A noite caiu quente. A TV tá ligada, mas nem sei o que tá passando. Nem ele, eu acho. Desde o jantar, a gente tá ali no sofá, um do lado do outro, em silêncio. Mas não é silêncio vazio. É um tipo de silêncio que vai se esticando, carregado, tenso. Cheio de coisa que não foi dita, mas que tá no ar, como eletricidade antes do trovão. Flávio tá com o braço jogado no encosto, o outro apoiado na coxa. Camiseta preta, calça moletom. O cabelo dele ainda tá úmido do banho, e tem um cheiro forte de sabonete amadeirado que chega até mim toda vez que o vento muda de direção. Eu tô de short e uma blusa fina. Sem sutiã. Só percebi quando ele olhou. Não foi descarado. Foi rápido. Mas foi. E desde então, meu corpo não parou de responder. — Tá com sono? — pergunta, voz baixa, quase rouca. — Um pouco.

