do carro da diretora jogando bola onde não podia ? — eu começo a rir relembrando as nossas histórias As crianças estavam ali comendo juntos, e o mais velho da Débora ajudava o irmão, e o meu ao mesmo tempo, super cuidadoso, isso tudo é reflexo da criação que ela deu pra eles, e eu achei lindo como eles são carinhosos um com o outro, principalmente com meu bebê que é o caçula dos meninos. — lembra aquele dia que tomamos uma latinha de cerveja da minha mãe escondidas e passamos m*l quase fomos pra upa — a Débora fala e a tia bate com o pano de prato em nós duas que estávamos chorando de rir — ai cara a gente pintava — eu falo com ela chorando já de tanta risada — e o dia que o seu Osvaldo viu nós quatro tocando a campainha dele..— eu explodi numa gargalhada — p***a nunca corri tanto aquele dia — ela fala quase caindo da cadeira — ele veio falar comigo tá, que todo dia era essa palhaçada — a tia fala rindo também sem aguentar e eu estava quase me contorcendo de vontade de fazer xixi — vocês vão no pagode hoje, ne ? — a mãe dela pergunta e ela n**a na hora — não mãe, não vou chegar te explorando não, criança dá trabalho, e eu nao vou sair pra curtir e deixar eles com a senhora não, a senhora tem suas coisas também — a Débora fala e a tia me olha e revira os olhos — garota vai se arrumar logo, anda, bora, eu fico com os três, saudade deles aqui em casa — ela fala e eu sei que o Matteo nem vai estranhar — ele fica tranquilo ? — ela pergunta e eu confirmo — só é chato se ver o pai que quer logo aquele troncho, insuportável — eu falo já revirando o olho — quero arrumar um gado pra eu dar hoje, meus contatinho tão tudo com medo do caveira, ele só empata as minha f**a — eu reclamo e elas dão risada — vocês dois não tem jeito não ?— a Débora fala e eu n**o — mas eu lembro que ele te dava umas olhada tá…— eu falo me lembrando que ele era doido nela — eu boto na fita, mas é sentar e vazar, porque aquela p**a tá cada dia numa b****a diferente…— eu falo e ela me dá um se liga rindo — tô fora, vou entrar em celibato — ela fala e eu gargalho — ai garota bora vai escolher um vestido bem p*****a pra gente se acabar — eu falo e ela me olha mordendo a boca — cara eu não sei nem mais me arrumar pra ir nesses lugares, e agora ?— ela fala e eu já entro em ação com a minha mente perversa Hoje eu tiro a paz do caveira, mas vai ser com essa diaba aqui, ele vai ficar malucao quando ver ela no pagode, eu conheço a peça, e ela precisa ser bem fudida pra esquecer a p**a do falecido, eu faço gosto…
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