Capitulo 6

1779 Palavras
Naquela manhã cinzenta, o clima na prisão já estava carregado de tensão. Eu estava concentrada no meu trabalho, revisando os números com a mesma rotina de sempre, quando de repente, o som da televisão ecoou pelo corredor do pavilhão. Uma sessão coletiva de notícias havia sido convocada, e todas nós, detentas, fomos forçadas a nos reunir na sala comum. — Meg, venha cá! — chamou Jenny, com a voz embargada, enquanto se aproximava com um olhar preocupado. Relutante, levantei-me e caminhei até o grupo, tentando ignorar a sensação de que algo terrível estava prestes a acontecer. A televisão, pendurada em uma parede desgastada, logo exibiu as imagens de um noticiário especial. O âncora, com tom solene, anunciou: — Em uma reviravolta surpreendente, a família Muller acaba de oficializar o noivado de Emmily Muller com Marcus Dilan. A cerimônia, que promete agitar o mundo dos negócios, já tem como foco a união entre a influente família e o renomado gerente, cuja história controversa tem sido tema de debates... Por um instante, o tempo pareceu congelar. Eu fiquei imóvel, encarando a tela com os olhos arregalados. Meu coração começou a bater descompassadamente. As palavras ecoavam em minha mente como um golpe brutal. — Não... não pode ser! — gritei, a voz falhando e transbordando de angústia. Jenny, que logo percebeu o terror estampado em meu rosto, aproximou-se com urgência: — Meg, o que foi? O que aconteceu? — É Marcus... — consegui soltar entre soluços, a voz trêmula e embargada de dor. — Ele... ele está noivo de Emmily Muller! Como assim? Como ele pôde fazer isso comigo?! Minha voz se alçou mais alto, e naquele instante, a raiva e o desespero inundaram todo o pavilhão. Comecei a bater as mãos sobre a mesa, derrubando papéis, planilhas e tudo o que estava à minha frente. Meu grito se transformou em um lamento estridente, que misturava o som de objetos quebrando e o eco dos meus próprios soluços. — Eu não aguento mais! — vociferei, com as lágrimas escorrendo livremente pelo rosto. — Eu dei tudo de mim, amei com toda a minha alma... E agora, ver Marcus se unir a outra, como se eu nunca tivesse existido... É demais para suportar! As detentas ao redor ficaram em silêncio, chocadas com a intensidade do meu desabafo. Alguns tentavam se afastar, enquanto outras me observavam com olhares de compaixão e tristeza. Em meio ao tumulto, Sandra, a dona da cadeia, aproximou-se com passos firmes e um semblante impassível. — Meg, acalme-se — disse ela, com uma voz que misturava autoridade e preocupação. — Não é o momento de destruir tudo. Calma, precisamos pensar com clareza. Mas o estrondo da minha dor foi maior que qualquer conselho. Eu bati com tanta força na parede que pedaços de tijolo se soltaram, espalhando poeira pelo ar. O ambiente se tornou um caos de gritos e objetos quebrados. Senti que meu coração se partia em mil pedaços diante da traição que, por tanto tempo, eu acreditara ser um amor eterno. — Como você pôde fazer isso comigo, Marcus? — gritei para o vazio, como se sua imagem estivesse flutuando na sala, mesmo sabendo que ele jamais estaria ali para ouvir minhas palavras. — Você me prometeu o mundo, e agora me abandona, enquanto ele constrói uma nova vida com ela! A raiva tomou conta de mim, e a fúria me fez perder o controle. Num ímpeto de desespero, arrastei uma cadeira até a janela e a arremessei com força, quebrando o vidro que separava nossa realidade daquele mundo lá fora. O som dos cacos se espalhando foi como o grito final de um coração despedaçado. Após aquele momento devastador, fui escoltada pelos guardas para a solidão da minha cela. Lá, no silêncio opressor das paredes frias, tentei encontrar um pouco de paz, mas tudo o que senti foi a solidão de um coração que já não acreditava mais em promessas vazias. Fechei os olhos, deixando as lágrimas molharem meu travesseiro, enquanto a dor da traição se transformava em um peso insuportável. Na manhã seguinte, ainda trêmula e com os restos dos gritos ecoando na memória, fui levada para uma sala de escuta para ser ouvida por uma psicóloga da prisão. Enquanto eu contava, com a voz embargada e cheia de lágrimas, cada detalhe do que havia acontecido, Sandra e Jenny permaneciam do meu lado. Jenny segurava minha mão, tentando transmitir um pouco de conforto, enquanto Sandra me observava com um olhar que misturava severidade e, estranhamente, cuidado. — Meg, — disse Jenny com a voz baixa e calma, — eu sei que dói, mas você não está sozinha. Estamos aqui com você. Não se feche; deixe-nos ajudar. — Eu... eu me sinto tão sozinha, — gaguejei, olhando para o chão, sem conseguir erguer os olhos. — Marcus nunca apareceu para mim. Só recebi uma única ligação, e isso... isso não basta! Eu me entreguei de corpo e alma, e agora, ver esse noivado... é como se meu mundo tivesse acabado. Sandra, que até então estava em silêncio, interveio com uma frieza surpreendente, mas sem perder o traço de humanidade em sua voz: — Meg, nesta prisão, aprendemos a lidar com a dor de maneiras diferentes. Você pode transformar essa raiva em algo útil, se permitir. Mas não se feche completamente. Às vezes, a dor pode nos ensinar