OS IRMÃOS CAPÍTULO 2

4989 Palavras
Os guardas que acompanhavam Nereu se aproximaram prontos para avançar e os prenderem a uma ordem do rei. Anie percebeu e gritou ao pai; _Deixe-nos seguir em paz! Do contrário haverá derramamento inútil de sangue, pois estamos em maior número e ainda não é tempo de guerra. É loucura tentar nos deter agora! Nereu sabia que o que ela dissera era verdade e fez sinal para que seus homens se afastassem. _Vão em paz! Mas advirto-os que jamais voltem a pisar aqui! Ou pagarão com a própria vida! Anie voltou à carruagem acompanhada de Vitor, quando percebeu que se afastavam, para seguirem viagem. O palácio onde habitava Anie e a irmã, era muito maior e mais luxuoso que aquele ao qual Vitor estava acostumado a freqüentar. Os amigos de Vitor, que aceitaram o acompanhar, ficaram vislumbrados e felizes com o luxo do lugar onde passariam a morar. Ficaram mais surpresos quando conheceram os pequenos castelos ao redor do palácio, onde habitavam as concubinas do rei falecido. Vitor como já era acostumado a conviver no luxo, pois freqüentava o palácio de Vlarur, logo se adaptara. Mas Leiane e Icaréias, não conseguiram se acostumar a tantos criados lhes servindo o tempo todo. Assim, foram de comum acordo avisar Vitor que voltariam á aldeia, pois se sentiam entediados. _Não podem me abandonar! Amo-os, e não me imagino vivendo longe de vos. _Viremos visitá-lo, não é uma despedida definitiva... _Não! Se o que sentem é falta do que fazer, lhes darei tarefas. Tu, papai, a partir de hoje será o chefe da guarda real, pois eis que é experiente e fiel. Já mamãe, poderá se encarregar de ajudar ás antigas concubinas de Aschan a se adaptarem com a liberdade,pois eis que estão livres a partir de agora.Mamãe tratará de arrumar-lhes marido ou algum serviço aqui no palácio,qual sejam suas vontades.Espero que isso os deixem felizes e ao meu lado,pois preciso de vós. E há também as filhas do rei Aschan que me honrou quando fez de mim seu herdeiro. Só tu, mamãe, para saber como lidar com elas e as encaminhar para um bom casamento. Leiane e Icaréias se entreolharam felizes, era o que precisavam e foi com alegria que aceitaram o convite do filho amado. Mais tarde, quando Leiane foi visitar uma por uma das concubinas que viviam em pequenas réplicas do palácio, em volta desse, elas se encontravam preocupadas e temerosas de seu futuro, porém quando souberam da resolução do novo rei, festejaram com danças e vinhos. Estavam livres e não precisariam se preocupar com seus destinos e o de suas filhas. Leiane as recebeu como filhas e foi como uma verdadeira mãe que cuidou delas para que arrumassem um bom casamento e fossem felizes. Os amigos de Vitor que concordaram em o acompanhar, não tiveram problemas em se adaptar, já que se tornaram os cavaleiros da guarda pessoal do próprio rei. Tirando Tambor, que ali estava como espião, os amigos de Vitor lhe devotavam incondicional fidelidade, e Vitor os proibira de se curvarem diante dele, alegando que eram como irmãos, e assim deviam se tratar. Léa, a babá de Anie, já avançada em idade, adoeceu, e apesar de todo cuidado médico, viera a falecer. Anie chorou, como se houvesse perdido a própria mãe e providenciou-lhe um sepultamento digno de uma rainha. Foram dias de muita tristeza para Anie, pois fora ela quem mais era próxima de Léa. Assim que se passou o tempo do luto, Anie mandara vir os melhores alfaiates do reino para que se encobrissem de fazer trajes para os novos moradores do palácio. Quando, após dois anos, Vitor já estava familiarizado com todos os assuntos do reino e completou dezenove anos, sentou-se em fim, no trono sendo coroado rei