5° - Pega no flagrante

1963 Palavras
OLÍVIA  Despertei com uma péssima sensação. Como se tivesse recebido diversas marteladas na cabeça e no resto do corpo também. A dor de cabeça era o que mais me incomodava. A sensação era de ter sido dopada. Não que já tivesse me drogado, mas era a sensação que já ouvi muitos drogados relatando. A minha cabeça não só doía, mas também senti uma labirintite terrível, como se estivesse voando e tudo girando ao meu redor, mas algo me prendia no lugar, me impossibilitando de me levantar. Abri meus olhos lentamente quando ouvi vozes que desconhecia. Se estava em casa, não deveria ouvir outras vozes, pois não havia ninguém além de mim. Mas logo vi que não era a minha casa e aquele homem estava sentado na minha frente. Damon. Foi assustador demais para eu não ter nenhuma reação. Comecei a gritar assustada. — Onde? Como?! — perguntei agitada e o cheiro do charuto dele me fez recordar que pouco tempo atrás saí do meu quarto e encontrei esse homem e mais outros dois na minha sala. Ele falou alguma coisa que não me recordava e logo depois os homens encostaram algo no meu nariz que me fez apagar. — Você me drogou! Ele deu uma risada, tirando o charuto da boca e soprando aquela fumaça na minha direção. Tentei levantar, mas logo percebi que o que me prendia no lugar era o cinto de segurança. — Sim. E nem adianta tentar fugir — avisou assim que tentei abrir o cinto. — Exceto caso você saiba voar. Droga. Estou em um avião, jatinho, sei lá. Estou no ar. — VOCÊ ME SEQUESTROU?! — esbravejei. Ele riu da minha cara, confirmando as minhas suspeitas com a cabeça. — Você pode ter certeza que na primeira oportunidade vou te denunciar. — Você não terá nenhuma chance de fazer isso. Aliás, você não terá chance de fazer nada. Pode ir dando adeus a sua vidinha medíocre. — O que você quer dizer com isso? — Meu coração disparou, apesar da tranquilidade com o que ele disse essas palavras. — Você pretende me matar? — Eu vou. Mas dependendo da sua colaboração posso te dar algumas horas ou dias a mais de vida. — Colaboração? Que tipo de colaboração?! — temi sua resposta. Ele colocou a mão abaixo de seu queixo e me encarou pensativo. — Ainda não pensei sobre isso. Engoli seco quando seus olhos pararam em minhas pernas. — Se você tentar me estuprar, eu arranco seu p***o — avisei logo. — E eu estouro seus miolos — garantiu tranquilamente. — Você não tá numa boa posição para fazer ameaças. — Tem certeza? — preparei meu joelho para acertar entre suas pernas e ele riu. Me subestimando, é claro. Ele não sabe que sou filha de militar. Sou ótima no tiro ao alvo e também já atirei algumas vezes com armas reais. Não em pessoas, mas já atirei. — Para onde você está me levando? — Você conhece algum lugar fora de Vega? — Não. — Então não vai adiantar de contar. Ai meu pai... estou perdida. Definitivamente perdida. [...] — Para onde você está me levando? — perguntei um tempo depois. — Essa é a vigésima vez que você me pergunta o mesmo. — Ele acendeu um charuto, exausto. E essa era a vigésima vez que ele acendia um charuto. Pulmão? Deus é mais. — Verdade, eu não deveria perguntar, porque fui perseguida, dopada e sequestrada para em um avião que vai me levar para algum lugar que eu nem preciso saber... — Ah... — Ele levantou o dedo e frisou. — E carregada numa mala. — Numa mala?! Que tipo de... pessoa você é? — Fiquei indignada com isso. Então as marteladas que senti horas atrás fazem todo sentido! Que filho de uma p**a! — Na verdade, muitos nem me qualificam como “pessoa”. — ele fez aspas no ar descaradamente. — Mas olha, você foi a primeira pessoa que me insultou e não matei no segundo seguinte. — Ah! Suponho que eu deva agradecer. — deixei meu pensamento escapar pela garganta. — Certamente. — Assentiu seguro disto. — E você conversa muito. Eu deveria te deixar a viagem inteira dopada. — Ah, mas por favor! Eu agradeceria muito por isso também! Ele riu, mas não mandou ninguém me dopar. Era nítido na cara que eu era a pessoa mais divertida que ele encontrou. [...] Tirei um cochilo. Eu não sei como, mas suspeitei que a falta de ar que a fumaça do charuto causou, tenha me feito desmaiar. Acordei quando o jatinho aterrissou. — Chegamos, Olívia. Damon levantou do banco e, após tirar o cinto, levantei logo em seguida. — Até meu nome você sabe. — Claro que sei. Sei tudo sobre você. — Então suponho que saiba que a minha mãe é casada com um militar. Quando ela sentir a minha falta, seu marido colocará todos os guardas atrás de você. — Será que ele se importa com você a esse ponto? — Claro que sim! O que você está insinuando? A verdade era que eu sabia que ele não se importava tanto comigo. Adorou quando comecei a trabalhar e parei de gastar seu dinheiro. Papai morreu e antes de seu testamento ser lido, o advogado sofreu um acidente. Aguardamos sair do coma para saber como ficou, já que estava decretado que somente ele poderia ler o testamento. O contrário só aconteceria se ele morresse. — Ninguém sentirá sua falta. Estão viajando, não é? — Mesmo assim. Quando eles voltarem, perceberão a minha ausência. E mesmo não se importando, ele vai me procurar. Quem é que ele infernizará pelo resto da vida? Andamos pelo aeroporto e um carro preto de luxo estava a nossa espera com um homem segurando a porta aberta. O que me impressiona é o respeito como eles falam com Damon. Me trataram da mesma forma. Entrei no