Capítulo 41

1700 Palavras
Terror Tava sentado na mesa, acompanhado do RD. O jogo de baralho aberto na mesa, a TV ligada, mas a mente tava longe. A Manuela tinha saído pra visitar o Iago, e é f**a não poder tá lá. Saudade daquele moleque pra c*****o. Eu tava calado fazia um tempo, só observando as cartas na minha mão e pensando que fazia dois meses que ele tava lá dentro. — E aí, parceiro? — o RD riu, jogando a carta dele. — Tu vai deixar eu ganhar mais uma? Dei um meio sorriso, sem olhar pra ele. Nem tava prestando atenção na p***a do jogo. A cabeça tava longe. — Tu tá esquisito hoje, hein — ele comentou. — Desde que a Manuela saiu pra visita, tu tá mudo. — É — murmurei. Sei lá, acordei com um sentimento r**m pra carai. Até levei um papo com a Manuela hoje cedo, antes dela sair de casa, sobre isso. Mandei ela ficar esperta, se notar qualquer bagulho estranho. Não costumo sentir esses bagulhos, mas hoje esse sentimento tá f**a pra c*****o. Joguei minha carta e ganhei a p***a do jogo, e o RD soltou uma gargalhada. Já ia zoar ele quando o meu telefone começou a tocar em cima da mesa. Peguei e vi o número desconhecido. Mas atendi mesmo assim. — Fala. Do outro lado, a voz era baixa, como se a pessoa cochichasse, mas dava pra perceber a tensão. — Bernardo… é o Maurício. Na hora, me encostei na cadeira. O RD, que tava pegando uma cerveja, virou pra mim. O Maurício só ligava quando o assunto era o Iago. Nós sempre tem uns parceiros dentro do bagulho, sabe como é. — Fala, Maurício. — É o Iago. — a voz dele pausou um pouco. — Aconteceu uma parada feia agora há pouco com ele. — Que p***a de parada? — perguntei, apoiando os cotovelos nos joelhos. — Um maluco tentou apagar ele aqui dentro. Teu filho tá m*l, saiu desacordado. Levaram pro Souza Aguiar. Cara, senti quando a minha alma saiu do corpo. Olhei pro RD sem conseguir falar nada por alguns segundos, enquanto ele me chamava. — Tá vivo? — perguntei. Eu só queria saber isso. — Quando saiu daqui tava respirando. Mas tava m*l. — Quem fez essa p***a? — Um preso de outra ala que conseguiu entrar aqui. Certeza que facilitaram essa p***a. — Valeu. — falei rápido e desliguei. Apertei o celular na mão, sentindo o ódio pulsar entre os dedos. O baralho ficou esquecido na mesa e o RD só me olhava, assustado. — Que que foi, Terror? — perguntou, largando a cerveja. — Tá branco, pô. Passei as duas mãos no rosto, rápido, tentando segurar o desespero que vinha subindo com força. — Tentaram matar o Iago... — falei. — Lá dentro do presídio. — Como assim, c*****o? Quem fez essa p***a? Me levantei de uma vez, a cadeira quase caiu pra trás. — Não sei, mas vou descobrir. Eu vou virar aquela p***a de cabeça pra baixo até achar esse filho da p**a. Peguei o telefone de novo, a mão suando frio. Liguei pra Manuela. O som do toque parecia uma eternidade. — Atende, porra... — murmurei. — Alô? — ela atendeu. — Manu... — engoli seco. — Vai pro Souza Aguiar agora. — O quê? O que aconteceu? — a voz dela já aflita. — O Iago... — respirei fundo, o corpo inteiro tensionado. — Tentaram matar ele agora... lá dentro da cadeia. Tão levando ele pro hospital. Por alguns segundos, só dava pra ouvir a respiração dela do outro lado. — Meu Deus, não... — ela murmurou, chorando. — Vai pra lá, amor. — falei rápido. — Eu não posso ir, tu sabe. Tô com essa p***a de mandado de prisão no meu nome e lá deve tá cheio de polícia. Vai tu e me liga assim que souber como ele tá. — Tá bom... eu tô indo agora. — respondeu, chorando. — Tô indo lá. Desliguei e fiquei parado com as mãos na cabeça, o peito subindo e descendo rápido. — Terror, vou pedir a Any pra descer pra ficar com ela? — Valeu, parceiro. — falei firme. Levantei a cabeça, passei a mão nos cabelos, nervoso. — Eles vão se arrepender de terem encostado no Iago... — murmurei, a voz grossa. — Eu vou acabar com um por um. Manuela Tava tão nervosa que nem lembrava direito do caminho até o hospital. A mão no volante tremia enquanto eu acelerava. Parei o carro na frente do hospital e saí correndo. Entrei pelas portas de vidro e fui direto pro balcão. — Moça, por favor... — falei, ofegante. — O meu filho... o nome dele é Iago Ferreira da Silva, ele tá preso e foi trazido há pouco pro hospital! A recepcionista me olhou, assentindo. — Vou buscar informações aqui. — Preciso saber como ele tá. — falei pra ela. A moça puxou o telefone, discou e começou a falar baixinho com alguém. Apoiei as mãos na bancada e só rezava pedindo pra Deus guardar o Iago. — Chegou um rapaz aqui, sim. — disse. — Foi direto pra cirurgia. Na