e o novo líder do povo daquele reino. Anie preparou uma grande festa, onde foram convidados todos os povos do reino. Esperava que Vitor se apaixonasse, mas terminou a festa e ele não demonstrou nenhum interesse especial por alguma das damas presentes. Preocupada, Anie fora lhe falar, acompanhada de Leiane e Icaréias. _Irmão... Eis que coloquei aos seus pés, todas as damas casamenteiras e belas e não se interessou por nenhuma. Preocupo-me em saber porquê, já que um de seus deveres é gerar um herdeiro. _Ela tem razão filho... -Emendou Icaréias. Vitor os olhou firme. Ele nem parecia ter só dezenove anos. Era tão forte! Quem o visse, diria que nascera para ser líder. Pois tinha grande carisma e conquistava a todos que o ouvia. _Anie e meus queridos pais, meu coração traidor não me deixa ver beleza em outra, que não Izabelle, que me é proibida. Não posso me casar com outra jovem. _Izabelle... Quem é ela? _A filha do duque Louis. -Respondeu Leiane. Anie surpreendeu-se. _Meu irmão... Tive noticias de que essa jovem fora prometida a Vlarur e o casamento será em breve. Vitor se levantou determinado. _Então preciso agir rápido! _O que está pensando em fazer?-Perguntou Leiane preocupada. _Prometi a Vlarur, que Izabelle seria minha, primeiro. Dei minha palavra, não posso voltar atrás. É minha honra. _Estás louco! Se o pegarem, será um homem honrado e morto!-Tentou chamá-lo a razão, teu pai adotivo. Vitor abriu um sorriso irônico. _Não temam. Eles não vão me pegar. -Disse e saiu em disparada, procurando por seus amigos que a muito já sabiam que chegaria o dia que voltariam ao reino de onde vieram com aquela missão, e já estavam preparados. Vlarur fora avisado de que Izabelle era sua prometida e deviam se casar em alguns anos, e veio a ficar muito feliz com essa notícia, e foi logo procurá-la para contar-lhe a boa nova, acreditando que ela também o amava e que se alegraria, assim como ele.,. mas a conversa que tiveram, envenenou para sempre o coração do rapaz, e sua alma encheu-se de pesar rancoroso. _Izabelle... Logo tu serás minha esposa! Não acha maravilhoso? _Já sabia. Izabelle disse simples. Soube assim que comunicara aos pais que desejava se casar com Vitor, pois estava apaixonada. Eles, sem rodeios, contaram a ela que era prometida de Vlarur. _E porque nunca me disse nada? Ela se aproximou e tocou-lhe o rosto com carinho. _Porque o amo como um amigo. O dono do meu coração é Vitor. Vlarur se afastou e seu coração encheu-se ódio. _Maldita seja! Pois isso não impedirá que nos casemos. Tu serás minha e jamais dele. E odeio o sentimento que nutro por ti, pois não passa de uma falsa! Como pôde entregar seu coração a um simples plebeu? _Por favor, não fale assim... -Ela disse com voz chorosa.- Não o amo como homem, mas vamos nos casar, ter nossos filhos e seremos felizes, pois lhe tenho grande carinho e acredito que com o tempo, venha a amar-te. Aquelas palavras aquietaram o coração de Vlarur, e sempre que a cortejava, não tocava mais no assunto que morrera naquele dia, acreditando que ela esquecera aquele que outrora fora seu melhor amigo, com o passar do tempo. Izabelle, mesmo após dois anos, não conseguira se conformar com sua sorte. Porquê o pai a prometera para Vlarur? Gostava dele, mas apenas como seu amigo. Seu coração pertencia a Vitor e não tinha como voltar atrás para não o conhecer... Ficara tão contente quando descobrira que Vitor era na verdade irmão de Vlarur! Acreditava que, tendo ele, sangue nobre, os pais o aceitariam e abençoaria seu amor. Porém, chamaram-no de bastardo. E ela teria sim que cumprir a palavra do pai, recebendo Vlarur como seu marido. Abandonou o livro que