Episódio 6

1371 Palavras
Todas essas circunstâncias não nos permitem relaxar nem por um segundo. Estou me segurando, mas parece que assim que as preocupações passarem, vou cair no chão exatamente onde estou. O corpo trabalha no desgaste de todas as forças vitais. O proprietário de uma propriedade florestal abre uma porta enorme com uma chave. Então ele entra. Eu vou atrás dele. Logo na entrada, numa mesinha de cabeceira alta, ele joga um molho de chaves recém-usado, seguido de um chaveiro de carro. Ele não faz isso secretamente. As chaves batem na pequena mesa. Eu observo. Isso pode ser útil. Sou um bom motorista, então haverá uma chance de conseguir a liberdade. É um pouco inspirador. A situação não parece mais tão desesperadora como eu via no início. E o bandido não me ataca, embora já pudesse ter feito isso. Outro pequeno alívio. É mais fácil. Cada uma, mesmo a menor vantagem, torna a respiração mais fácil. O interior da casa parece quase igual ao exterior. Estas são as mesmas toras, apenas do outro lado. No hall, onde muito em breve nos encontramos, há móveis de madeira de boa qualidade, um sofá de couro e uma ampla lareira no canto da sala. Uma robusta pele marrom está ao lado do sofá. Este é um urso. Um predador enorme e feroz com garras e cabeça com boca aberta. Sinto-me desconfortável porque esta fera parece estar olhando diretamente para mim. E, olha, ele vai atacar. Eu rapidamente procuro outro lugar. Nas paredes. Há muitos troféus aqui também. Chifres de veado. A cabeça de alguém. Eu provavelmente poderia ter admirado essas exposições, mas em algum outro ambiente. Agora, quando eu mesmo corro o risco de me tornar um dos bichos de pelúcia de palha, esses bichinhos de pelúcia só inspiram medo. O dono da casa senta-se no sofá. Ele faz uma pose relaxada, abrindo os braços ao lado do corpo. Só paro porque não entendo o que devo fazer. — Eu quero relaxar. Ele declara de repente. — Dance para mim. — O que? Pergunto novamente, embora tenha entendido perfeitamente do que estava falando. — Balança um pouco a bun*da. Você sabe fazer isso, não sabe? As garras geladas do medo arranham as minhas costas. Fico ali como uma estátua de pedra, piscando os olhos, impotente. — Por que você é tão insensível?! Eu só quero ir embora. O homem olha para mim com frieza. Da cabeça aos pés. Um sorriso quase imperceptível toca a borda dos seus lábios. — Lembre-se, pequenina, se você quiser voltar para o seu irmão, você só precisa seguir uma regra simples: faça tudo o que eu disser. Então, se eu disser para torcer a sua bu*nda contra o poste, você torce. O ar fica preso na minha garganta. Essa aberração pode exigir qualquer coisa de mim, e acontece que eu, como um cachorro treinado, devo cumprir todos os seus caprichos? Entendo que pelo menos algo precisa ser respondido. Nada mais inteligente vem à mente do que dizer: eu... eu não sei dançar. — Mais do que tudo no mundo, não gosto de mentiras. — Mas eu não estou mentindo! Apresso-me a justificar-me, embora, na verdade, não diga uma gota de verdade. Danço há quase dez anos, então me movo muito bem. Tive que abandonar as aulas depois de entrar na universidade, era impossível combinar. Mas nunca pensei que a minha vida dependesse dessa habilidade. — Dançe! Ou encontrarei outro uso mais adequado para você. Já não tenho dúvidas. Se antes eu ainda presumia que poderia mudar alguma coisa, agora essa crença caiu de um penhasco num abismo profundo. O coração acelera e a adrenalina já corre pelo sangue em doses cada vez maiores. Os meus joelhos dobram e simplesmente não consigo sentir a parte inferior das pernas com salto alto. O bandido pega o controle remoto, que está sobre uma mesa baixa ao lado do sofá. Primeiro, uma agradável composição melódica preenche a sala e depois as luzes se apagam. De jeito nenhum. Um crepúsculo ínti*mo