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1257 Palavras
ALESSANDRO [•••] A minha casa fica em um condomínio bastante caro na cidade, mas escolhi o lugar por ser bastante calmo e seguro. Sei que é modéstia minha chamar só de "casa" quando o lugar tem três andares, 16 quartos — boa parte deles sem uso — e que custou mais de um milhão, mas com o passar dos anos me acostumei com o tamanho do lugar e as vezes sequer percebo o quão grande ela é. Assim que o portão automático do muro fecha logo atrás do carro, dirijo até a garagem que fica ao lado da casa — Ela não passa de um imenso compartimento aberto, onde também deixo a minha motocicleta e o jet ski. A garagem não tem portão, até porquê o terreno é completamente murado. A calçada que cruza o gramado é meio sinuosa e estreita, mas basta seguir com atenção para que os pneus do carro não derrapem e entrem no gramado. Eu subo pelo pequeno declive que leva até a garagem, estacionamento lá no fundo, quase encostando nos outros veículos — por que assim o carro fica bem longe do sol —, então saio dele e começo a caminhar até a porta que fica no canto. Essa não é a porta principal, mas definitivamente é a que eu mais uso por cortar distância e me levar diretamente até quase as escadas que levam até o segundo andar. O térreo da casa tem apenas uma gigantesca sala principal, a sala de estar, a cozinha e uma dispensa que deve ter comida para um ano inteiro. Quando comprei o lugar não havia absolutamente nenhum móvel, armário, painel para TV ou pia aqui dentro, mas fui comprando tudo aos poucos até que cada centímetro da casa estivesse ocupada e tivesse praticamente à minha cara, com sofás de couro, TV's nos quartos principais, tapetes persas e diversas outras coisas espalhadas por todos os lugares — Cuidadosamente organizadas. Começo a caminhar em direção as escadas em passos rápidos, ao mesmo tempo em que tiro o blazer e termino de desabotoar a camisa social, arrancando-a do meu corpo como se ela estivesse me dando coceira, mas a verdade é que estou de saco cheio de sentir esse negócio sob medida colado em mim como uma segunda pele depois de tantas horas vestindo isso. As escadas de mármore branco que levam para os andares superiores tem degraus pequenos, então subo de dois em dois para ir mais rápido. O segundo andar é onde ficam todos os quartos — cada um deles com seu próprio banheiro —, enquanto o terceiro andar é quase inteiramente feito de vidro, onde fica a piscina e a academia do lugar, além de uma pequena estufa repleta de plantas, embora não seja eu quem cuide de lá, mas sim a empregada que vem semanalmente dá uma limpadinha na casa. Caminho até a suíte principal, pretendendo tomar um banho de no mínimo uns vinte minutos, para então descer até a cozinha e comer a primeira coisa que aparecer pela frente, porquê apesar de ter uma dieta bastante rigorosa para manter esse corpo em forma mesmo aos 40, estou com fome o suficiente para sequer ligar para isso agora. [•••] São quase 5:30 da tarde quando acabo de comer uma bela porção de frango assado e batata doce. Estou vestindo não mais do que uns calça esportiva e calçando um dos vários pares de tênis que tenho, apesar de só usá-los aqui em casa, já que ser um advogado exige que sempre saia bem vestido, com roupas sociais e elegantes — pelo menos em lugares onde posso ser reconhecido. Estou quase caminhando até às escadas novamente para passar no mínimo umas duas horas na academia, já pensando em qual treino vou fazer hoje logo depois dos 20 minutos de cárdio, mas antes que chegue até às escadas de mármore, o som da campainha tocando ecoa pela casa, o que me faz ficar um pouco espantado, porque essa campainha não é usada nunca e está quase intocada desde que comprei o lugar — até porque para que alguém à toque, precisa passar pelo portão, e para passar pelo portão, precisa tocar o interfone do muro e esperar que eu o atenda. Estalo as juntas dos dedos e dou meia-volta, já começando a caminhar em direção à enorme porta de vidro da sala, que devido ao ângulo e dos raios solares do fim da tarde me impossibilita ver qualquer coisa através dela. Sou cético e velho o suficiente para não estar com medo. Se for um ladrão, não deveria ter tocado a campainha, certo? As portas são blindadas e não há como serem abertas por fora, então a única coisa que um criminoso iria conseguir com isso era ter sua cara gravada nas câmeras de segurança. Quando chego à dois metros da porta, já consigo ver uma silhueta masculina e esguia parada do outro lado. O rapaz parece ser adolescente, e apesar de ser quase da minha altura — tenho 1.90M —, ele é bem mais magrelo do que eu, com no mínimo uns 30 quilos à menos. O desconhecido não carrega nada mais que uma mochila presa em apenas um dos ombros, então caminho até lá e abro a porta para perguntar o que diabos ele está fazendo aqui — já que a casa também tem isolamento sonoro, então seria impossível escutarmos um ao outro. — O QUE DIABOS VOC... — Começo, ficando de frente para ele, mas paro de falar assim que meu olhar recai sobre seu rosto, que apesar de estar bem mais velho e anguloso do que me lembro, claramente é o mesmo. Ele deve ter crescido quase meio metro desde a última, já que não passava de um nanico quando o vi pela última vez, quando tinha 13 anos. Ele agora tem um corpo de homem, cortou o cabelo absurdamente liso e escuro que tinha, que agora está cortado rente à cabeça e descolorido. Ele tem um piercing na sobrancelha e seus braços estão repletos de tatuagens, mas os olhos de um frio tom de azul continuam exatamente os mesmos. — ISAAC?! — Exclamo, sem conseguir evitar, piscando várias vezes para descobrir se isso realmente é real. — Oi, Alessandro. — Ele abre um sorriso, embora definitivamente não seja um sorriso gentil, mas sim meio malicioso, o que com certeza diverge do rapazinho fofo que conheci à quase 8 anos atrás. — Cê cresceu pra c*****o!! — fico dividido entre abraça-lo e estender a mão para ele, porquê faz 7 anos que não o vejo. Faço as contas rapidamente e constato que agora ele tem 20. — O que faz aqui? — Por fim, resolvo estender a mão, então ele à agarra. Seu aperto é firme e ele aperta meus dedos com força, como se quisesse esmaga-los, então devolvo o aperto na mesma intensidade, enquanto as memórias chegam com tudo no meu cérebro. Lembro de quando ele era criança e fazia isso, me fazendo fingir sentir dor e grunhir baixinho para que ele se sentisse mais forte do que era. — preciso de um lugar para ficar. Espero que não se importe por ter pulado seu muro. — Diz ele, apoiando o peso do corpo na perna direita e abrindo outro sorriso. enquanto falava, percebi um leve brilho metálico na sua língua, que só podia vir de um piercing, o que me deixa completamente surpreso. Como diabos meu enteado, aquele garotinho levado, se transformou... Nesse cara? [•••]
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