estava tentando ler, cansada de tentar se concentrar, e se levantou. Seguiu para o jardim do palácio, onde não cansava de admirar a beleza das flores e plantas. Ouviu um barulho perto de um arbusto, e se aproximou, excitada, imaginando que fosse algum coelho, pois os achava, criaturas lindas. Quando se aproximou e se curvou por trás do arbusto, alguém lhe tapou a boca, impedindo-a de emitir qualquer som e arrastou-a para longe dali. Fora jogada numa carruagem, sem cerimônias e essa imediatamente se colocou em movimento. Demorou apenas alguns segundos, para que percebesse que não estava sozinha. Quando ergueu os olhos encontrou o sorriso irônico que há muito só via em seus sonhos. Era Vitor. Foi tomada de súbita alegria e sem poder se conter, abraçou-o. _Vitor! Ele não disse nada, mas passou a fitá-la sério quando ela se afastou. _Como entrou no jardim? Vlarur o odeia! Se o pega, mata com suas próprias mãos! Arriscou-se muito! _Não estamos mais no jardim do palácio. _Como assim? Seu silêncio o denunciou. _Vitor? Seqüestraste-me? Mas, porquê? _Vim buscar-te. Agora posso lhe dar tudo que quiser. _Vitor... Sinto muito, mas já estou comprometida com Vlarur. Ele ergueu a sombracelha. _É essa sua vontade? _É à vontade de meu pai e do rei. Não quero decepcioná-los. Gostaria que pudesse entender. _Ama Vlarur? Ela ficou em silêncio alguns instantes. _Gosto dele como irmão. Nada mais. _Então não tem porquê obedecer ao seu pai. Afinal és tu que irás passar o resto da vida com um homem que não ama. _Não posso ir contra meus princípios, mesmo que faça algo que não quero, devo obedecer ao meu pai. Vitor suspirou. _Então só lhe digo que sinto muito, mas não posso agir de acordo com seus princípios, já que empenhei minha palavra. _O que quer dizer com isso? _Estou dizendo que serei o primeiro homem de sua vida. -Ele disse e aproximou os lábios de seu ouvido. -Vamos passar a noite juntos. _Vais me violentar?-Ela perguntou assustada e surpresa. Vitor a fitou por um momento. Se apiedou dela. Mas prometera vingar-se de Vlarur e de seu pai. Sabia que era apenas uma inocente, mas não podia voltar atrás, já havia ido longe demais. Ele aproximou sua boca de seu ouvido; _Espero que não me obrigue. É inevitável que nos conheçamos na i********e. Caberá a ti a decisão de aceitar ou se rebelar... Izabelle apavorada e desesperada começou a dar socos na carruagem. Não podia acreditar que o homem que amava tanto, tivesse a coragem de obriga-la. Começou a gritar; _Pare! Pare imediatamente! Ao perceber que o condutor e Vitor a ignoravam, passou a esmurrar Vitor no tórax, porém ele simplesmente segurou seus punhos, e a fitou com desprezo. _Meu sangue nobre a enoja? Pensava que somente queria ser esposa de um titulo, mas agora percebo que não passa de uma hipócrita esnobe! Acha que estou sujo, porque cresci no meio daqueles que a servem? Asseguro-lhe que estou mais limpo que esses seus companheiros de sangue nobre! _Não! Não sou assim! Sabes bem que o amo! Mas não posso desonrar meu pai dessa forma! Ele deu sua palavra! O que me enoja é essa sua conduta! Não vê que não posso levar essa vergonha à casa de meu pai? Vitor soltou-a. _Pois então o fará por m*l! Meu pai me desonrou, quando me abandonou. Portanto não me importo com a honra dessa gente, pois eles não têm nenhuma. Acha honrado que eles vivam em meio ao luxo e a fortuna, enquanto o povo, que os servem, vivam na mais triste pobreza? Trabalhando para sustentá-los? Pagando impostos altíssimos? Passam fome! Aqueles que não tiveram a "sorte" de serem necessários ao rei! Quer convencer-me que essa gente tem honra? Enganam o povo, para que esses, esqueçam da