mesma hora, ouvi alguém me chamando atrás. — Manuela! Virei e vi o Flávio entrando pela porta de vidro. — O Bernardo me ligou. — disse, chegando perto. — Vim o mais rápido que pude. — Flávio, pelo amor de Deus, me ajuda a saber notícias do Iago. — Vou lá, já volto. — ele falou, apressado, e sumiu pelos corredores. Me sentei na cadeira, com as mãos apertadas no colo. Cada minuto parecia uma hora. Quando ele voltou, me olhou com o rosto tenso. — Ele tá em cirurgia. — respondeu. Apertei o peito com a mão, sentindo o desespero me atingir com tudo. — Eu quero ver ele. — Calma. — ele pousou a mão no meu ombro. — O médico vai vir falar com você. Ficamos ali, lado a lado, sem falar nada. Eu olhava pro chão, mexia os dedos sem parar. Até que um homem de jaleco branco veio na minha direção. — A senhora é a mãe do Iago Ferreira? — me levantei e fiquei de frente pro doutor. — Sou, sim. — respondi, a voz quase não saía. — Ele deu entrada com um ferimento profundo no abdômen, causado por uma arma branca. — começou, firme. — Quando chegou, já tava com uma hemorragia interna importante, pressão muito baixa, pulso fraco. A gente correu pra cirurgia imediatamente. Segurei o ar, tentando me manter em pé. — E aí? — consegui perguntar. — A lâmina atingiu o rim esquerdo. — ele explicou. — Tentamos conter o sangramento, mas o órgão tava muito lesionado. Se mantivesse, podia causar infecção grave ou novo sangramento. — Então o que vocês fizeram? — perguntei, a voz trêmula. — Tivemos que retirar o rim. — disse, direto. — Foi a única forma de salvar a vida dele. As pernas amoleceram. O Flávio me segurou pelo braço. — Retiraram… o rim dele? — ele repetiu. — Sim. — confirmou. — O outro tá funcionando bem. Ele vai poder viver normalmente com um só. Engoli o choro e passei as duas mãos no rosto, sem conseguir parar as lágrimas. — Ele corre algum risco, doutor? — perguntei, com a voz falhando. — Ainda é grave — respondeu, calmo. — Mas ele é jovem, tá reagindo bem. Isso ajuda muito. Ele ajeitou o crachá no peito. — Ele perdeu bastante sangue, precisou de transfusão, e está entubado, em ventilação mecânica, pra ajudar o corpo a se recuperar. A sedação é necessária pra evitar dor e esforço, mas a tendência é a gente reduzir nas próximas 24 horas pra avaliar a resposta neurológica dele. Senti o peito apertar. — Entubado? — repeti, sem acreditar. — Sim. — disse, tranquilo. — É comum em casos assim. A ventilação ajuda o corpo a descansar e garante que o oxigênio chegue bem enquanto ele se recupera. Fiquei quieta por um instante, tentando processar tudo. — Posso ver ele? — pedi, quase suplicando. — Só um minuto, por favor. — Agora não é possível. — respondeu. — Amanhã eu deixo a senhora ver de longe, pela janela da UTI. Assenti devagar, limpando as lágrimas. Eu só queria olhar pra ele, mesmo que fosse de longe. — Obrigada, doutor. — falei, baixo. Ele assentiu e saiu. Me sentei na cadeira sem força. O Flávio ficou ao meu lado, calado. Peguei o celular e disquei o número do Bernardo. — Fala. — ele atendeu na primeira chamada. — Ele terminou a cirurgia. — falei, chorando. — O médico disse que tiveram que tirar um rim dele. Silêncio. Por uns segundos, nada. Até ouvir ele soltar baixo: — Caralho... — É... — respirei fundo. — Mas tá estável. Tá sedado, entubado, mas estável. Do outro lado, dava pra ouvir a respiração pesada dele. — Tu viu ele? — perguntou. — Ainda não deixaram. Amanhã eu vejo. — Queria tá aí. — Também queria você aqui. — falei, limpando as lágrimas. — Mas tá cheio de polícia. Se te pegam, te prendem na hora. Eu tô aqui com o Flávio. — Tá bom. — respondeu. — Vem pra casa então, preta. — Vou. Mas vou deixar meu número com a moça da recepção primeiro. — Tá. Te amo. Ele vai sair dessa p***a. — Também te amo. — respondi e desliguei. Fiquei um tempo olhando pro celular, respirando fundo. O barulho do hospital, os passos, as vozes… tudo parecia distante. Me inclinei pra frente, apoiei o rosto nas mãos e respirei, tentando me recompor. O peito doía, mas vinha junto um alívio pequeno: o de saber que ele tava vivo. O Iago sempre foi forte. Eu sei que ele vai sair dessa. Peguei o celular de novo, procurei o contato da Maria Clara. Mesmo com a mão tremendo, disquei. Depois de dois toques, ela atendeu. — Alô? — a voz dela soou do outro lado da linha. — Maria Clara… — falei, tentando conter o choro. — Aqui é a Manuela. — Oi. Tudo bem? — perguntou. Olhei pro teto, tentando segurar a voz. — Tentaram matar o Iago no presídio...
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