Pressão é uma coisa engraçada. Faz algumas pessoas surtarem, como aquele aluno do MIT, que decidiu matar metade do corpo estudantil, com um rifle de longo alcance, por ter tirado B na prova final. Também faz com que algumas pessoas falhem. Já ouviu falar de Jorge Posada? A pressão faz com que algumas pessoas caiam. Desmoronem. Congelem.
Não sou igual a essas pessoas. Funciono sob pressão. Ela me induz, me leva ao sucesso. É meu elemento. Como um peixe na água.
No dia seguinte, vou trabalhar animada e bem cedo. Vestida para matar, com cara de confiante.
É hora do show.
Sofia e eu chegamos à sala do meu pai às nove da manhã em ponto. Não consigo não dar uma olhada nela. Ela parece bem. Confiante. Empolgada. Aparentemente, ela reage ao estresse da mesma maneira que eu.
Meu pai nos explica que Saul Anderson ligou para avisar que chegaria à cidade antes do previsto. Amanhã à noite.
A maioria dos empresários faz isso. Adianta suas reuniões de última hora. É um teste. Para ver se você está preparado. Para ver se você consegue lidar com o inesperado.
Sorte minha – eu estou e posso.
Então, começamos. Mas antes, Insisto que ela comesse primeiro.
Assisto à apresentação de Sofia como uma criança observa um presente na árvore de Natal. Ela não sabe disso, claro. Minha cara é a indiferença em pessoa. No entanto, por dentro, m*l posso esperar para ver o que ela conseguiu fazer.
Não estou frustrada. Não fale para ninguém que eu disse isso – vou negar até a
morte –, mas Sofia Copper é incrível. Quase tão boa quanto eu.
Quase.
Ela é direta, clara e muito persuasiva. Os planos de investimento que apresenta são únicos e criativos. Destinados a renderem muito dinheiro. Seu único ponto fraco é que ela é nova. Ainda não tem os contatos necessários para fazer com que suas propostas aconteçam. Como já disse, uma parte deste negócio – uma grande parte – é ter os
contatos certos. Ter as informações sigilosas e os segredos sujos que pessoas de fora não conseguem acessar.
Portanto, embora as ideias de Sofia sejam poderosas, elas não são totalmente viáveis. Não são vencedoras.
Agora é minha vez.
Por outro lado, minhas propostas são sólidas para c****e. As empresas e os investimentos que apresento são bem conhecidos e seguros. Falando em benefícios, meus lucros projetados não são tão altos quanto os de Sofia, mas são verdadeiros. Fidedignos.
Seguros.
Após minha conclusão, sento-me ao lado de Sofia no sofá. Está nos vendo lá? As mãos dela estão cruzadas em seu colo, está com a postura reta, e mostra um sorriso confiante e satisfeito em seus lábios. Eu me inclino no sofá, minha postura é relaxada, com um sorriso de confiança semelhante ao dela.
Você aí fora que me acha um bosta, observe com atenção. Você vai amar esta parte.
Meu pai limpa sua garganta e posso ver um brilho de empolgação em seus olhos. Ele esfrega as mãos e sorri.
– Sabia que meus instintos estavam certos desta vez. Não consigo descrever como
estou impressionado com as coisas que vocês me trouxeram. E está óbvio quem deve
seguir em frente com o Anderson.
Ao mesmo tempo, Sofia e eu trocamos um sorriso malicioso, com um ar triunfante em nossos rostos.
Espere só...
– Você duas.
A ironia é mesmo um pé no saco, não é?
Nossos olhos se voltam para meu pai e nossos sorrisos desaparecem mais rápido do
que um cometa. Nossas vozes surpresas falam ao mesmo tempo.
– O quê?
– Como assim?
– Com seu talento artístico para investir, Sofia, e seu know-how sólido, Dakota, vocês duas serão perfeitas juntas. Uma equipe imbatível. As duas podem trabalhar na conta. Quando ele fechar connosco, vocês podem compartilhá-lo, a carga de trabalho e os bônus, meio a meio.
Compartilhá-lo? Compartilhá-lo?
Será que o velho enlouqueceu de vez? Será que eu pediria para ele compartilhar algo que ele se matou para fazer? Ele deixaria alguém dirigir seu Mustang conversível vermelho de 1965? Ele abriria a porta do quarto e deixaria outro homem t*****r com sua esposa?
Tudo bem, fui muito longe. Retiro o que disse – levando em conta que sua esposa é minha mãe. Esqueça que já mencionei minha mãe e a ação de t*****r na mesma frase.
Isso está... errado. Em muitos níveis.
Mas, pelo amor de Deus, diga que você me entende.