própria infelicidade, forçando-os á aceitarem a comida podre que oferecem, ao invés de lhes criar oportunidades de poderem conquistar seu próprio alimento. Sabias, que esses honrados nobres, não pagam salário aos seus subordinados? Em troca do serviço que prestam, recebem comida e roupa. E o povo iludido, acredita que o rei é bom! Izabelle, que a tudo ouviu num silêncio indignado, reagiu. _Que culpa temos de termos nascido nobres? O mundo é assim mesmo, e não cabe a nenhum de nós, tentarmos mudar o que já vem acontecendo em séculos! Acaso foram nossos pais que criaram o mundo assim? Cada um tem o seu lugar! E nossos pais não são homens honrados? Existem reinos, em que o regente, nem o pão provê ao seu povo! _Vou lhe provar que é possível mudar essa situação. Quando ouvir falar em meu reino, será com orgulho de um povo que não precisa de esmolas e sobras de seu rei, para viverem. Serão todos nobres, pois a nobreza não está no sangue, mas na alma. E o meu filho, que tu gerarás, vai m***r aquele a quem conhecerá como pai, para salvar o seu povo das mãos assassinas e egoístas do seu poder. Ele virá, será amado, e seus exemplos seguidos. Há seu tempo, virá a amar uma plebéia, para provar a ti e aos seus, que os sangues nobres, pode vir dos humildes. _Estás a divagar loucamente! Jamais poderei lhe gerar um filho! Já disse que sou prometida de seu irmão! _Tu ainda não entendeste... não há escolhas. Izabelle o fitou como se tivesse diante de um desconhecido. _Vais mesmo violentar-me? É a "isso" que chama de honra? Ele não lhe respondeu e desviou o olhar. Izabelle se calou inconformada. Seu silêncio dizia tudo. Ele a violentaria. Izabelle, aos prantos, chegou ao palácio. Não ficara surpresa quando encontrou o rei, Vlarur e seus pais a esperá-la ansiosos e preocupados. _Izabelle! Onde esteve?-Sua mãe perguntou entre furiosa e aliviada por seu retorno, apesar de vê-la com suas vestes aos farrapos. Izabelle percebeu que todos a olhavam indagadores, afinal, sumira desde a tarde anterior. _Vitor. -Foi a única palavra que conseguiu dizer em meio ao pranto. Vlarur se aproximou. _O que te fez aquele maldito? _Violentou-me. -Izabelle disse envergonhada e irada, mas assim que o disse as lembranças da noite anterior lhe voltaram à mente lhe transtornando a alma. Quando chegaram a uma cabana, no meio da mata, Vitor a pegou, levando-a para dentro, jogou-a numa cama improvisada feita de palhas, rasgou suas roupas e sem cerimônias a penetrou. A dor que sentiu não suplantou a magoa de seu coração. Durante a noite, usou-a várias vezes e quando amanheceu, fora embora sem dizer-lhe uma palavra sequer. Porém ,quando saiu, percebeu que havia deixado-lhe um cavalo para que pudesse voltar ao palácio. O que mais a perturbava e machucava, era lembrar de como gritara e implorara que a deixasse em paz covardemente, e ele ainda mais covarde, a ignorara. _Ele vai pagar! -Izabelle saiu do transe, quando ouvira a voz zangada de Vlarur e o fitou. _Nada poderá fazer contra ele. O que esta feito, não tem volta. Eis que agora habita em outro reino, onde os guardas são bem treinados e guardam o palácio e seu soberano com suas vidas. Aqui, não há homens com treinamento suficiente para derrotar sua barreira. Ele violou-me e levou embora minha pureza e dignidade, e isso ninguém poderá devolver-me. Nem mesmo o sangue daquele que ousou. Vlarur deixou-se cair numa poltrona vencido com as mãos posta em seu rosto. Ela tinha razão. Estava com pés e mãos amarrados, pela falta de preparo dos homens, que guardavam o reino. Nereu se aproximou e sentou-se ao seu lado. _Não te preocupe, filho meu. O que disse Izabelle é a verdade, porém