Ponto de Vista de Alexia
As oito horas de diferença entre Moscovo e Connecticut me fizeram muito m*l. Parece que voltei no tempo ou coisa parecida. Ou talvez, seja a quantidade de vodka que tomei na festa do dia anterior.
Desci do avião as 18h da tarde. Meu pai estava com seus seguranças e motorista aguardando para me levar ao apartamento que comprou de presente pra mim. Talvez esteja tentando compensar a sua ausência todos esses anos, porque definitivamente, ele está me tratando como uma princesa.
Cartões ilimitados, apartamento mobiliado, casa, carro e faculdade paga: Tudo que qualquer garota normal quer. Confesso que no momento, a única coisa que eu queria era apagar minhas memórias com o desgraçado do Mattia. Ele é o típico homem russo, de olhos azuis, cabelos castanhos e traços fortes. Eu também sou uma típica garota russa de cabelos castanhos e alta, mas de olhos cor de amêndoa pela ascendência polonesa de minha mãe.
- Senhorita Alexia! - Uma mulher de, talvez trinta e poucos anos, branca, de cabelos ruivos falou. - Sou Jenny. Sou assistente do seu pai. - Ela esticou a mão com um grande sorriso. Não gostei dela, por algum motivo, mas fui simpática.
- Olá, Jenny. Obrigada! - Abri um sorriso e fui até meu pai, dando-lhe um abraço. Ele me deu um beijo na testa, e me olhou de cima a baixo.
- Filha! Que bom que está aqui! E muito bem vestida! - Abri um sorriso e olhei para meu próprio corpo. Juro que nem lembrava da roupa que estava vestindo, de tão cansada que estava pela manhã. Por sorte, tenho bom gosto, e a calça pantalona bege estava perfeitamente combinada com saltos vermelhos e uma blusa também vermelha.
- Obrigada! Me desculpe, mas preciso dormir. Estou exausta da viagem. - Tirei os óculos escuros de meu rosto e encarei os olhos azuis de meu pai.
- Vamos, te levarei para casa. Precisa dormir antes de conhecer o meu parceiro Jason, no jantar de hoje. - Ele abriu um sorriso. Odeio formalidades, mas não há o que fazer.
Depois de pouco tempo estávamos em frente a grande mansão de meu pai. Entrei e uma empregada me levou até meu quarto, que devia ter uns vinte metros quadrados. Meu quarto na Rússia tinha a metade disso.
Trouxeram minhas malas, mas eu não as arrumei. Do jeito que estava me joguei na cama e acabei dormindo. Só acordei horas depois, com batidas do meu pai na porta.
- Anda, Alexia! Jason está nos esperando lá embaixo! - Confesso que acordei um pouco tonta. Arregalei os olhos ao ouvir que o convidado de honra de meu pai havia chegado, e corri abrir as malas para colocar algo mais apropriado. Ok, esse vestido simples, preto e bem recortado serve.
Chequei meu celular e havia um grande texto de Mattia, meu ex. Fiquei na dúvida entre ler ou não ler, mas acabei lendo.
Mattia: Alexia, nesse momento, em outro mundo, nós estaríamos casados. Estou deprimido desde que terminamos. Você sabe que não amo a Karla, e sim você. Foi um erro momentâneo.
Alexia: Uma coisa de momento que durou dois longos anos. Você é ridículo, Mattia.
Mattia: Eu sei. Te peço perdão. Sinto sua falta com toda minha alma.
Alexia: Sentirá para sempre.
Meus olhos se encheram de lágrimas mas não as deixei cair. Eu também sentia falta de Mattia, mas não podia, em hipótese alguma, perdoar uma traição tão grande como a que ele fez. Confesso que essa pequena conversa me deixou de mau humor.
Desci as escadas poucos minutos depois, com o meu cabelo longo e castanho modelado com pequenas ondas, batom vermelho, muita máscara de cílios e um colar de pérolas. Vi meu pai e Jason conversando na sala, então me aproximei com um sorriso no rosto.
- Olá, sou a Alexia. - Meu pai sorriu pra mim e pediu que me sentasse ao seu lado no sofá. Obedeci.
- Vamos nos ver bastante daqui pra frente, senhorita Alexia. - Ele abriu um sorriso levemente forçado. Parecia desconfortável em minha presença. - Você pode me chamar de senhor Weber. - Seu sorriso se desfez e eu dei os ombros.
