Jacob Jureck
― Maldita seja!
Jogando fora o enfeite que decorava a entrada da casa, fiz com que mais de um funcionário se aproximasse curiosamente para checar o que estava acontecendo.
― O que d*abos estão fazendo aqui?! Eu não chamei nenhum de vocês! ― gritei enquanto subia as escadas que me levariam para o meu quarto.
M*rda! Maldita seja! Quem ela pensa que é para passar por cima do que eu digo? Eu sou o seu marido! E ela deve me respeitar! Mas não, ela saiu sozinha. Ela teve a audácia de sair, mesmo eu tendo a avisado para não fazer isso!
― Senhor ― Fred, o meu mordomo pessoal, entrou no quarto. Ele era muito mais que apenas um mordomo para mim, ele era o único que sabia do meu segredo.
Segurando uma xícara de chá de camomila nas mãos, ele me ofereceu para bebe-la. Olhei para o líquido fumegante, lembrando como eu tinha que estar calmo para alcançar o meu objetivo.
Aceitei a xícara e bebi como se a minha garganta não sentisse a queimadura deixada pela passagem do líquido quente. O som da bandeja com o baque do copo sendo colocado sobre ela deixou Fred perplexo.
Só ele sabia o quanto eu estava com muita raiva, me vendo caminhar até a janela e observar o campo vazio onde deveria estar o carro de Lia.
― Ela me desobedeceu, Fred. Eu a avisei e ela continua a me dar nos nervos.
― Bem, senhor, o que você quer que eu lhe diga? A senhora Lia sempre foi assim. Uma mulher com caráter forte e determinada.
― Mas ela é minha esposa! ― eu rosnei, apertando as barras da janela.
― Sim, é verdade, mas ela também não é um de seus funcionários. A senhora Lia é uma jovem de mente aberta, e se você disser "não" ela vai entender como um "sim".
― Ela sempre gostou de me contradizer.
― Senhor, deixe-me fazer-lhe uma pergunta: o que realmente está o incomodando? Que a senhora Lia não lhe obedeça, ou que seja indiferente com o senhor?
Deixando o ar sair pelos meus lábios, olhei para os meus dedos brancos de tanto apertar os punhos.
― O que você quer dizer com “indiferente”? Ela não me faz sentir nada. Nesses dois anos de casamento, tive que tolerar viver com ela sob o mesmo teto, e vocês são testemunhas de que nunca houve nenhum tipo de i********e entre nós.
― É verdade, senhor, dentro desta casa vocês parecem dois completos estranhos. Não falam um com o outro, não dividem o mesmo quarto e tentam não se cruzar, mas quando estão do lado de fora, você se esforça para cuidar dela. A imprensa e a sociedade o classificam como "o homem perfeito". Aquele que produz sorrisos nos lábios rosados da jovem Lia Lazzari, que produz aquele rubor naquelas bochechas macias e exuberantes.
― Você sabe que tudo isso é apenas uma farsa. Não a suporto, não consigo nem a tocar, a sua pele me enoja, o seu rosto me enoja. Ela me incomoda, a sua voz é insuportável, tudo nela é horrível.
― Então... por que o senhor fica bravo quando ela sai? Se você não a suporta, deveria ficar feliz quando ela o deixa sozinho em casa.
― Fred. ― Eu me virei para ele. ― Eu preciso descansar, vá embora.
Fred entendeu que a sua pergunta tinha me acertado em cheio.
― Como você quiser, Sr. Jureck.
Depois que ele saiu, tirei o meu celular do bolso da minha calça e comecei a ligar para Lia, mas assim que coloquei o aparelho perto do ouvido, ela me mandou direto para a secretária eletrônica.
― M*rda! ― larguei o celular na cama, que era uma de casal enorme, admito que era muito grande para uma pessoa só. Ela era ideal para nós dois, onde eu pudesse realizar todas aquelas fantasias de fazê-la minha, beijar os seus lábios até ficarem vermelhos e inchados, lamber todo aquele corpo que estava escondido atrás daquele terno de escritório horrível, me deliciar com os gemidos que sairiam de sua boca, enquanto eu fazia amor nela com os meus lábios, até chegar ao seu lugar mais íntimo, e mostrar a ela do que um verdadeiro homem, o seu marido, é capaz. Ouvir as suas suplicas pedindo por mais, e então, me enrolar naquelas pernas tentadoras para nos tornarmos um só. Observar o seu rosto com expressões de prazer, enquanto eu afundava de novo e de novo dentro dela.
Sem perceber, a minha mente me traía com imagens de um sonho que muitas vezes me acordava no meio da noite.
― O que d*abos há de errado comigo? ― eu disse furioso comigo mesmo, porém, olhando para o meu corpo, me vi com uma ereção que havia sido causada apenas por me imaginar fazendo s*xo com Lia. Isso não poderia acontecer comigo. Não um homem como eu.
Lia Lazzari
― Você brigou com o seu marido de novo? ― a minha amiga me disse depois de tomar uma bebida. ― Eu falei que não gostava desse casamento, era muito cedo para você se casar com alguém que não conhecia bem.
