Cap 1 - Laura

768 Palavras
A Madame do Morro Capítulo 1 – Laura A Rocinha nunca dorme. Entre vielas estreitas e barracos coloridos, a vida pulsa num ritmo próprio, marcado pelo batuque dos bailes, pelo corre dos vapores e pelo olhar atento de quem aprende cedo a se proteger. No meio desse mundo, vive Laura, conhecida por sua doce inocência. Cresceu cercada pelo carinho dos pais e dos irmãos, sem nunca perder a ternura, mesmo quando a realidade ao redor mostrava dureza. Seu irmão mais velho, Gustavo, sempre foi a sombra protetora. Forte, fechado, respeitado. Todos sabiam: ele não era apenas mais um na comunidade, mas sim o braço direito de Vasco, o chefe da facção que comandava a Rocinha. Isso fazia de Laura alguém intocável — mas também alguém vigiada de perto. O que ninguém esperava era que o coração dela escolhesse se apaixonar justamente por quem não deveria. E é nessa mistura de amor proibido, segredos e superação que começa a história da Madame do Morro. Sou branca, olhos castanhos que às vezes parecem até mel quando a luz bate diferente. Meu cabelo é preto, liso e vai até a b***a. Sempre escuto que meu corpo chama atenção — pernas grossas, b***a empinada, s***s médios. Nunca dei muita importância, mas sei que olham. Moro com meus pais na Rocinha, estudo e trabalho porque sempre gostei de ter meu dinheiro, mesmo com Gustavo ajudando em casa. Além dele, tenho mais três irmãos. Marciel, que se envolve no tráfico junto com Rodrigo. Carlos, que trabalha numa clínica mas ainda mora com a gente. E a Paula, a mais velha, que saiu daqui faz tempo e agora vive no asfalto, trabalhando em padaria. Minha vida sempre foi simples. Escola, trabalho, casa. Mas de uns tempos pra cá, tudo parece estar mudando. Esses dias, enquanto eu subia a contenção, senti um olhar queimando minha pele. Quando virei, era ele: Vasco. O chefe. O homem que manda e desmanda aqui na comunidade. O nome que ecoa nas vielas e que até os mais ousados respeitam. Ele já vinha me olhando fazia alguns dias, mas dessa vez… foi diferente. O jeito que os olhos dele correram pelo meu corpo não era só de curiosidade. Era desejo. E eu, por mais que tentasse ignorar, percebi. E percebi também o arrepio que subiu pela minha pele. No caminho de volta pra casa, ainda com aquele olhar de Vasco grudado na minha pele, encontrei Bia, minha melhor amiga. Ela vinha descendo a ladeira, mochila jogada no ombro e aquele jeito debochado que sempre teve. — E aí, Laurinha… tá com a cabeça longe, hein? — ela disse rindo, já percebendo que eu tava distraída. Bia me conhece como ninguém. Desde criança, a gente compartilha segredos, medos e sonhos. É como uma irmã de coração. Não consegui segurar e soltei logo: — Amiga… o Vasco tava me olhando de novo. — O quê? — ela arregalou os olhos, surpresa. — Como assim “olhando”? Suspirei fundo, mexendo no cabelo, nervosa. — Olhando daquele jeito… sabe? Não é de hoje. Eu tô sentindo, Bia. Ele me olha com desejo. Ela ficou em silêncio por alguns segundos, como se processasse o que eu tinha acabado de falar. Depois, fez uma careta séria. — Laurinha, isso não é brincadeira. Você sabe quem ele é. Vasco não é moleque do beco, não. Ele é o chefe, a voz que comanda tudo aqui. Se ele botar os olhos em você… — ela parou, olhando pro chão — …vai ser complicado. Eu já sabia. Desde o primeiro olhar, entendi que não era algo simples. Mas ouvir dela só fez meu coração bater mais rápido. Parte de medo, parte de algo que eu nem queria admitir. Pra desviar o assunto, encarei minha amiga e soltei um sorriso malicioso: — E você? Vai me falar quando vai admitir que é doida pelo Gustavo? Ela quase tropeçou, empurrando meu braço rindo, mas vermelha igual pimentão. — Ih, cala a boca, Laura! Não viaja! Eu e teu irmão? Nada a ver. — Sei… vocês nunca tiveram nada, mas eu vejo o jeito que você olha pra ele. — falei, provocando. Bia revirou os olhos, mas não negou. Só riu e mudou de assunto, como sempre fazia quando Gustavo entrava na conversa. A gente seguiu andando juntas, mas dentro de mim a confusão só aumentava. Vasco, com aquele olhar que me despia sem tocar… e minha melhor amiga, guardando no coração um sentimento escondido pelo meu irmão. A Rocinha tinha olhos em todos os cantos, e eu começava a perceber que a minha vida tava prestes a mudar. Continua .
Leitura gratuita para novos usuários
Digitalize para baixar o aplicativo
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Escritor
  • chap_listÍndice
  • likeADICIONAR