- Pra que tanta formalidade, senhor Weber? Sou só Alexia. - Meu pai me deu um cutucão na coxa, como se estivesse pedindo para eu parar de falar. Mãos pesadas, de um homem robusto, alto e forte. Doeu.
- Porque formalidade é necessário. Você não será a filha de Nikolai no escritório, será apenas uma assistente. Deve agir como tal. - Cretino. Ele me olhava como se eu fosse lixo.
- Preciso fazer reverência às vossa alteza todas as vezes que chegar no trabalho também? - Lancei a pergunta de forma irônica. O rosto do meu pai ferveu.
- Filha, por favor, tenha modos. - Girei os olhos.
- Certo, podemos terminar logo com isso? Já vi que seu parceiro de negócios é um cara bem antipático e estou preparada pra ter a alma sugada por ele durante minhas horas de trabalho. - Jason me encarava com olhar sério.
- Senhorita Alexia, recomendo que seja mais respeitosa comigo. Precisamos ter uma convivência agradável. - Me levantei. Jason me olhou de forma arrogante.
- Concordo. Mas tudo isso é muito engessado pra mim. Eu sou russa, querido, tenho vodka correndo nas veias. Não espere que eu caiba em seu padrão de formalidade. - Jason suspirou, meu pai parecia constrangido. Belo jeito de se apresentar ao seu chefe, Alexia.
- Eu vou conversar com Alexia, Jason. Ela irá criar um pouco de juízo antes de chegar no escritório amanhã. - Ouvi meu pai falar e todos nós fomos até a sala de jantar.
Durante aquela conversa chata, confesso que senti vontade de me jogar da janela. Pensei em meus erros do passado que me trouxeram à esse purgatório chamado: Jantar de negócios. Será que transei com homens demais durante minha vida? Era castigo por ter soltado as nudes que Mattia enviava para Karla, a v***a que o roubou de mim, para os jornais de fofoca de Moscovo? Ou uma vingancinha divina por ter feito a festa mais alcoólica da história daquela cidade pacata onde morava anteriormente? Não sei, não sei. Talvez eu tenha sido muito má no ensino médio ou coisa assim.
- Alexia! - Meu pai deu um tapa na mesa. - Você não consegue prestar atenção no que estamos falando, menina?
- Do que vocês estavam falando mesmo? - Arregalei os olhos. Jason balançou a cabeça de forma negativa ao me olhar. Eu tava pensando em tudo, menos no que eles falavam.
- Despreparada e desajuizada, Nikolai. Você me arranjou uma funcionária despreparada e desajuizada. - Ele soltou uma risada irônica. Me irritei, levantei da mesa e fiz reverência.
- Com licença, rei Jason. Vou me retirar antes que eu mande você fazer algo com sua b***a que talvez você não goste. - Saí a andando. Ouvi passos atrás de mim, então acelerei o passo. Senti uma mão forte segurando meu braço e me virei. Era meu pai.
- Controle-se, Alexia. Jason é importante pra empresa e pra mim, portanto, é importante pra você. Trate-o com respeito. - Balancei a cabeça em concordância.
- Sim senhor. Vou para meu quarto.
Estou uma pilha de nervos. As empregadas arrumaram todas as minhas roupas e eu não sei onde cada coisa ficou, mas tudo bem. O que mais me irrita é a droga do Jason e o fato de que serei sua subordinada. Ele é muito arrogante, e se tem uma coisa que me irrita em homens, é a arrogância. E se tem uma coisa que eu gosto, é fazer esse tipo de homem comer na minha mão.
Ouvi alguém batendo na porta do meu quarto e a abri. Era Jason.
- Escute com atenção, mocinha. Seu pai é bastante paciente, mas eu não. Amanhã, esteja na frente do meu escritório, exatamente as sete da manhã. Você é russa? Vodka corre em suas veias? Eu sou alemão, formalidade corre nas minhas. Me respeite e será respeitada. - Ele me olhava de forma séria com aqueles olhos azuis imensos. Sobrancelhas loiras grossas, arqueadas de forma brava.