― Eu deveria ter ouvido você quando tive a chance. Agora nem mesmo pelo dinheiro vale a pena viver com o "impiedoso" ― respondi, chamando-o da forma como eu era acostumada a chamar quando estava com a minha amiga. ― Eu o odeio.
― Devo admitir que ele é um homem frio, e que às vezes em que o vi, ele apresentou um caráter forte e sério, porém... Ele é sexy.
― Betsy! ― digo depois de quase engasgar com a minha bebida.
― Calma, eu só disse que ele é sexy, mas isso não tira o fato de que ele é um impiedoso.
― Não se esqueça do id*ota, embora que eu seja mais id*ota ainda por continuar com esse casamento sem pé e sem cabeça.
― E por que você não se divorcia? ― ela perguntou tomando outro gole da sua bebida.
― Acredite, eu já tentei, mas o filho da mãe... ― Suspiro para tentar me acalmar. ― Ele estabeleceu como condição que não poderíamos nos divorciar. Então, aqui estou eu, em uma sentença de prisão perpétua.
― Lia, não fale como se estivesse em uma prisão.
― Bem, é isso mesmo, estou condenada por toda a vida a viver os meus dias como a esposa do "impiedoso".
― Você tem certeza de que não é por outro motivo que você o odeia? Hoje, especialmente, você está mais irritada do que o habitual.
Colocando o meu copo vazio na mesa, olhei para o anel no meu dedo anelar.
― Ele me beijou ― eu confessei e desta vez foi a minha amiga quem se engasgou.
― O quê?! Como assim ele te beijou?
― Hoje é o nosso aniversário de casamento, sabe, e como a imprensa espera qualquer movimento que façamos, Jacob teve a brilhante ideia de saímos para jantar. Fomos a um restaurante chique, onde ele usava aquela máscara de marido perfeito de sempre, porém, dessa vez, eu não estava com vontade e recusei muitos de seus paparicos. E claro, isso não o agradou nem um pouco, então, quando voltamos para casa; tivemos uma discussão, e com o próprio calor do inferno ele acabou me beijando com uma força selvagem.
― Uau! Eu pensei que vocês não…
― E não ― esclareci as suas dúvidas. ― Entre ele e eu nunca houve nenhum tipo de contato físico como casal, a última vez que ele me beijou foi só no nosso casamento, mas não sei o que d*abos aconteceu com ele, que acabou me beijando como um animal faminto.
― Situação difícil, amiga, aquele homem é um mistério ambulante, mas pelo menos não é como o...
― Não o mencione ― eu disse me referindo a Dereck. ― Que onde quer que ele esteja, seja atacado por uma matilha de lobos famintos e agonize de dor até dar o seu último suspiro, enquanto o seu rosto é mordido impiedosamente.
― Ah, amiga, às vezes você me assusta.
― A doce Lia m*rreu anos atrás, Betsy. Aquela Lia era apenas uma tola que se deixou levar pela ideia de que o mundo era rosa. E, não! ― eu disse alto, batendo na mesa com o meu punho. ― O mundo não é rosa, é cinza, sem graça, sem vida e sem cor.
Colocando o meu cabelo preto atrás da orelha, os meus olhos azuis notaram uma figura alta e masculina se aproximando de nós, com um sorriso lateral e aquela velha atitude vitoriosa de ver duas jovens compartilhando bebidas em uma mesa.
― Olá, gata, quer uma bebida? ― ele me perguntou com um ar galanteador, descansando os braços na minha cadeira.
Os olhos de Betsy se arregalaram com a audácia do sujeito, mas ela sabia qual seria a minha reação. Aquela classe de homens, que se sentiam garanhões, não me chamava nem um pouco a atenção e a sua atitude de conquistador era uma vergonha. Se eu pudesse, a enfiaria em sua garganta junto ao copo que segurava.
― Huh, sim? ― perguntei, jogando junto. ― E você, quer apenas uma bebida ou outra coisa? ― o agarrei pela gola de sua camisa, trazendo os meus lábios para perto de seu rosto. ― Diga-me, o que mais você quer de mim?
― Você não é nada tímida, é assim que eu gosto ― ele sorriu como um verdadeiro galã.
― Bem, eu... Não. ― Respondi, empurrando-o com o meu braço.
― Mas...
― Você não chama a minha atenção de jeito nenhum.
― Desculpe? Você está me rejeitando?
― Não, meu rei, eu só não me importo com você, além do mais, nem te considero parte da minha lista.
― Da sua lista? E o que eu tenho que fazer para estar nessa lista?
― Ah, um candidato. Muito bem, querido, vou lhe dizer as orientações. Primeiro, você tem que encontrar um abismo e se jogar como uma pena caída ― sorri como se isso fosse a coisa mais normal do mundo. ― E então, você sai e me mostra as suas feridas como evidência, e aí, a minha amiga te marcará um encontro comigo.
Betsy acenou com o polegar para ele, brincando comigo.
― Você é louca ― ele me disse.
― E você um animal! Quem você pensa que é para dar em cima de mim? ― levantando-me do meu lugar, saí com a minha amiga do bar onde estávamos conversando, até que chegou aquele sujeito.
Era assim que eles eram, vaidosos, arrogantes, tolos, estúpidos... Ah! Todos iguais ao meu marido id*ota.