Capítulo 49

1811 Palavras
Acendi a luz e vi meus bagulhos tudo arrumadinho, como se eu nunca tivesse saído dessa casa. — Entra aí, pô — falei, meio rindo. Ela ficou parada, olhando pros lados. — Pega uma toalha pra mim ali no closet — apontei com o queixo e fui andando pro banheiro. Ouvi ela abrindo porta, mexendo nos bagulhos. — Achou? — gritei lá de dentro. — Ainda não! — respondeu, gritando também. — Onde é que tá? — Segunda prateleira da esquerda! Demorou uns segundos e ela voltou com a toalha dobrada no braço. Mas travou na porta. Ficou dura. O olhar deu aquela descida rápida e subiu de volta, tipo quem tenta fingir que não viu. Mas viu. Fechou os olhos na hora, gritando: — Iago! Tu tá pelado! — E tu tá se fazendo de sonsa pra quê, p***a? — falei, rindo, encostando na pia. — Já me viu pelado antes. — Cala a boca, menino! — ela resmungou, rindo nervosa. — Menino é o c*****o. — soltei, com um sorriso sacana. — Tu já me viu nu, p***a. Eu te vi nua. Qual é o drama agora? Ela jogou a toalha em mim, toda sem graça, e virou de costas. E eu só conseguia rir, porque eu me amarro nesse jeitinho dela. — Tu é muito i****a. — Eu sei. — falei, pegando a toalha. — Mas tu gosta, né não? Ela não respondeu e deu um passo pra ir embora, mas eu alcancei o pulso dela antes. Segurei de leve e puxei, virando o corpo dela até bater no meu peito. — Que tu tá fazendo aqui, hein? — soltei baixo, olhando dentro dos olhos dela. — Na casa dos meus pais ainda por cima. Ela respirava rápido, o olhar fugindo do meu. — Vim trazer um dinheiro pra tua mãe… e ela pediu pra eu ficar um pouco. — Não é disso que eu tô falando, Maria Clara. — apertei a cintura dela com as duas mãos. — Tô perguntando o que tu tá fazendo aqui na minha área. Ela abaixou a cabeça, ficou um tempo quieta, depois me olhou de novo. — Briguei com meu pai. — disse. — E a tua mãe mandou eu vim pra cá. — Tá morando aqui? — perguntei, meio incrédulo. — Tô. — respondeu, sem gaguejar. — Te falei isso em uma das dez cartas que te escrevi. Mas, pelo visto, tu não leu nenhuma, né? Soltei a cintura dela devagar. — Tu não leu, né? — repetiu, agora com um sentimento de mágoa na voz. Fiquei calado. Nem precisava responder, ela já sabia. — Eu te contei tudo naquelas cartas — continuou, olhando pro chão. — Que meu pai tinha batido em mim e na minha mãe, que a Manuela acolheu a gente aqui. — fez uma pausa e respirou fundo. — Mas fui uma otária de te escrever, né? — Eu não quis receber as cartas. Ela soltou um riso sem graça e passou a mão no cabelo. No mesmo momento, uma lágrima desceu pelo seu rosto. — Tu só pode ter algum fetiche em me ver pagando de otária, né? — ela falou, já chorando. — Porque depois de jogar na minha cara que não quis receber as minhas cartas, tu ainda teve coragem de me trazer pra cá… — olhou em volta, o olhar cortando cada canto do banheiro. — Pra quê, Iago? Pra me fazer sentir pior do que eu me senti todos esses dias? Pra me humilhar mais um pouco? Balancei a cabeça negando. — Eu só tava puto, pô. — Ah, tava puto? — ela falou, indignada. — E por quê, hein? — Porque a última p***a de imagem que eu tinha era de tu e aquele arrombado coladinho lá na delegacia. — falei, já sentindo o sangue subir de novo. Foram dois meses com essa merda me rondando a cabeça. Dois meses lembrando daquela p***a. — Meu Deus! O que tu acha que viu demais lá? — Vi pra c*****o, p***a! — passei a mão no rosto, tentando segurar o nervosismo. — Tu não viu NADA, Iago. Porque não tinha NADA. — Isso é o que tu fala, mas não foi o que eu vi, não. — falei, cruzando os braços, encarando ela puto. Ela negou com a cabeça, os olhos transbordando água. — Tu é doido. — Tu tá morando aonde? — soltei, tentando sacar se a área perto da casa dela era tranquila ou se tinha muito maluco por perto. Dependendo da resposta, já ia mandar um cria estacionar lá. — Isso não é da tua conta. — respondeu seca, os braços cruzados, o queixo erguido daquele jeito que eu já sabia que vinha briga. Respirei fundo, tentando segurar o nervo. Mas, por dentro, já tava fervendo. — Como é que não é, pô? — dei um passo pra frente, desencostando da pia. — Tu acha que eu vou ficar de boa sabendo que tu tá por aí sozinha, sem ninguém pra olhar por tu? Ela riu de leve, mas foi de deboche, sem som, sem graça. — E desde quando tu olha por mim, Iago? — perguntou, e a p***a do meu nome na boca dela saiu até lento, de tanta raiva que ela tava de mim. — Tu só aparece pra querer me mandar. — Mando porque sei o que tem na rua, p***a. Tu acha que o mundo é cor de rosa, c*****o. Não é, não. — E o que tu acha que eu sou? — retrucou, os olhos brilhando, mas era de raiva. — Tu é a pessoa que eu gosto e que eu quero proteger. — Tu não tem que