NOAH MONTEIRO
Hoje é o grande evento da cidade de Ouro Preto, o centro está lotado de pessoas que vem de cidades vizinhas para essa bela festa que ocorre o dia todo. Igrejas arrecadaram brinquedos e roupas o ano todo para distribuir aos menos afortunados, alguns moradores montaram tendas onde vendem algo e todo o valor é usado para alimentar os pobres nesse natal e ano novo. Esse ano pedi aos meus funcionários que fizessem bolos de diversos sabores para serem vendidos, todos concordaram em ajudar com gosto, afinal é para uma boa causa, e como sempre, eu estou a frente da tenda onde está sendo vendida essas delicias.
Suzane como sempre não vem, diz que detesta se misturar com "gentinha", eu prefiro não rebater e até agradeço, assim posso fazer meu trabalho em paz sem ela enchendo o meu saco.
— Precisando de uma mão?— me surpreendo com a presença de Flávio no evento, faz cinco anos que ele não participa devido ao escândalo que sua família armou quando ele se assumiu homossexual. Ele é irmão gêmio de Suzane, mas é extremamente o oposto não só dela, mas da família difícil que ele tem.
— Olha, estou surpreso de lhe ver aqui, faz cinco anos que não aparece no evento da cidade.— ele sorri sem graça.
— Digamos que cansei de me esconder, vou me mudar de Belo Horizonte, acho que é melhor viver aqui, fica mais perto da fazenda e quando aquele assunto foi pra mídia, todos dessa pequena cidade me acolheram, aqui acho que posso ser quem eu sou.— dou leves tapinhas em seu braço mostrando todo o meu apoio e orgulho. Flávio é como um irmão pra mim.
— Pode me ajudar em atender as pessoas, parece que nossa tenda está fazendo sucesso.— murmuro.
— Sabe que só está vendendo muito porque está aqui, as mulheres da cidade tem um t***o fodido em você.— começo a ri.
— Usar isso ao meu favor, afinal, é por uma boa causa.
— Poderia aproveitar e achar uma mulher entre elas, e mandar Suzane pra p**a que pariu.
— Sabe que me divorciar está fora de questão, eu sou uma pessoa que gosta de honra com meus deveres, e Suzane é um deles, por mais que não a ame.— ele revira os olhos verdes.
— Quanto tempo tem que não transa? Imagino como deve ser o sexo com alguém que você não sente nem atração.— isso é algo que realmente é complicado, estou casado a três anos com Suzane e é contado nos dedos da mão quantas vezes tivemos algum tipo de relação mais intima e sempre é ela quem procura.
Suzane sabe que casei com ela sem amor algum, que fui forçado e mesmo assim aceitou, dizendo que iria me conquistar e no fundo, eu pensei que com o tempo, eu poderia ao menos gostar dela, mas nem isso. Ela é um ser intragável, adora pisar nas pessoas, me trata como uma mercadoria, acha que tudo tem que ser do jeito dela e uma vez ela quase agrediu uma funcionária só porque a moça esqueceu de lavar uma de suas blusas favoritas, eu intervir e disse que se ela tentasse isso novamente com a moça ou com qualquer outro funcionário, eu iria passar por cima da minha palavra e iria me divorciar dela, mesmo que isso significasse perder toda a minha fazenda. Violência é uma coisa que odeio, ainda mais com pessoas inocentes e sem motivo algum.
— Ao menos coma alguém e saia dessa abstinência, qualquer uma e melhor que a vaca da minha irmã.— prende seu cabelo loiro em um coque alto.
— Admito que as vezes sinto vontade de ter um bom sexo, mas eu sou casado belo amigo, acho traição algo r**m demais, ao menos se um dia eu sair desse casamento, quero sair de cabeça erguida.
— Um dia, você vai achar alguém que vai faze-lo mudar de ideia e fazer você pedir esse divorcio rapidinho, só espero que não demore muito.— murmura olhando para mim, mas logo vejo seu olhar desviar para algo atrás de mim, quando olho para trás, percebo que Flávio está olhando o homem que anda com caixas na mãos indo até uma tenda. Cabelo escuro, barba, forte e acho que um pouco menor que eu.
— Seca a baba.— zombo.
— Quem é aquela bela criatura? Nunca o vi na cidade.
— Também nunca o vi por aqui.— continuo observando para onde o homem carrega a caixa e me surpreendo quando vejo ela, a moça que não sai da minha cabeça, ela sorri para o homem e da espaço para ele levar a caixa para dentro da tenda.— Aquela moça, a tal Gabriela.— murmuro.
— A herdeira? Uau, agora entendo porque não tira ela da sua cabeça, a moça é linda, será que aquele homem é namorado dela?
— Acho que não, pode ser o irmão adotivo que veio com ela.— meu amigo da pulinhos de alegria.
— Então não custa nada conhecer minha nova cunhada.— Flávio caminha até lá me deixando ali sozinho.
Mas até prefiro assim, dessa forma, posso a admirar de longe, sei que nunca poderia tentar algo com ela, mas acho que admirar e olhar não custa nada.
— Filho, tudo bem?— saio dos meus devaneios com a voz do meu pai.
— Sim, está sim.— ele olha para onde meus olhos estão fixados e log o diz.
— Bela moça, é nova na cidade?
— É a filha do Bernardo de Lins.— ele arregala os olhos.