lições valiosas. — Lições? — riu com amargura, as lágrimas escorrendo pelo rosto. — O que posso aprender com o fato de ser traída, abandonada e esquecida? Marcus, o homem que jurei amar, agora vive uma vida com outra. Como posso acreditar que algum dia serei feliz de novo? Sandra olhou-me nos olhos, com uma expressão dura, mas que escondia uma centelha de compaixão: — Você é forte, Meg. Eu mesma já vi muitas vidas se reconstruírem aqui dentro. Não deixe que essa traição defina o seu futuro. Use o que você sabe fazer bem. Sua habilidade com números pode ser a chave para a sua redenção – e, quem sabe, para ajudar outras pessoas a encontrarem um caminho melhor também. Por um instante, senti um fio tênue de esperança se entrelaçar com a dor. Talvez, apenas talvez, eu pudesse transformar aquele sofrimento em algo que me levasse adiante. Mas a ferida ainda estava aberta, e o sentimento de abandono por parte de Marcus continuava a corroer meu interior. Naquela tarde, enquanto a luz morna do entardecer se infiltrava pelas pequenas janelas da cela, sentei-me no canto do meu leito. Jenny se aproximou, sentando-se ao meu lado, e sussurrou: — Meg, eu sei que você ama Marcus. Eu vi como seus olhos brilham quando fala dele. Mas, por favor, não se culpe por tudo. Você se sacrificou de verdade, mas não pode permitir que ele defina seu valor. Você é mais do que essa dor. — Mas como posso superar isso, Jenny? — respondi, a voz embargada pela emoção. — Eu me entreguei de corpo e alma, e agora... agora tudo o que tenho é essa dor que me consome. Jenny apertou minha mão e disse com firmeza: — O tempo cura, Meg. Eu sei que agora parece impossível, mas você vai aprender a se reerguer. E, enquanto isso, nós estaremos aqui para você – Sandra, eu e todas as que se importam. Você merece mais do que ser esquecida. Enquanto os dias se transformavam em semanas, a notícia do noivado de Emmily Muller continuava a me assombrar. Em cada conversa com as outras detentas, os sussurros e as lágrimas, aquele anúncio se fazia presente como uma ferida aberta, sempre pulsando com a lembrança da traição. Em noites solitárias, enquanto a escuridão da cela se aprofundava, eu repetia, em voz baixa, as palavras que Marcus um dia me prometera, mas que agora soavam vazias: — Estou esperando por você do lado de fora. Mas aquelas palavras já não tinham mais sentido. Em vez disso, o vazio deixado por essa promessa se transformava em um grito silencioso, um pedido desesperado de que o amor que um dia juramos um ao outro fosse, de alguma forma, resgatado. Certa tarde, durante uma sessão coletiva na área de recreação, a tensão acumulada explodiu novamente. Eu estava revisando algumas planilhas que preparara para ajudar a manter os registros da cadeia, quando uma colega detenta comentou, com uma voz carregada de ironia: — Ouvi dizer que Marcus está vivendo um conto de fadas com Emmily. Você não consegue imaginar, Meg, que mundo é esse onde o amor acaba assim? Não consegui conter a raiva. Levantei-me bruscamente, os olhos cheios de lágrimas e fúria: — Não, vocês não entendem! — gritei, a voz ressoando pelo pavilhão. — Eu me entreguei completamente! Eu amei com todo o meu ser, e ele... ele nunca apareceu para mim. Eu sou a única que ficou, aqui, sofrendo enquanto ele segue sua vida! O alvoroço atraiu olhares de reprovação e compaixão, mas também alimentou minha sensação de abandono. Logo, a administração da prisão precisou intervir, e, com um aceno severo de Sandra, fui levada de volta à minha cela, onde o silêncio me acolheu como um manto frio e implacável. Naquela noite, deitada sozinha em meu colchão, com o som distante das correntes e o eco dos gritos ainda ressoando em minha mente, fechei os olhos tentando afastar a dor. O vazio dentro de mim parecia insuportável, mas, em meio à escuridão, uma pequena voz sussurrava que, apesar de tudo, eu ainda podia recomeçar. Foi então que percebi que, mesmo com o coração despedaçado, eu possuía a força para transformar aquele sofrimento em algo que me impulsionasse adiante. Sandra e Jenny, com suas p************s mas sinceras, haviam me mostrado que a vida dentro daquela prisão, por mais c***l que fosse, ainda podia oferecer uma oportunidade de reconstrução. E, embora a traição de Marcus me deixasse com cicatrizes profundas, eu sabia que não poderia me definir apenas por essa dor. Enquanto a escuridão da cela se adensava, e o silêncio se fazia quase ensurdecedor, eu respirei fundo, fechando os olhos, e prometi a mim mesma que, de alguma forma, encontraria a luz novamente. Mesmo que a cada dia a ausência de Marcus me lembrasse do quanto fui traída, eu não deixaria que esse desespero consumisse totalmente quem eu era. E assim, naquela cela fria, entre lágrimas e sussurros de consolo, comecei a reconstruir meu mundo, tijolo por tijolo, com a certeza de que, apesar de tudo, eu ainda podia escolher o caminho que seguiria. Mesmo que o amor que um dia acreditei ser eterno se mostrasse ilusório, a minha própria força e a amizade sincera de Sandra e Jenny seriam a base para que eu me erguesse, mesmo na escuridão mais profunda.
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