cabe a nós sermos forte e mudarmos essa situação, convocando todos os homens maiores de dezesseis anos e treiná-los para uma guerra, que mesmo tarda, será inevitável. E quanto a Izabelle, mantenha seus planos e casa-te com ela, o mais rápido possível, assim jamais saberão se o filho que por ventura, nascer, será seu ou dele. Ele também sofrera com essa dúvida. Por enquanto é a única forma de desforra, pela ofensa contra nós cometida. Se vier a desistir de sua mão, ele sairá vitorioso e Izabelle, que não merece, terá sua honra manchada para todo sempre. Vlarur fitou o pai com admiração. Era um homem forte, sábio e de atitude. Parecia que nada o abalava, no entanto desconhecia que no coração de seu pai, havia dor e arrependimento. Se não tivesse maltratado tanto Jakeline, seu primogênito, estaria agora ao seu lado, se casando com a mulher que amava e sendo abençoado por todos e não odiado. De alguma forma, sentia que o sofrimento de Izabelle, era culpa sua. Assim como disse o rei, fora feito, e poucos meses após o casamento, já se podia ver a barriga proeminente de Izabelle. Porém, apesar de Vlarur ter sido um amante terno, amoroso e atencioso, seu coração ainda batia mais forte, só pela lembrança do homem que, ela tinha certeza, era o responsável por sua primeira maternidade. Quando seu primeiro filho nasceu, não deixou dúvidas de quem seria o seu pai, contrariando o que dissera o rei, seus olhos eram verdes e seus cabelos negros como os de Vitor. E ninguém deixara de notar as semelhanças entre eles. Vlarur ignorava a criança e chegou a odiá-la, só abrandando seus sentimentos, mas não ao ponto de amar a criança, quando Izabelle novamente dera a luz a outro menino. O rei amava seu primeiro neto e não compartilhou da vibração de Vlarur pela chegada de seu segundo neto. Percebia o antagonismo do filho, pelo primeiro filho de Izabelle, e temia que tivesse problemas com Vlarur, quando um deles tivesse que subir ao trono. Era tradição, que o primogênito tivesse esse direito, porém temia que não fosse assim. Erro, que ele próprio cometera e não queria que o filho viesse a repeti-lo. Vitor se casara dois anos depois do ocorrido, com uma filha de conde. Tiveram apenas uma filha, a quem Vitor dedicava muito amor e atenção. Não se preocupava com herdeiro, pois sabia que Izabelle já havia lhe gerado um. Não via a hora de conhecê-lo. O que Vitor não sabia era que, aquele filho já nascera com um destino diferente daquele que traçara. Quatro anos depois... Kildar, o primogênito de Izabelle, já com seis anos, estava deitado olhando para o teto, quando teve sua primeira visão. Correu ao quarto de sua mãe e chamou-a. _Mãe! Acorda! Izabelle o fitou, sonolenta. _O que quer Kildar? Ainda nem amanheceu o dia... _Mãe, vi uma coisa! _O que viu? _Vi, no teto de meu quarto, duas mulheres que se vestem como tu, com uma menina parecida comigo, chegando sorrindo ao palácio, numa carruagem dourada. Izabelle balançou a cabeça. _Foi apenas um sonho. _Foi real! Estava acordado! _Então foi um sonho real! Agora volte a se deitar! Quero dormir mais um pouco. Kildar a olhou magoado por ela não ter acreditado. Mas foi para seu quarto e adormeceu. No outro dia, contou ao seu avô o sonho que tivera com a menina que tanto se parecia com ele, porém já havia esquecido o que contara a mãe, quando estava a brincar no jardim e percebeu a carruagem de seus sonhos se aproximar. Correu ao encontro de sua mãe, que aproveitava para tomar sol, enquanto o observava. _Mãe! Vê? Aquela é a carruagem de que lhe falei! Aposto como tem duas mulheres e uma menina! - Ele lhe disse apontando a direção da carruagem. Izabelle levantou-se