Meu pai deve ter finalmente olhado para nossas caras, pois pergunta:
– Isso não será um problema, certo?
Abro minha boca para lhe contar o quão grande é este problema. Mas Sofia passa na minha frente.
– Não, senhor Cameron, claro que não. Problema algum.
– Maravilhoso – ele bate palmas e se levanta. – Tenho um jogo de golfe daqui uma hora, então vou deixar na mão de vocês. Vocês têm até amanhã à noite para coordenar suas propostas. Anderson estará no La Bernadin às sete.
Em seguida, ele me dá um olhar fatal:
– Eu sei que você não me decepcionará, Celeste.
Merda.
Não importa que você tenha sessenta anos, quando um pai fala seu segundo nome inteiro, ferra com seus argumentos contra ele.
– Não, senhor, não irei.
E, assim, ele sai. Sofia e eu ficamos sentadas no sofá, nossas expressões estão atordoadas, como sobreviventes de um ataque nuclear.
– “Não, senhor Cameron, claro que não” – resmungo. – Será que dá pra ser um pouco mais puxa-saco?
– Cala a boca, Dakota – Ela sussurra.
Depois, suspira:
– O que vamos fazer agora?
– Bem, você podia fazer o que é certo e desaparecer – claro, como se isso fosse acontecer.
– Pode ir sonhando.
Eu sorrio maliciosamente.
– Na verdade, sonho com você se debruçando em algo... não desaparecendo.
Ela faz um som de repulsa.
– Você consegue ser mais nojenta?
– Estou brincando. Por que você tem que ser tão séria o tempo todo? Você devia aprender a não ficar brava por causa de uma piada.
– Eu aguento uma piada – ela me diz, parecendo ofendida.
– Ah é? Quando?
– Quando a piada não é feita por uma i****a infantil, que acredita ser um presente que Deus deu às mulheres.
– Não sou infantil.
Mas um presente de Deus? Meu histórico prova tudo.
– Ah, vá se f***r!
Preferia f***r outra coisa.
– Ótima resposta, Sof. Bem madura.
– Você é uma babaca.
– Você é uma... uma Lili.
Ela para por um segundo e me olha sem entender nada.
Ela para por um segundo e me olha sem entender nada.
– O que isso significa?
Pense sobre isso. Isso irá te atingir.
Esfrego minha mão em meu rosto.
– Beleza, olhe, isso não vai nos levar a lugar nenhum. Estamos ferradas. Nós duas ainda queremos Anderson e o único modo de consegui-lo é dar um jeito de
trabalharmos juntas. Temos... trinta horas pra fazer isso. Topa ou não topa?
Seus lábios se apertam, mostrando absoluta determinação.
– Você está certa. Eu topo.
– Me encontre na minha sala daqui uns vinte minutos e aí começamos o trabalho.
Espero ela discutir comigo. Espero ela me perguntar por que temos que nos encontrar na minha sala – por que não podemos trabalhar na sala dela –, como uma dona de casa resmungona. Mas ela não faz nada disso.
Ela apenas diz: “Ok”. E sai da sala para pegar o resto de suas coisas.
Estou surpreso.
Talvez isso não seja tão r**m quanto eu imaginava.
***
– É a ideia mais burra que já escutei!
Não, é muito pior.
– Pesquisei sobre o Anderson. Ele é antiquado. Não vai querer ficar na frente de um computador a noite inteira. Ele vai querer algo sólido, tangível. Algo que possa levar pra casa. É isso o que darei a ele!
– Esta é uma reunião de negócios multibilionária, não uma feira de ciências do quinto ano. Não vou entrar lá com a p***a de um cartaz!
Já passa da meia-noite. Estamos em minha sala há pouco mais de doze horas. Com exceção destes pequenos detalhes, cada aspecto de nossa apresentação foi produzido, negociado e acordado.
Sinto-me como se tivesse acabado de negociar um acordo de paz.
Neste momento, Sofia já está com seus cabelos soltos e sem sapatos. Estou sem meu blazer, com dois botões da camisa abertos. Nossa aparência podia fazer com que as coisas ficassem amigáveis – íntimas –, como aquelas noites de estudos na faculdade.
Se não estivéssemos tentando nos esganar, claro.
– Não estou nem aí se você concorda ou não concorda. Estou certa sobre isso. Voutrazer o cartaz.
Eu me rendo. Estou muito cansada para brigar por causa de um papel.
– Beleza. Apenas... diminua um pouco.