se forma na sala. Não consigo entender o que estou sentindo agora. Tenho medo de dar o primeiro passo e simplesmente começar a me mover. — Você precisa ser empurrada novamente? Não consigo ouvir a irritação na voz do dono, mas ainda entendo que o estou estressando. Hoje o homem nunca perdeu a paciência. O seu tom era uniforme e confiante, não importa o que ele fizesse. Ao mesmo tempo, cada palavra está imbuída de uma frieza tão selvagem que você até começa a duvidar se ele é humano. — Não... Não, eu farei o que você está mandando. Apresso-me em garantir ao bandido o contrário. — Então comece. Eu não gosto de esperar. Olho em volta e noto um longo poste de metal quase ao meu lado. Realmente não cabe no interior de caça, mas aparentemente era muito necessário para o dono da casa. As minhas pernas param completamente de me obedecer. Não me lembro de isso ter acontecido comigo. Mas estou tentando de alguma forma me abstrair do que está acontecendo, preciso forçar um pouco o meu corpo a trabalhar para o benefício do meu futuro. Ouço uma linda melodia. Ela realmente é linda. Não como uma fera estirada num sofá. Não posso dizer que a terrível cicatriz estrague tudo, mas afeta muito a impressão geral. Alto, de ombros largos, o tamanho do homem por si só é assustador. A força animal emana dele. Rude. Bruto. Fazendo com que o medo sufocante borbulhe na minha garganta. Ele é um homem de verdade. Predador. Caçador. Mas tal poder me assusta e causa agulhas na parte inferior das costas. Cabelo curto e escuro, sobrancelhas grossas e barba curta da mesma cor. Não gosto de barbas, mas fica horrível numa fera. Complementa perfeitamente a sua imagem assustadora. Mesmo assim, não posso deixar de prestar atenção ao fato de que um forte princípio masculino faz com que a minha essência feminina reaja a ele. E reaja incorretamente. Tudo acontece em algum nível animal, e simplesmente não cabe na minha cabeça, na mente de uma pessoa civilizada. E geralmente eu não vivo de forma alguma por instintos. Caso contrário, eu teria perdido há muito tempo o que guardo para esse propósito. Razoabilidade e autocontrole são o que sempre regem a minha vida. E agora estou tentando controlá-la de alguma forma. Agarro o poste e giro em torno dele. Eu fecho os meus olhos. O principal é não ver. Não ver o monstro na minha frente. Algumas voltas simples ao redor do mastro e eu o agarro com as duas mãos. A música rapidamente conseguiu capturar a minha consciência. Eu gosto de música. Ouvir. Cantar. Dança. Renda-se às ondas invisíveis sem reservas. Eles ficam sob a pele e não consigo mais controlar a nossa conexão. O principal é não abrir os olhos... Não ver... Eu me levanto levemente com os braços e coloco a perna direita atrás do poste. Eu me viro, apertando as minhas pernas. Não tenho ideia de como faço isso. Desço até quase tocar o chão. Aí troco de mãos e faço a mesma coisa, só que na direção oposta. Relaxo o máximo que posso, porque se não cumprir a tarefa o bandido ficará infeliz. Ele disse que encontraria outro uso para mim, o que eu não gostaria nada. Parece que dançar, mesmo que seja tão específico, não é a pior coisa que poderia me acontecer. Portanto, apesar das minhas pernas dormentes e das mãos trêmulas de excitação, estou lidando bem. O homem não faz barulho. Nem sei se ele está olhando para mim porque ainda tenho medo de abrir os olhos. É mais fácil no meu mundo cego. É como se eu estivesse sozinha aqui. Como se fosse seguro. Nem percebo como o grandalhão se levanta do sofá e vem até mim. Estremeço quando uma mão enorme inesperadamente bate as minhas costas num corpo quente e forte. ‍ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌​​​‌‌​​‌‌​‌​‌​ ​​ ‍ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌ ‌​​​‌‌​​‌‌​‌​‌​ ​​
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