Capítulo 13

1188 Palavras
Manuela Entro na casa da Ágata já com os olhos marejados, sem nem conseguir falar direito, não é possível que depois de tudo o que a gente superou ele tenha traído a minha confiança dessa maneira. Ela aparece na porta da sala, ajeitando o cabelo, e quando me olha já percebe que não tô bem. — Manu, que foi? — ela vem rápido, preocupada. Eu só balanço a cabeça, tentando não chorar, mas a lágrima já escorre. — Posso sentar? — minha voz sai falhada. Ela aponta pro sofá. — Claro, menina... vem cá. Me jogo no sofá, apoio o rosto nas mãos e deixo o choro vir. O corpo inteiro treme, e eu quase não consigo falar. — Eu tô ficando maluca, Ágata... tô achando que o Terror tá me traindo. — a frase sai entre soluços. Ela agacha no chão, fica de frente pra mim e segura no meu braço. — Ei, calma, respira! Olha pra mim. — espero até conseguir erguer o rosto. — Tu pegou alguma coisa dele? — Não, mas eu vi elas, Ágatha... eu ouvi elas. Tavam jogando piadinha sobre preso, eu tenho certeza que era pra mim. — falo engolindo o choro, limpando o rosto com a mão. Ela solta um suspiro, fundo. — E desde quando não fazem isso? Quantas vezes tu já não passou por isso? Sempre teve p*****a querendo te enfrentar, jogando gracinha pra ver se te desequilibra. Sempre foi assim, Manuela. Baixo os olhos pro chão, sentindo o coração ainda disparado. — Mas agora é diferente. — minha voz sai quase num sussurro. — Não é. — ela rebate na hora, firme, como se quisesse fincar aquilo na minha cabeça. — Tu conhece ele mais que qualquer um de nós. Não deixa a inveja delas virar verdade dentro da tua mente e acabar com o teu relacionamento. Fecho os olhos, puxando o ar e as lágrimas continuam caindo. Ela se levanta, senta do meu lado e me puxa num abraço apertado. — Chora, bota pra fora. Mas depois tu levanta a cabeça, porque tu não pode se deixar abalar por causa de duas quengas não. Encosto a testa no ombro dela, chorando em silêncio. Acabei ficando o resto da tarde ali, na casa da Ágata. Era pra gente ter ir pro churrasco, mas eu não tinha forças de voltar pra casa, muito menos de olhar na cara do Bernardo. Então fiquei. Ela fez café, bolo, conversamos com a Mel e tudo isso me ajudou a colocar meus pensamentos em ordem. Na verdade, eu tava tentando me acalmar pra conseguir conversar com ele mais tarde. Porque do jeito que eu tava nervosa, a minha vontade era simplesmente nunca mais olhar na cara dele. Se ele teve coragem de fazer isso comigo… é porque ele nunca mereceu um terço do que eu fiz por ele. A minha dor nem é só a traição, caso ele tenha feito. E sim a sensação de ter sido feita de i****a. De ter me doado inteira, perdido o meu tempo e agora descobrir que tudo foi uma mentira. Eu não conseguia parar de pensar nisso. Quando vi, já passava das sete da noite. Levantei do sofá, fui no banheiro e na volta escutei o ronco de duas motos subindo a rua. Reconheci na hora o som da moto dele. Ágata veio correndo da janela e falou baixo: — Manu… o RD chegou. E não tá sozinho. Tá com o Terror. — Manuela... — a voz grossa dele veio lá de fora e eu e a Ágata saímos. — Oi — respondo, encostando no portão, vendo ele sentado no banco da moto me encarando. RD abraça a cintura da Ágata, sorridente. — c*****o, porque vocês não foram lá? Sobrou carne pra p***a. — ele fala e eu viro o rosto pra ele. — Acabou que a gente ficou fofocando. — digo, mexendo no portão sem olhar pra cara do Bernardo, que não tira os olhos de mim. — Eu fiz bolo, a gente tomou café, ligamos pra Mel... — Ágatha completa, rindo, leve. — Manuela — o Bernardo, me chama e eu continuo no meu silêncio, ignorando como se nem fosse comigo. — Qual foi, Manuela? — o Bernardo pergunta cruzando os braços. — Cês tão brigados? — RD pergunta rindo, me olhando. Eu não respondo, só passo a mão pelo rosto, e ele insiste: — O que tu fez, Terrorzito? — Sei lá, parceiro... tô tentando descobrir. — Tem certeza que não sabe? — pergunto séria, sem levantar a voz, mas soltando o veneno. — Ihhh... pesou o clima, legal, hein! — RD fala, gargalhando. — CARALHOO! Terrorzito hoje vai dormir na casinha do auau... se fudeu, parceiro! Ele e o Bernardo caem na risada juntos, até a Ágatha tenta segurar mas não aguenta. Eu, por outro lado, continuo séria. — Se tu não falar, não tem como eu adivinhar, c*****o. — ele solta com aquele ar de riso me matando de raiva. — É por causa do bagulho da Alicia? — Em casa a gente conversa. — respondo fria, olhando direto pra ele. Ele balança a cabeça e ri de canto. — c*****o, depois dessa... tenho que ir embora, né não, irmão? — o Terror fala rindo, batendo a mão no guidão da moto, e o RD já cai na gargalhada junto. — A mulher quando solta essa de "em casa nois resolve", parceiro... — É porque tá doida pra resolver, viado! — o RD completa, quase chorando de rir, cutucando ele. — Isso mesmo, irmão... tá na fissura pra resolver — o Terror solta sem vergonha nenhuma e com o sorriso mais pilantra do mundo estampado na cara. — Aproveitar que a casa tá vazia, a Alicia picou mula, e é a deixa pra nóis meter marcha e resolver do nosso jeito, cê tá ligada, né? — aponta com a cabeça pra mim e eu viro a cara — Se não quiser resolver também, tá suave... deixo tu bater na minha cara, puxar meu cabelo... — ele fala rindo, sacana, enquanto o RD se dobra de tanto rir, gritando "filho da p**a!" no meio da rua. Abraço a Ágata, me despedindo. — Obrigada, amiga. — Lembra do que eu te falei... — ela sussurra baixinho no meu ouvido, deslizando a mão pelos meus cabelos. — Conversa com ele. Não sai tirando conclusão precipitada, não. Porque o que essas mulheres querem é justamente minar o relacionamento dos outros... e aí conseguem o que querem. O Terror te ama, Manu. Não esquece disso. Me afasto e engulo o choro. Por mais que eu quisesse acreditar nisso, a dúvida já criou raiz dentro de mim. — Se tem uma coisa que eu gosto de arrumar é problema com essa mulher... — ele fala alto, rindo. — Só pra nos resolver depois. Faço cara de tédio, enquanto os três riem juntos, como se fosse a coisa mais engraçada do mundo. Eu não rio porque não vejo graça nenhuma. Abro a porta do carro, dou um tchau rápido e entro. Ligo o carro, seguro no volante e saio acelerando. Pelo retrovisor eu vejo ele vindo atrás.
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