Prólogo - 2

910 Palavras
Parte 2... Sua mãe sempre tinha sido uma ótima cozinheira, coisa que dividia com o pai, que também preparava pratos deliciosos, mas apenas em ocasiões especiais ou quando sua mãe lhe informava que não pisaria na cozinha. Era engraçado isso. Tinha boas lembranças da casa e sempre se sentia acolhido ao aparecer para ver os pais, nem que fosse apenas de passagem para saber se estava tudo bem com eles. O amor de seus pais era algo quase palpável. Mesmo quem não os conhecesse bem perceberia. Só de entrar na sala já se via um monte de fotos dos filhos, espalhadas por porta-retratos em cima da estante ou nas paredes. E em várias fases de suas vidas. Sentou e ficou observando enquanto a mãe continuava a mexer nas panelas, tagarelando um assunto atrás do outro. Era assim desde que ele se entendia como gente, quando começou a prestar mais atenção na mãe, que sempre era muito amorosa com a família que ela criara. O avental de agora já não era mais o mesmo, mas continuava cheio de coloridas flores e pequenos babados, como ela gostava. Várias vezes quando pequeno, ele a vira comprar ou ela mesma fazer um avental novo, sempre animada com seus trabalhos de artesanato. Apesar dela falar sem parar e entrar em um assunto atrás do outro, ele não prestava muita atenção, ainda com o pensamento em um cavalo que havia feito uma cirurgia recente na clínica e que estava em observação. Tinha certeza de que o animal ficaria bem, mas ainda assim costumava ficar ligado no restabelecimento. A mãe abriu uma gaveta e pegou alguns talheres pequenos de sobremesa, colocando ao lado dos pratos. Ela agora entrara em um assunto sobre uma conhecida que mora no fim da rua. — O que você acha, filho? Ele ergueu os olhos para ela, parada em sua frente e apertou os olhos, fazendo uma careta. E a mãe fez o mesmo, cruzando os braços. — Mike, o que eu falei? — Sobre o que? - fechou um olho segurando o riso. — O que eu acabei de falar com você - mexeu o ombro. — Desculpa, mãe, eu ando tão ocupado que minha mente está cheia... Mas eu ouvi muita coisa - tentou se defender. — Ah, pelo amor de Deus, menino - bateu a mão no avental. — Não pode repetir? - riu de leve abrindo as mãos. — Ahhh... Mas que coisa - retirou o avental — Eu disse que seria uma boa ideia para sua clínica, que você contratasse a Camila. — E quem é Camila? Eles ouviram a porta abrir. Logo depois Aldo entrou na cozinha e deu um beijo na esposa, batendo no ombro do filho. — Pensei que não iria ver o senhor hoje. — Estava ocupado e com essa chuva toda eu dirigi devagar - ele puxou a cadeira — E você, como está? — Com a cabeça lá em cima, nas nuvens de chuva, só pode. Os dois riram com o comentário de Charlotte. — O que você fez, rapaz? — O que ele não fez, melhor dizer - empurrou a cabeça de Mike com o dedo — Eu falando uma coisa boa para ele e nem me deu atenção. — Não exagere, mãe. Eu disse que ouvi quase tudo. Ela balançou a cabeça. Pegou as bandejas de porcelana com a carne e o macarrão e serviu na frente dele, olhando-o séria. — Eu falava da Camila, a sobrinha de minha amiga Henrieta - puxou a cadeira e sentou também — Uma mocinha muito boa, que sempre vem aqui depois que passa na casa da tia, para saber como ela está - bateu na mão do marido e apontou o dedo para que esperasse — Coitada dela, uma mocinha tão jovem - balançou a cabeça suspirando. — O que houve com ela? — Então não ouviu nada do que eu falei mesmo? - fez uma cara de bronca — Menino... Ela sofreu um acidente há alguns anos e isso a deixou com sequelas - uniu as mãos — Pobre garota, todos pensavam que iria morrer - ergueu as sobrancelhas — Foi muito grave. Ele puxou pela memória. Ficou em dúvida, mas tinha mesmo uma pequena lembrança de que a família comentou sobre isso, mas nunca se aprofundou no assunto e nem mesmo conhecia a garota. — Não é aquela que passeia com os cachorros? - Aldo perguntou — A que é meio lentinha da perna? — Essa mesma - sua mãe confirmou — Ela faz isso para completar a renda que recebe de pensão do governo. Como sempre, é baixa. — Ela anda com cachorros? Como assim? - ficou curioso — Ela é uma dogwalker, é isso? — Isso aí mesmo - Aldo respondeu — Estou com fome mulher, vai terminar esa história ou não? Charlotte revirou os olhos com a impaciência do marido. — Não se recorda que eu comentei sobre isso? Charlotte revisou o acontecimento, contando em detalhes sobre o acidente que Camila havia sofrido. Ela tinha saído com um grupo de amigos para um passeio no lago da represa, mas ao retornarem para casa, um outro carro cruzou com o que ela estava e os jogou fora da ponte. Ela e outra amiga ficaram presas no carro e não conseguiram sair sozinhas. Quando os outros amigos que vinham no carro logo atrás se aproximaram e viram o acidente, se jogaram no rio para ajudar a retirar as duas.
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