— É ela?! linda moça, com certeza deve ser por isso que os homens estão indo tanto para aquela tenda.— Antonio percebe que não comento nada e então ele fala.— Porque não vai lá conversar com ela? Posso ficar aqui, encarregado de vender os bolos.
— Pai, por favor.
— Conversar não é nada demais, não estou pedindo para trair sua esposa, somente conversar com ela.— parece que é coisa do destino. Nossos olhares se cruzam e Gabriela abre o mais belo dos sorrisos para mim da um breve aceno e eu igual um i****a retribuo, isso foi o suficiente para ela vir na minha direção.
Puta que pariu!
— Acho que vou deixa-los, a vontade.— meu pai se afasta para atender os clientes, e antes que eu faça algo, Gabriela já está bem na minha frente. Cabelo escuro e liso preso em um r**o de cavalo, calça jeans escura, blusa branca sem mangas e p***a, ela está sem sutiã, posso ver o bico dos seus s***s pelo tecido da blusa.
Porra, isso só pode ser alguma provação.
— Olá vizinho, vejo que a sua tenda está fazendo sucesso, em especial com as mulheres.
— Devo dizer o mesmo da sua.— tendo fingir não está tenso de ante de sua presença.
— Estamos vendendo cafés feito com a plantação da fazenda e biscoitos de diversos sabores, café com leite também para quem gosta.— a animação dela me contagia.
— Parece bom, já aqui estamos vendendo bolos, de vários sabores.— vejo os olhos dela brilharem.
— Sério? Eu amo bolo em especial de morango.— faço um sinal para ela esperar um pouco, vou até a vitrine e pego um pedaço generoso, coloco em um pratinho com uma colher. Volto para onde ela está e ela abre um sorriso enorme quando vê o bolo.
— Cortesia da casa.— ela pega o pratinho das minhas mãos e novamente, quando nossas mãos se tocam, aquela sensação que tive a primeira vez que a toquei, surge ainda mais forte.
Ela fecha os olhos e aperta seus lábios e sua cara de satisfação e me faz ficar feliz.
— Isso está uma delicia.— elogia.
— Agradeça as cozinheiras da fazenda, elas tem mãos de fadas para a comida, não as troco por nada.— ela leva mais um pedaço a boca.
— Precisa provar os biscoitos, eu a minha mãe que fizemos, claro que tivemos a ajuda das funcionárias, mas a receita é nossa.— antes que eu diga algo, ela me puxa pelo braço e eu sei que tenho mais força que ela, mas me deixo levar, ela parece tão animada que não quero estragar a empolgação dela.
Ao chegar-mos na sua tenda, ela pede a uma das moças para pegar um café.
— Eu vou buscar os biscoitos.— Gabriela entra em sua tenda e logo Flávio e o tal homem aparecem, rindo de algo.
— Ei, você aqui?— questiona Flávio.
— Prova, trouxe um de cada.— Gabriela surge com um pratinho em mãos.— E também é por conta da casa.
— Vai adorar os biscoitos, minha mãe e minha irmã passaram a noite assando e fazendo eles para ficarem bem frescos.— murmura o tal homem.— Prazer, me chamo Henrique, sou o irmão da Gabriela.
Por algum motivo, me sinto aliviado em saber que ele, é só o irmão dela.
— A noite toda? Deve está bem cansada.— murmuro.
— Que nada, estou acostumada a virar noites, principalmente quando corrigia as provas dos meus alunos.
— É professora?
— Pedagoga, dou aula no fundamental do Rio de Janeiro, quer dizer, eu dava, tenho planos de abrir uma escola aqui na cidade com todo tipo de educação acessível e de graça para a população.— fico surpreso com a sua revelação.
— Viu só, Noah, a moça além de linda, é gentil e bondosa.— dou um olhar para Flávio ficar quieto, mas ele ignora.— Noah tinha vontade de fazer esse tipo de projeto, mas nunca achou alguém adequado como professor para auxilia-lo nisso, parece que agora tem. Parece até coisa do destino.— eu vou matar o Flávio.
— Bom, acho que seria algo bom, ter os dois sobrenomes mais influentes nesse projeto, chamaria mais atenção e poderia conseguir investidores nesse processo, as pessoas da cidade iriam amar.— comenta o tal Henrique.
— Eu não sei se seria uma boa ideia.— me surpreendo com suas palavras.
— Porque, mana?
— Henrique, o Sr Monteiro é casado, e sabe como a esposa dele não vai muito com a minha cara, e eu não estou afim de ir pra cadeia por bater em alguém, me desculpe, mas sua esposa é um pé no saco.— rio com as suas palavras sinceras.
— Minha irmã é isso e muito mais, mas para um projeto tão lindo quanto esse, acredito que para a imagem dela, ela não vai se opor.— murmura Flávio.
— Irmão dela?!— Gabriela indaga surpresa.
— Não se preocupe, sou, mas não queria ser.
— Acho que deveria pensar melhor irmã, é uma boa causa e esse sempre foi seu sonho.— ela parece pensativa.
Sinto que futuramente, isso vai me da dor de cabeça, mas pela primeira vez, desde que me casei, quero ligar o famoso f**a-se e seguir com os meus instintos.
— Podemos marcar uma reunião para discutir sobre esse projeto.
— Você...
— Vai ser um prazer, realizar esse sonho, Srta Castro.