me proteger de nada. — disse firme, e eu tava amarradão nessa nova personalidade dela. — Eu já aprendi a me virar sozinha. — Ah, aprendeu foi? — soltei no deboche, dando um passo pra frente. Ela entendeu na hora o tom e saiu rápido, saindo pra fora do banheiro. — Eu não quero mais esse ciclo, Iago. — falou, já quase na porta do quarto, virando pra mim. — Continua fingindo que eu não existo, igual fez quando tava preso. Fiquei só olhando. A minha respiração ofegante. Ela foi dar mais um passo, pra girar a maçaneta, mas eu fui atrás. Bati a porta com a mão espalmada e segurei a nuca dela com firmeza, fazendo o rosto virar na minha direção. — Eu jurei que ia te deixar em paz… — murmurei rente à boca dela, o fôlego misturando no dela. — Mas não dá, p***a. Não dá. Agarrei ela pela cintura e puxei pra mim, sentindo o corpo dela se encaixar no meu sem espaço pra nada. Empurrei de leve até encostar na porta, prendendo com o peso do meu corpo. Minha mão subiu pra nuca dela, os dedos se enfiando no cabelo macio, segurando firme enquanto eu trazia o rosto dela pro meu. A boca dela veio de encontro à minha, gostosa e macia. Minha língua encostou na dela e ela cedeu, respirando …respirando fundo, antes de devolver o beijo do mesmo jeito. O bagulho era intenso, desgovernado, como se a gente tivesse brigando e se querendo ao mesmo tempo. Ia e voltava num ritmo doido, gostoso. A respiração batendo entre uma mordida e outra. Ela mordeu meu lábio primeiro, de leve, e eu retribuí no mesmo instante — porém forte. Puxei o lábio inferior dela nos dentes, saboreando o gosto dela, sentindo aquele bocão preso em mim. A p***a da vontade só aumentava. O corpo dela encostado no meu, a respiração curta e ela gemendo baixinho. Levantei ela no braço, e as coxas dela já grudaram em mim, as pernas travando na minha cintura. Nem lembrei da p***a dos pontos — só pensei em sentir ela de novo. Encostei ela na porta com força, o corpo colando no meu, gostosa pra c*****o. Apertei firme as suas coxas, encaixando ela no meu corpo. O beijo ficou intenso, urgente, mais bruto. Era língua batendo e respiração embolada. Era t***o, saudade e raiva — tudo junto, tudo misturado num beijo só. Ela mordeu meu lábio e puxou meu cabelo na nuca, as unhas riscando de leve minha pele. Fui pra cima no mesmo pique, voltando pra boca dela com mais vontade. Beijei de novo, aprofundando. Nós dividiamos o mesmo fôlego, um tentando sugar o outro. O ar sumia, mas nenhum dos dois queria parar. — Porra... — murmurei no meio do beijo, a boca roçando na dela, a vontade me comendo vivo. — Tô maluco pra meter em tu, p***a. Ela riu baixinho, me puxou de novo, e o beijo voltou ainda mais intenso, cheio de vontade. Afastei ela um pouco e deslizei a mão por trás, subindo o vestido devagar, até sentir só aquele fiozinho atravessando o meio da b***a. A pele dela quente, macia, cheirosa e meu corpo inteiro em curto. — c*****o, tu é gostosa demais — soltei rouco, a voz rouca de vontade, meu p*u já encostando nela, duro, latejando, pedindo passagem. Tava tudo indo no pique, o clima pegando fogo, até que ela parou o beijo do nada e foi descendo do meu colo, os pés batendo no chão devagar. — Não... Iago, vamos parar — ajeitou o vestido, puxando pra baixo, tentando se recompor e arrumando o decote nos p****s. — Tu tá de s*******m comigo, né? — falei, descrente, o coração ainda acelerado e o corpo pronto pra ela. Ela respirou fundo, me olhando, com o olho marejado. — Não dá, Iago… — falou quase num sussurro, a voz falhando. — Eu não posso fazer isso comigo, entende? Eu quero mais que isso… quero um parceiro, alguém pra dividir as coisas da vida, não só pra esses momentos que a gente tem. Fiquei quieto e abaixei a cabeça pra não encarar aquele olhar. — A gente nunca vai passar disso, né? — ela me perguntou, e quando eu a olhei vi uma lágrima descendo. Sorriu sem força e limpou o rosto com a mão. — Eu já sabia… nem sei porque te perguntei— murmurou. Ficou me olhando um tempo, parada, como se esperasse que eu dissesse alguma coisa. Que eu não disse. Fiquei imóvel, o maxilar duro, o peito pesado, sem reação nenhuma. Ela andou até a porta, girou a maçaneta, abriu a porta e saiu me olhando. E foi só quando ouvi o som da porta batendo que eu consegui respirar de novo. — CARALHOO… — soltei alto, sentindo o cheiro dela ainda grudado em mim, nos poros e no quarto inteiro. Dei um passo pra trás, a cabeça girando, o coração disparado e um vazio estranho me tomando. Peguei o cigarro em cima da cômoda e acendi com a mão trêmula. Traguei fundo. A fumaça desceu rasgando a garganta, amarga pra p***a, mas não é pior do que eu tava sentindo por dentro.
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