- Olha, eu não estou em um bom momento da minha vida, você podia ser mais compreensivo também. Tem dois meses que meu casamento acabou, não espere que eu esteja emocionalmente estável. Então... Pra que SENHOR Weber? A p***a do seu nome não é Jason? - Ele girou os olhos.
- Não seja infantil, menina. E não fale palavrões na minha frente. - Tentei fechar a porta do quarto, mas ele impediu com o pé. - Sete horas. Eu tomo café preto sem açúcar.
- E eu tomo mocha com chantilly. Se quiser, pode me trazer rosquinhas também. - Pisquei um dos olhos para ele e tentei novamente fechar a porta. - Com licença, SENHOR Jason.
- Senhor Jason é melhor que só Jason. Obrigado. - Ele finalmente tirou o pé e eu pude fechar a porta. Que p***a de homem chato.
Ponto de Vista de Jason
Desmiolada. É isso que a Alexia Nygard é. Colocá-la na linha dará trabalho, mas eu adoro um desafio. Já percebi que ela não é exatamente mimada, mas muito infantil. Terei que amadurecê-la. Não sei como, mas vou conseguir.
Na manhã seguinte, lá estava ela com um salto preto e vestindo uma saia bem ajustada na b***a. Gosto do que vejo. Sua camisa branca é solta e deixa o visual mais harmônico. Ao menos a desmiolada sabe se vestir e valorizar o corpo que tem.
- Bom dia, senhor Weber. - Ela abriu um sorriso irônico pra mim e esticou um café em minha direção. - Café sem açúcar.
Essa mulher tá querendo me confundir?
- Bom dia, senhorita Nygard. - Pego o café da mão dela, enquanto a observo de cima a baixo. - Quem é você e o que fez com a mocinha petulante que conheci ontem?
- Em algum lugar chorando pelo ex. - Ela abriu um sorriso fraco. - O que precisa?
Entramos em minha sala e ela me acompanhou como uma boa assistente. Peguei alguns documentos que estavam na mesa e entreguei a ela.
- Faça cópias. Quero oito de cada, separadas em pastas únicas para cada diretor da empresa. Você tem até às dez horas. - Ela tomou os documentos da minha mão e saiu andando, sem falar absolutamente nada.
Sentei-me em minha cadeira e comecei a analisar algumas pastas de arquivos no computador, e cerca de vinte minutos depois, ela invadiu minha sala sem bater. Odeio falta de formalidade.
- Aqui está o que pediu. - Ela literalmente jogou em minha mesa. - Mais alguma coisa?
- Por enquanto, não. - Verifiquei os documentos. Ela colocou o nome dos diretores em cada pasta e priorizou os documentos de cada setor a qual se refere na organização. Tudo nomeado com etiquetas. Petulante, mas eficiente. - Sente-se no sofá e aguarde.
- Estou com tédio. - Ela se deitou no sofá do meu escritório colocando os saltos em cima dele. Odeio sapatos no sofá.
- Modos, senhorita Nygard. Modos. - Ela girou os olhos. Se levantou e sentou no sofá como uma perfeita dama, de pernas cruzadas e me olhando como se eu fosse uma pessoa muito chata. Eu sou chato?
- Você é muito chato, senhor Weber. Talvez por isso não tenha se casado. - Acabei prendendo uma risada ao ouvir o que ela disse.
- Então você também, pelo visto. - Será que eu sou chato mesmo?
- Eu encontrei meu ex transando com minha melhor amiga. Ele diz me amar e se arrepender, mas não o quero, para a sua informação. - Ela me olhou com deboche e cruzou os braços. - Você é muito babaca.
- E se você não fosse filha do meu parceiro nos negócios, já estaria demitida. - Me levantei e caminhei até ela, que veio em minha direção também. Queixo erguido, sem medo algum de me enfrentar. Odeio mulheres esquentadinhas.
- Só por que eu tenho coragem de te chamar de chato e babaca? É exatamente isso que você é, querido. Melhore. Ou até meu pai vai se cansar de você. - Um sorrisinho satisfeito surgiu nos lábios dela, quando ela finalmente saiu da minha frente pela porta do meu escritório. - Vou ao banheiro, SENHOR Weber!
Por que ela sempre tem que frizar a palavra "senhor"? Agora estou me irritando de ouvir as pessoas me chamando assim. E por que estou me sentindo um chato? Por que a opinião dela parece me importar?