Há algumas horas, pedimos comida e trabalhamos durante o jantar. Eu comi macarrão com frango, enquanto Sofia preferiu um sanduíche de peru com batatas fritas. Por mais que odeie admitir isso, estou impressionada. Ficou claro que ela não é uma daquelas mulheres que fazem um juramento de que “podem comer apenas salada na frente dos outros”. Quem falou isto para elas? Até parece que alguém contaria a seu amigo: “Cara, ela era muito feia, mas depois que vi ela mastigando aquela alface, eu tinha que comê-la”.
Ninguém quer t*****r com um esqueleto – e jantar biscoito e um copo d’água, como um prisioneiro de guerra, não é nada atraente. Isso só nos faz pensar como você ficará irritante mais tarde, pois estará morta de fome. Se uma pessoa estiver a fim de você? Um cheeseburger delicioso não vai espantá-lo. Mas e se ele ou ela não estiver a fim? Ingerir todas as verduras de uma fazenda não os fará mudar de opinião, acredite em mim.
Agora, de volta à batalha real.
– Sou eu quem vai falar – eu a aviso com firmeza.
– Não, de jeito nenhum!
– Sofia...
– Essas são minhas ideias e sou eu quem vai apresentá-las!
Ela deve estar tentando me enlouquecer de propósito. Ela está tentando fazer com que eu perca a cabeça. Deve estar torcendo para que eu me jogue da janela, só para me livrar dela. Aí terá o Anderson só para ela.
Bem, seu esqueminha maquiavélico não vai funcionar. Vou me manter calma. Vou contar até dez. Não vou deixar Sofia me abalar.
– Saul Anderson – eu digo – é um empresário antiquado. Você mesma acabou de dizer. Ele vai querer conversar com outro empresário, não com alguém que ele vê como uma secretária de sorte.
– Este é o comentário mais machista que já ouvi. Você é nojenta!
A calmaria desaparece rapidamente.
– Não disse que eu penso desse modo, disse que ele pensa assim! Céus!
E é verdade. Não me importo o que você está levando em suas calças ou em que time você joga. Um p*u, uma b****a, ou ambos – para mim é tudo igual. Contanto que você faça seu trabalho direito, é isso o que importa. No entanto, Sofia parece determinada em pensar o pior de mim.
Passo minhas mãos pelos cabelos para me livrar um pouco da frustração que me faz querer sacudi-la.
– Olha, é assim que as coisas funcionam. Tentar fingir que alguns estereótipos não existem, não vai fazer com que eles sumam. Temos uma chance maior em conseguir o Anderson se você me deixar falar.
– Eu disse não! Não me importo com o que você pensa. Com certeza, não.
– Céus, você é tão teimosa. Parece uma mula irritada na menopausa!
– Eu sou teimosa! Eu sou teimosa? Bem, talvez eu não precisasse ser assim se você não fosse a maníaca-por-controle!
Ela está certa sobre a coisa do controle. Mas o que posso dizer? Gosto das coisas feitas do jeito certo – do meu jeito. Não vou me desculpar por isso, ainda mais para a Senhorita Certinha.
– Pelo menos eu sei o momento certo de ceder, ao contrário de você. Você anda por aí como uma perfecionista tensa sob efeito de anfetaminas!
Neste momento, ambas estamos em pé, a menos de um passo uma da outra, nos encarando. Sem os saltos de Sofia, sou mais alta, mas ela não parece se intimidar com isso.
Ela me cutuca no peito quando argumenta.
– Você nem me conhece. Não sou tensa.
– Ah, por favor. Nunca vi uma pessoa precisar t*****r tanto como você. Não sei oque seu noivo está fazendo contigo. Mas o que ele estiver fazendo, não está fazendo
direito.
Sua boca se abre, formando um grande O, diante do meu insulto contra seu noivo. De canto de olho, vejo sua mão vindo em minha direção, pronta para me dar um tapa no rosto.
Não é a primeira vez que uma mulher tentou me dar um tapa. Isso não te surpreende, certo?
Agindo como uma profissional, seguro seu pulso antes que ela toque minha bochecha e abaixo seu braço.
– Caramba, Sof, pra uma mulher que diz não querer trepar comigo, você está commuita vontade de ter algum contato físico.
Ela levanta a outra mão para tentar me bater pelo outro lado, mas eu a bloqueio de novo e agora estou prendendo suas duas mãos em seus quadris. Eu sorrio maliciosamente.
– Precisa melhorar, querida, se você quiser um pedaço meu.
– Eu te odeio! – ela grita para mim.
– Eu te odeio mais! – eu rebato.
Reconheço que esta não foi minha melhor resposta, mas foi o melhor que consegui fazer nas atuais circunstâncias.
– Ótimo!
É a última palavra que ela diz.
Antes de nossos lábios se chocarem.