Atirada aos lobos
Eles estão famintos
Eu consigo ouvir...
Ouço seus rosnados e seus latidos
enquanto eles me perseguem
O sangue que saia de mim era muito para que eu conseguisse conter
Eles haviam me farejado
e agora eu não tinha pra onde correr
O mais rápido que eu conseguia
o quanto eu conseguia
eu corria
com o mínimo de esperança preenchendo um espaço microscópico em meu peito...
Eu corria
Eu corria pelo deserto à noite
O uivo dos coiotes de misturando com os dos lobos
O barulho das patas deles correndo atrás de mim
Eu estava fraca
Eles sabiam disso
Sabiam,
que se continuassem correndo
uma hora eu desistiria
porque eu não teria mais forças
Eu estava sozinha
E eles em maior número
Eu estava sozinha
E eles tinham um bando à favor deles
Eu estava sozinha
E eles eram leais uns aos outros
Eu estava sozinha
Porém eles se protegiam
Eu estava sozinha...
Atirada aos lobos
Cada vez mais
mais sangue saindo de mim
Minha visão fica turva
mas eu sabia que não podia desistir
Eu não queria desistir
Porém meu corpo não me obedecia mais
E quando fui perceber
eu estava cercada por uma matilha faminta
As bocas salivando
Os dentes à mostra
Os rosnados cada vez mais altos e mais perto
E naquele momento
eu olhei para o céu
Esperando que a chuva caísse
e lavasse todo o sangue que agora escorria por meus braços
Esperava que a chuva me desse paz
Que,
apesar de eu estar prestes a perder minha vida
prestes a ser devorada
prestes a ter minha carne sendo arrancada de meus ossos
e ainda sentindo isso...
Eu esperava pela chuva
Porque ela me trazia paz
Porque eu sabia
que ela me ajudaria
16 de setembro, 2016
Sexta-feira