🖤 NARRADO POR AMARA
O tempo deixou de ter nome.
Eu não sabia mais se era terça, quinta ou se o mundo já tinha acabado e só esqueceram de me avisar. Aqui dentro, o relógio é a tranca. E o calendário… é a marmita fria largada no canto.
Regina vinha como quem alimenta bicho que não gosta — só porque precisa.
Ela abria a porta com aquele barulho seco de sempre, o trinco gritando que a humilhação vinha a caminho. Não olhava pra mim. Nunca olhava. Era como se eu fosse sombra grudada na parede ou verme esperando o fim.
Entrava arrastando o chinelo, a marmita balançando na mão, o cheiro de óleo velho anunciando antes dela chegar.
— "Vem, c****a. Bora comer." — ela dizia, jogando o alumínio no chão. — “Ou vai preferir morrer de fome fedendo a merda de poesia?”
Eu não respondia.
Nem ela espe
