O dia seguinte saiu inteiramente como planejado. Jasper buscou a Addison na casa da mamãe ainda antes das 8 horas, onde lhe trocou e a deixou na escolinha. Eu fui trabalhar e consegui me desculpar com a Luísa pelo imprevisto do dia anterior. Ela sorriu e disse sinceros "Não tem problema, senhora."
— Já disse que não precisa me chamar assim. "Safira" já está bom.
— Desculpe, senho... Safira — Corrigiu e eu sorri, me divertindo com a situação.
Algumas horas se passaram e eu recebo um telefonema do Jasper. Eu não consegui atender imediatamente, mas quando a paciente saiu da sala, lhe retornei.
— Sim?
— Ocorreu um crime aqui na estação 101 em direção ao Norte. Não vou conseguir buscar a Addison na escola. Pode fazer isso?
— Claro, posso sim. — Afirmei.
— Certo, obrigado. Vejo vocês mais tarde.
— Tchau. Cuidado! — Disse e desliguei.
Aquilo pareceu um sinal de que eu precisava buscá-la escola. Os próximos minutos que se sucederam pareceram uma eternidade para mim. Quando finalmente faltavam 20 minutos para o fim das aulas, fui embora do consultório. Entrei na escolinha e fiquei esperando a Addison aparecer.
Bem como suspeitava, ele estava ali de novo. Será que ele nunca vai desistir? Não cansa de fazer da minha vida um martírio? Mas acho que, nesse caso, tudo já estava resolvido, pois Sebastian, diretor da escola estava tendo uma conversa, que eu julgava ser bem séria. Talvez ele tivesse flagrado o Adam em uma de suas espionagens e resolveu chamar a polícia.
Me aproximei deles e indaguei:
— Sebastian? Está tudo bem?
O diretor lançou um sorriso simpático para mim e afirmou:
— Sim, está! Safira, quero que conheça nosso novo professor de ciências do 1° ano. — Disparou — Ele se chama Nate. Seu currículo é excelente. Sabia que ele já deu aula na escola de arte de Chicago?
— Não brinca! — Ironizei, lhe encarando.
— É um prazer, senhorita — Adam falou.
Isso só podia mesmo ser uma brincadeira. Não era possível aquilo estar acontecendo.
— Nós normalmente não contratamos sem um período de experiência, mas nesse caso, vou abrir uma excessão. Não posso perder um professor tão importante.
Eu revirei os olhos. Senti vontade de avançar em cima dele.
— Você deveria ser mais seletivo na hora de contratar alguém. Sem ofensas. — Afirmei, com ódio nos olhos.
Sebastian deu uma risada sem graça.
— Safira, não seja rude. Ele é um bom profissional. Tenho certeza que escolhemos muito bem... — O diretor afirmou, completamente sem graça. — A não ser que você o conheça.
— Não, não — Neguei rapidamente, com um sorriso falso e lancei um olhar de reprovação para o Adam — Só acho que um professor bonito assim vai distrair as crianças.
Adam abaixou a cabeça, mas eu sabia que ele havia achado aquilo no mínimo cômico.
— Tenho certeza que isso não será um problema — Afirmou ele e foi embora me dando duas tapinhas nas costas.
Eu respirei fundo.
— Que m***a é essa? — Indaguei, furiosa.
— Eu te avisei. Se não pode me ajudar a ficar próximo da minha filha, eu mesmo darei um jeito.
— Desde quando você é professor?
— Desde que eu mexi alguns pauzinhos e consegui um currículo e uma indicação falsa. Você se surpreenderia ao saber o quanto as pessoas fazem isso...
Eu bufei.
— Suma das nossas vidas!
— Eu sinto muito, não posso. Eu preciso conhecê-la mais. Preciso estar próximo. Eu quero isso. — Insistiu com veemência.
— Eu vou tirar minha filha desse colégio agora mesmo! — Exclamei.
— E acha que isso vai me afastar por quanto tempo? Algumas horas, dias no máximo? — Indagou — Além disso, você sabe o quanto ela ama esse colégio.
Ele estava mesmo conseguindo me provocar, mas tinha razão, essa escola era perfeita para a Addison, doeria muito nela ter que sair.
— Então... eu vou na secretaria agora mesmo contar quem você realmente é... e você irá preso! — Ameacei, mesmo não tendo peito para isso.
— Jura? Então vai. — Afirmou, com um sorriso sínico no rosto.
Ele sabia que eu não era capaz disso. Sabia que eu não teria coragem de denunciá-lo, até porque isso envolveria contar ao Jasper que o Adam estava vivo e eu não queria que ele soubesse. Abaixei minha cabeça, com vontade de sumir por um instante.
— Por que você quer tanto isso? Depois de tantos anos, por que?
— Eu esperei muito tempo por isso, Safira. Quero ficar próximo de vocês. E se não posso estar perto de você, quero estar próximo dela mesmo assim.
Eu revirei os olhos. Aquilo seria realmente comovente se eu não o conhecesse. Era incrível como uma dose de obstinação podia mudar as pessoas. Respirei fundo pensando em todas as possibilidades, talvez não fizesse m*l se eles se vissem e conversassem uma única vez, talvez não tenha problema se se encontrarem se depois ela esquecerá.
— Se, por alguma hipótese, eu ajudasse vocês dois a se encontrarem, você largaria seu emprego aqui, imediatamente?
— Não precisaria me pedir duas vezes.
— Tudo bem — Disparei.
Ele ergueu uma sobrancelha, desconfiado.
— Tudo bem?
— Sim. — Confirmei — Você quer vê-la? Falar com ela? Tudo bem. Mas sob as minhas condições.
— Sério?
Eu concordei com a cabeça. Ele fixou seu olhar estatelado sobre mim, como se não acreditasse no que eu dizia.
— Qual a pegadinha? Porque você sabe que se tiver uma, eu vou descobrir e não vai ser nada legal.
— Não tem pegadinha, Adam. Nas sextas ela faz balé na escolinha de artes do bairro. Você aparece, eu te apresento, vocês conversam um pouco e ponto final.
— Ok. — Aceitou.
— Ela larga as 16h.
Ele aquiesceu.
— Mas se vamos fazer isso, você não pode citar nada sobre paternidade ou sobre crimes ou sobre o Jasper. Nada, entendeu? — Pressionei, ele fez que sim com a cabeça, mas pude ver que ele estava bem ansioso.
Por um segundo, eu percebi que ele estava sendo sincero sobre seu desejo genuíno de conhecê-la, mas isso não podia me abalar, não podia deixar essa fagulha de sentimentos me enfraquecer. Eu tinha que ser dura se queria proteger minha família, era o melhor a se fazer. Não podia ignorar o que tinha de mais valioso.
— Como você sabe que ela não vai contar tudo para o Jasper? — Ele perguntou por último.
— Não vai significar nada para ela. Ela não vai se lembrar. — Respondi e me afastei dele. Eu sei que fui grossa, mas como eu disse, tornou-se necessário, como mecanismo de defesa.