assustada quando percebeu que seu filho tinha razão. A carruagem dourada! Seu coração se encheu de temor pelo filho. O rei punia com a morte bruxarias e premonições...E seu filho tinha o perigoso dom da visão. E Vlarur poderia encontrar naquele dom de seu filho, uma chance para se livrar dele. Ajoelhou-se ao seu lado e sussurrou-lhe ao ouvido; _Querido, talvez isso nunca mais venha a acontecer, mas preciso lhe pedir algo. _Claro, mamãe. _Jamais conte a alguém sobre essa visão ou outra qualquer que venha a ter. _Porque mamãe? _Porque seu pai ficaria muito magoado contigo. O menino assentiu e saiu para brincar como se nada tivesse acontecido, e como era ainda muito criança e não conhecia os perigos de seu dom, esqueceu-se da promessa que fizera a mãe. Izabelle ficou sem cor, quando viu as visitantes saltarem da carruagem. Porém sua palidez aumentou, quando percebeu que eram duas mulheres e uma menina parecidíssima com Kildar e sorriam para ela. Constatou duas coisas perturbadoras; Seu filho definitivamente tinha o dom da premonição e as mulheres eram Anie e Analva, suas cunhadas. Elas se aproximaram. _Izabelle? - Perguntou uma delas. Izabelle permaneceu muda e imóvel. _-Deve estar surpresa com nossa visita, mas asseguro-lhe que viemos em paz. Desejamos conhecer nossos sobrinhos, e trouxemos Luza para que conheça seus primos. Izabelle baixou o olhar para a menina. Não era parecida com Kildar. Era idêntica! Apesar de parecer ser uns dois anos mais nova. Sem saber como agir, e não querendo parecer rude, convidou-as para entrar sem saber e preocupada com a reação do rei. Quando as viu, Vlarur fora ao seu encontro fitando Izabelle reprovador e depois as fitou. _O que vieste fazer aqui? Analva o fitou com olhar lacrimejante. _Viemos conhecer nossos sobrinhos... Não se aflija meu irmão, viemos em paz. _Como ousam chamar-me irmão, quando conspiram contra mim e meu pai, para derrubar-nos do trono? Analva e Anie se entreolharam. _Não conspiramos contra ti, visto que é sangue de nosso sangue. Ao contrário, o amamos e sentimos pesar por não termos tido oportunidade de conhecê-lo melhor._Anie disse tomando a palavra. _Mentiras! Odeiam-me, vós e vosso irmão Vitor, que vieram a minha casa para ofender-me! Eis que Vitor não passa de um criminoso, e tem o apoio de vós ,para cometer seus crimes! Mandou-as aqui, para quê? Espionar-nos? _Vitor não nos mandara aqui, porém visto que nossa presença, lhe causa rancor, pedimos humildemente para que nos deixe ir em paz. _Senhor! Não devemos agir assim. Deixe que elas conheçam nossos filhos...Para quê tomarmos atitudes agressivas e grosseiras? Elas são inocentes do m*l que Vitor nos causou. - Intercedeu Izabelle. Vlarur a fitou furioso. _Eis que sua opinião, assim como sua presença, nada importa! Coloque-se no seu lugar, mulher! Esse assunto não é de sua ossada! Izabelle o fitou magoada e se retirou as pressas. Desde que, Nereu, anunciou que Kildar seria o herdeiro do trono, Vlarur a tratava m*l, com apenas pequenos rompantes de carinho, e passou a procurar por uma nova esposa .Quanto a Kildar, não tolerava sua presença, já chegando até a usar de violência contra o pequeno, o que gerava sempre, brigas entre o rei e seu filho. A saída tempestiva de Izabelle, coincidiu com a chegada de Nereu, e assim que avistou suas filhas, seu coração encheu-se de ira e se aproximou a passos largos e decididos. _O que fazem aqui essas traidoras e ingratas? - Sua pergunta fora dirigida a Vlarur, mas Anie deu um passo à frente. _Também estamos felizes em reencontrá-lo, meu pai. - Ironizou. - Eis que lhe trouxemos tua neta, para que conheça e abençoe.