Capítulo 25. um mês depois

546 Palavras
O sol começava a descer sobre o vilarejo, pintando as colinas de tons dourados e rosados.Amélie caminhava pela estrada de terra com o avental dobrado sob o braço e o coração apertado. Fazia quase um mês desde que passara a viver na mansão Cavalcante um mês de silêncio, olhares julgadores e longas horas de serviço. Mesmo assim, naquela tarde livre, ela decidiu visitar a casa onde crescera.As janelas estavam abertas, e o cheiro de pão recém-assado escapava para a rua. Ao cruzar a porta, viu Teresa e Clara se virando surpresas, correndo para abraçá-la. — Amélie! — exclamou Clara emocionada. — Achamos que você não voltaria mais… — Claro que voltaria — respondeu ela com um sorriso cansado. — Eu só precisava de tempo. Mas antes que pudesse dizer mais, Frederic surgiu na soleira do quarto, o rosto abatido, os olhos fundos, a barba por fazer. Ele olhou para a filha mais nova com uma mistura de culpa e raiva contida. — Filha... — murmurou ele, a voz rouca. — Você foi mesmo pra casa deles. O sorriso de Amélie desapareceu.Ela abaixou os olhos, segurando o avental com força entre os dedos. — Papá… eu só quis ajudar. — Ajudar? — ele repetiu, dando um passo à frente. — Você acha que se humilhar pra aquela gente é ajudar? Eu devia estar lá, não você! Teresa tentou intervir, tocando o braço dele. — Papá, por favor, não fale assim… ela fez o que achou melhor. Mas Frederic afastou-se, passando a mão pelos cabelos em desespero. — Eu devia ter impedido. Eu devia ter resolvido isso antes! — Sua voz falhou, e por um momento ele pareceu menor, vencido. — Sua mãe se reviraria no túmulo se visse o que essa família está fazendo conosco. Amélie respirou fundo, esforçando-se para manter a calma. — Papá, não está tão r**m quanto parece — mentiu, a voz baixa. — Eles me tratam bem, eu tenho um quarto só meu, comida todos os dias… está tudo certo. Teresa, Clara e Isabel se entreolharam, desconfiadas.Elas sabiam que o brilho nos olhos da irmã não era de tranquilidade, mas de cansaço. Frederic, no entanto, não acreditou.Ele olhou fixamente para Amélie, e sua expressão endureceu. — Você está dizendo isso pra me poupar, não é? — Não, papá — Ela forçou um sorriso, mesmo sentindo a garganta apertar. — Estou dizendo porque é verdade. Eu estou bem e vou continuar bem! Um silêncio pesado se instalou.Frederic deu as costas, foi até a mesa e serviu-se de um copo de vinho, as mãos trêmulas. — Espero que esteja mesmo — murmurou. — Porque se aquele maldito rapaz ou a mãe dele fizerem algo contra você… eu juro que… Ele não terminou a frase. Amélie se aproximou devagar, tocou o braço dele com delicadeza. — Está tudo sob controle, papá — E mentiu outra vez, sentindo o peso daquelas palavras lhe esmagar o peito. Ela permaneceu ali por alguns minutos, conversando com as irmãs, tentando parecer forte, até que o sol desapareceu completamente atrás das colinas.Despediu-se delas com um abraço longo e silencioso e, quando saiu para a estrada, o vento frio da noite fez seus olhos arderem. Enquanto caminhava de volta à mansão, o pensamento a atormentava: "Quanto tempo conseguirei esconder a verdade?”
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