carro depois da sua ordem e ele entrou em seguida. Não podia fugir e com a ameaça de morte era melhor colaborar. As janelas estavam fechadas e meu raptor já dava indícios que iria fumar mais um cigarro. — Posso abrir a janela? — Não. Morrerei sufocada. — Você pode deixar para fu-fumar depois? — perguntei receosa. Ele me encarou colocando o cigarro na boca e acendeu, dando isso como resposta. Já vi que é inútil arriscar a minha vida fazendo pedidos em vão. Durante a viagem, ouvi sua conversa ao telefone, mas não descobri nada comprometedor. Fiquei olhando a cidade com a cabeça encostada na janela. É uma cidade grande, bonita e movimentada. Que cidade é essa? Eu deveria estar pensando na minha morte. — Edite? Prepare o jantar para dois. Estou chegando. Para dois? Será que estou inclusa neste número? Espero que sim, porque do contrário ele nem precisará me matar. Antes morrerei de fome. A energia que o lanche me deu já tinha acabado e a tremedeira da fome apareceu. — Gostou da cidade? A pergunta repentina me fez o encarar. — Não dá pra ver muito daqui de dentro. Ele riu. — Pois se conforma, porque é só daqui de dentro que você verá. E só dessa vez. Ele parecia se divertir no meio das ameaças. Até parecia que não pretendia fazer maldade alguma comigo. Esperava que não fosse só uma impressão e que essa não fosse a minha última noite. A viagem continuou até a saída da cidade, indo por uma estrada entre a floresta. Vendo essa paisagem sombria, tive a sensação que meu fim estava mesmo próximo. Não dava para ver o que estava a frente do carro, pois havia uma janela preta que bloqueava essa visão, bem atrás do motorista. Mas, pouco tempo depois, passamos por um grande portão de ferro e grandes muros de pedra. Depois disso, muitas flores, arbustos e refletores. Um jardim muito lindo e bem iluminado. A janela foi aberta e coloquei o pescoço para fora dela, sentindo o vento fresco em meu rosto. E quando vi a mansão, não acreditei que aquilo estava diante de mim. Arrumei a postura no banco e encarei o fumante, que já me encarava curioso. — Admirada? Claramente uma pergunta retórica. A resposta era óbvia. Estava muito admirada. — Essa é a sua casa? Ele balançou a cabeça, afirmando. Quando o carro parou, logo quis descer sair, para ver tudo direito. Um homem abriu a porta e saltei do automóvel, parando na frente da fachada que parecia um castelo e não uma casa comum. Tudo que envolvia Damon era incomum, de fato. — É a casa mais linda que meus olhos já viram pessoalmente — comentei em voz alta. Ele passou por mim sem diz nada sobre. Para ele deveria ser comum. — Me siga — ordenou sem olhar para trás e subi os degraus para chegar na porta. Antes de me deixar passar pela porta, Damon olha para trás, onde vários homens de terno ficaram. — Estão vendo esta mulher? Ela não pode sair desta casa em hipótese alguma. Uma sensação r**m se espalhou pelos meus músculos. Damon me passava a impressão de ser um sádico. Rindo da minha confusão, mas atento quanto ao seu objetivo comigo. — Eu não vou fugir — disse tentando ganhar sua confiança e quem sabe viver mais um dia. — Isso é ótimo, mas não pense que é o suficiente para te livrar do castigo de ouvir o que não deveria. Abaixei a cabeça e ele saiu na frente. Ele não sabe o quanto sou insistente. — Ficarei aqui? — Sim, mas é temporário. Não pense que serei bom com você o tempo todo. Isso é só até eu decidir o que farei com você. Ele está sendo bom? Tudo que fez até agora não foi nada que possa ser considerado bom! Deixei as preocupações de lado e olhei ao meu redor, para o interior da casa. Meu queixo caiu. Luxo definia a enorme sala de estar. Móveis de camurça e madeira, paredes brancas, quadros enormes e um piso escuro e extremamente brilhante. A casa dos sonhos. O segui e chegamos a uma mesa posta com um banquete. Comida para dois era o que ele havia pedido, mas ali tinha comida para mais de cinco pessoas. — O lavabo fica à esquerda. — apontou e seguiu em outra direção. — Vou tomar um banho antes de jantar. Você me espera. Ao menos não ficarei acorrentada. Lavei minhas mãos me sentindo observada e de fato, tinha mais de dois funcionários de olho em mim. Voltei para a sala e esperei, olhando a casa. Um belo lugar para viver, não para morrer. Na sala havia duas mesinhas de centro, três sofás, paredes com detalhes e um piso marmorizado. A sala de jantar tinha uma mesa de vidro, com cadeiras acolchoadas, estilo realeza, com lustreis de cristal, com um teto desenhado com tábuas de madeira e relevo em gesso. As escadas amadeiradas, davam para o segundo andar e foi para lá que subi. Neste corredor, havia muitas portas e eu não me controlei. Abri cada uma delas. Um quarto mais chique do que o outro. Todos com TV, camas de casal, e com toques únicos. Certamente, não foi ele quem decorou, mas mesmo assim, um deles tema cara do Damon. Parede cinza, igual o ar que sai dos seus pulmões. Imagino que ele já tenha fumado muito aqui. Até resolvi dar uma conferida, cheirando uma das almofadas. — O que está fazendo no meu quarto? Bisbilhotando ou procurando uma fuga? — perguntou Damon de repente e fui pega de surpresa. — Eu… é… — tentei responder enquanto encarava o homem musculoso sem camisa, com apenas uma calça de malha e secando os cabelos com a toalha. — Responda! Parece que ele não gosta de visitas no seu quarto.
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