-Anie disse e mostrou Luza, toda tímida segurando sua mão e o rei fitou a criança, como se estivesse diante de um ser inimaginável. Como era parecida com sua primeira esposa... Seus olhos se encheram de lágrimas. Não sabia que amava sua esposa, até ver aquela menina... Descoberta tardia. Por que será que não tratou bem ela? Seu arrependimento queimava-lhe no peito. _É filha de... _Sim. - Interrompeu Analva. - És a única herdeira de Vitor. Ele voltou os olhos para a filha que acabara de falar e se aproximou ajoelhando-se ao chão, ficando da altura da menina. Pegou em sua mão e puxou-a para um abraço. _ Abençoou-a, minha querida netinha. Sua reação causou surpresa em todos ali presentes. Suas filhas se entreolharam boquiabertas. Pensavam a mesma coisa. Será que o velho pai abrandara? Será que já era capaz de aceitar que mulheres também eram seres humanos com direitos de serem amadas? Que não serviam apenas para gerarem seus filhos? Embora confusas, sorriram-lhe. O rei ergueu-se levando consigo, em seus braços a pequena Luza, que parecia muito a vontade. _Acredito que seja tempo de paz. Eis que meu neto primogênito, disse-me ainda outro dia, que uma pequena, que se parecia com ele, viria e me traria muita felicidade junto consigo. A profecia de Kildar, agora vejo, tinha fundamento e não eram apenas devaneios de criança, como supunha a principio. Venham minhas filhas. Sejam bem-vindas naquele que outrora fora vosso lar. Já iam lhe acompanhando entre surpresas e felizes, quando a voz de Vlarur se fez ouvir. _O que está dizendo, meu pai? Kildar anda fazendo adivinhações? Sabes bem o que deve ser feito aos bruxos em nosso reino, segundo os artigos de nossa lei? Nereu espantou-se com o inconfundível brilho assassino que viu nos olhos do filho e imediatamente se arrependeu do que disse. Ele quer a cabeça de Kildar! Deus! O que faria agora para proteger seu neto? Se ,ele, o rei, falecesse, que fim teria seu herdeiro primogênito? Não tinha coragem de enviar o pequeno para que seu próprio pai verdadeiro cuidasse de sua segurança, longe dali, pois muito se afeiçoara a ele e uma separação lhe seria muito dolorosa... Porém, era a segurança de seu neto que estava em jogo. Precisaria tomar logo providências. Ou, seu neto seria morto, talvez não pelas próprias mãos de Vlarur, mas por alguém a seu mando. Pensaria em alguma coisa. Mas nada tirava de seu coração, que a culpa daquilo tudo estar acontecendo, era sua própria culpa. Olhou firme para Vlarur, e disse sério; _Conheço nossas leis, mas não o vejo como um bruxo. É apenas uma criança. Teve apenas um sonho que se concretizou. Isso é muito comum. Vlarur se aproximou. _Criança ou não, é um bruxo! Que outro nome dá a suas adivinhações? E temos o dever de punir atos de bruxaria em nosso reino! Não foi apenas um sonho! Ele disse, segundo você mesmo, coisas bem especificas. Nereu, puxou o ar. Apesar de assombrado com seu filho, precisava ser firme naquele momento, para o bem de Kildar. _Pois enquanto for rei, será eu, quem tomará as decisões aqui! E é meu desejo que ele jamais seja repreendido por suas previsões! Vlarur abaixou a cabeça, temeroso de que o pai lhe lesse nos olhos a inconformidade de sua alma e a vontade de lhe m***r. Pois era fato que o pai, se tornara um t**o sentimental, cousa que um rei não tinha o direito de ser. Seu pai já era velho, mas temia que demorasse muito a morrer. Precisava ter nas mãos, o poder. Mas, por enquanto, deixaria ele pensar que aceitava sua atitude. _Sim, meu pai...Tem razão. - Disse submisso e se retirou às pressas. Anie falou ao pai; _Ele é perigoso... Vai m***r Kildar. Deixe que ele venha conosco, para sua segurança. Vitor lhe