MILENA NARRANDO Eu devia estar feliz, né? Era pra ser o dia mais importante da minha vida. O dia que eu trouxe uma vida pro mundo. O dia que minha filha nasceu. Mas não foi nada disso. Não teve mágica, não teve conto de fada, não teve p***a nenhuma de especial. Só dor. Medo. E ódio. Eu pari sozinha. Literalmente. Sem pai, sem parceiro, sem amor. Pari numa maca de posto, cercada de enfermeira, médica gritando, minha mãe nervosa segurando minha mão. Não tinha leito. Não teve ambulância. Não teve plano. Só teve correria, desespero e sangue. As contrações vieram com tudo, mas o meu corpo travou. A pressão subiu, o batimento da bebê disparou, e eu ouvi a sentença que eu mais temia: — Cesariana de emergência. E eu ali. Arregalada. Tonta. Fria. Tremendo igual vara verde. Enfiaram aquela p***a