cuidará com amor, visto que o ama desde sua concepção, mesmo que jamais tenha lhe deitado os olhos. _Se levarem Kildar, morrerei, pois eis que minha existência está ligada á essa criança. O dia que ele de mim se afastar, positivamente morrerei. Tenho planos. E posso assegurar-te que nada de m*l lhe acontecerá. As irmãs acreditaram na palavra do pai, que agora parecia carente de se reconciliar com todos aqueles a quem fizera m*l. Acompanharam-no ao almoço que o pai preparara para comemorar a visita e a reconciliação de suas filhas, embora não pudessem deixar de perceber que o lugar de Vlarur se manteve vazio, se divertiram muito. Sem saberem, Vlarur estava em seu dormitório, onde tramava o assassínio do próprio pai. Anie e Analva, conheceram com pouco entusiasmo o filho de Vlarur. Seu nome era Korar. E se mostrou uma criança mimada, m*l educada e visivelmente extremamente egoísta, em seus quatro anos. Embora fosse assim, a pequena Luza, simpatizara com ele, talvez pela semelhança de idade, e não abandonou sua companhia toda a estada de suas tias no palácio, que durara cerca de duas semanas. Já Kildar, era uma criança calada, mas feliz. E estava sempre a observá-los. Afeiçoara-se muito a suas tias, que sempre estavam a lhe fazer companhia. Em uma tarde, poucos dias antes do regresso das irmãs, Analva estava com Kildar sentados em um banco do imenso jardim, contando-lhe histórias de príncipes e princesas, quando Kildar olhou em seus olhos e disse algo que viria a lhe tirar o sono durante vários anos. _Titia... Viste tu vestida de n***o a chorar diante do túmulo do meu avô. Vi também Luza se casando com Korar, mas estranho...Ela estava triste...Será porque? Achei que as noivas sempre estivessem felizes... Analva se levantou e ficou a fitá-lo preocupada com a visão que tivera, pois já era corrente em todo reino, que ele jamais errava em uma previsão. Os rumores a assustavam pois diziam que o menino seria um bruxo, por ser filho do pecado e da vergonha imposto por Vitor. Além do mais, se parecia com um anjo, e sua beleza pura e inocente, só poderia ser fruto do anjo m*l. Analva abraçou o sobrinho. O que poderia fazer para protegê-lo? Seu pai jamais permitiria que o removessem dali... Será que ele tinha verdadeira noção do perigo que seu neto corria ali? E se de fato viesse a falecer? Quem cuidaria para que nada de m*l lhe ocorresse até que chegassem ali, para levá-lo? Talvez sua mãe... Percebera que Kildar era seu preferido. Não. Era melhor se calar. Talvez as coisas que disse não passassem de devaneios de criança e não tinha direitos de preocupar outras pessoas com suas perturbações. Ela pensava. Porém, não conseguia deixar de pensar nas palavras do pequeno. Quando se despediam do pai, para voltarem ao seu reino, abraçaram o pai com lágrimas nos olhos. Pois, Analva sabia que podia ser a última vez que o via vivo. Anie, que a conhecia como a si mesmo, sentiu que algo de r**m lhe nublava os pensamentos e quando já seguiam viagem a interpelou. _Diga Analva , o que está acontecendo? Analva deu seu olhar inquisidor. _-Não sei do que falas... Anie revirou os olhos. _Estás assim pensativa e pesarosa, desde o dia em que brincava com Kildar no jardim...-Anie se interrompeu, com o brilho do entendimento no olhar. - Ele lhe disse algo, não? Uma previsão? Analva, mesmo acostumada não pode deixar de se surpreender com a perpiscácia da irmã. Suspirou resignada. Não adiantava tentar esconder nada daquela raposa! _Sim. _O que foi? _Não vai querer saber... _Diga mulher! _Viu papai morto e a nossa pequena Luza, infeliz num casamento com Korar.
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