Andrew
Levei alguns dias para refletir sobre a aliança que Maksim me apresentou. Unir forças com os Torellos fazia sentido. Com suas conexões e acesso aos portos em águas internacionais, eu poderia expandir meus negócios mais rápido do que eu poderia imaginar.
Era uma oportunidade lucrativa, mas não se tratava de dinheiro. Eu já tinha bastante. Nem se tratava de poder, porque com o tempo eu poderia conquistá-lo também. Havia algo mais que me chamava. Uma mulher doce e inocente que eu pudesse afirmar ser uma parte importante dessa transação. Esse parecia ser o único elemento que faltava no meu mundo ultimamente.
Olhei para o papel elegante que eu havia arrancado do envelope prateado alguns minutos antes. Eles o haviam entregue por um mensageiro. Ri da audácia deles. Seria uma piada para eles?
— O que é tão engraçado? — Sebastian entrou no meu escritório.
— Os todo-poderosos Torellos me convidaram para a minha própria festa de noivado com esse convite caro. Eles nem mandaram um familiar para entregá-lo.
— Cara, isso é frio. Ok
— É isso que eles são. — Joguei o convite na minha mesa, o papel deslizando como uma afronta. Tive a coragem de não aparecer e deixar aquela família poderosa parecendo um bando de babacas na frente de todos os seus hóspedes ricos e esnobes. — Eles sempre se acharam melhores do que nós. Melhores do que todos os outros.
— E, no entanto, estamos nos juntando a eles. Não entendo.
— Porque você não tem o mesmo sangue frio para os negócios que eu. — Cruzei os braços, firme. — Eu consigo enxergar o panorama geral. Sabe o que as conexões deles farão por nós? Isso pode nos preparar para o resto da vida e nunca mais precisar fazer as coisas que meu pai fez para chegar ao topo. Nós encontramos o nosso próprio caminho. Não precisamos desta organização nem do que ela representa, mas teremos o respeito deles.
— Se você diz... — ele deu de ombros. — Você é quem tem que se casar com um Torello.
No início, essa condição era perturbadora, especialmente depois da forma como a esposa de Marcel negociou os termos do casamento. Ele cuidou da parte comercial da aliança, mas Tatiana cuidou da parte em que eles me entregaram a sobrinha. Distante e calculista, falava de Sophia como se fosse mercadoria. Fez questão de me dizer que, depois que nos casássemos, Sophia seria minha para eu fazer o que quisesse. Como se eu precisasse da permissão dela para tratar minha esposa da maneira que bem entendesse.
Nunca me considerei o tipo de homem que se casaria, e certamente não esperava fazê-lo por meio de um acordo arranjado. Quase mandei todos se foderem, mas vi a requintada Sophia. Torello pessoalmente no mês passado, em uma recepção. Sua mera presença foi suficiente para me distrair de uma importante negociação comercial. Se eu não estivesse no meio de uma oferta única na vida, teria mandado meu sócio embora e teria ido atrás dela.
Quando nossos olhares se cruzaram, percebi que ela não sabia sequer se deveria me encarar. Suas bochechas estavam rosadas, mas foram os deslumbrantes olhos cinzentos que prenderam a minha atenção. Eu já havia pensado nela algumas vezes, mas, sabendo quem era sua família, não dei continuidade. Quis o destino que os Torellos a entregassem para mim de qualquer forma.
— Quando eu me casar com a sobrinha dele, ele terá que me respeitar.
— Mas ela é bonita de se ver — disse Giovanni. — Não é um pouco jovem e inexperiente para você?
— Há uma diferença de idade. — Minha futura noiva era onze anos mais nova que eu, mas isso nunca me impediu antes. — A inexperiência dela não é da sua conta.
Mas logo seria da minha.
— Tenho certeza de que você aproveitará cada minuto agradável disso.
Dei um sorriso irônico, voltando a pegar o convite. — Admiro a coragem do Torello por me convidar assim. Ele está me mostrando que está no controle.
— O que você acha que ela significa para eles, se puderam simplesmente emprestá-la a você? — Giovanni desligou a televisão e jogou o controle remoto na mesa de centro. — Você não é exatamente o cara mais respeitável.
— É verdade.
Me sirvo de uma vodca do balcão de mármore.
— Eu os acusaria de vender uma moça inocente de família, mas ela é a única que eles têm que poderia consolidar essa união. Se movermos nossas coisas pelo território deles, eles também se beneficiarão. Alinhar-se conosco lhes dá mais homens no campo e mais proteção quando precisarem.
Sophia não era uma Torello de verdade, mesmo tendo sido criada por eles. Eu não tinha certeza se isso era um problema ou algo que poderia usar a meu favor mais tarde. Talvez, se eu quisesse romper a aliança, pudesse dizer que ela não era digna. No fundo, eu já sabia que isso não era verdade. Eu provavelmente era o bastardo que não era digno dela.
Pobre garota. Estava me conquistando como marido e, se fosse tão pura quanto me prometeram, não conseguiria me controlar.
Porra! Fiquei duro só de pensar nisso.
— De qualquer forma, é um bom negócio. — Tomei um gole da minha bebida. — Se eu tiver que me dar ao trabalho de me casar para garantir que isso aconteça, que assim seja.
Eu poderia agir como se casar com ela fosse um sacrifício, mas a verdade é que ganharia uma linda mulher não apenas para ficar ao meu lado, mas também para dormir na minha cama e satisfazer todas as minhas necessidades. Quem diria não a isso?
— Por que você faz todos os sacrifícios divertidos? — perguntou Giovanni.
— Porque eu sou o mais velho.
— Você pode ser o mais velho, mas ainda sou eu quem está lidando com Nicolau.
Já fazia alguns dias e ainda não tínhamos notícias dele. Embora seu desaparecimento fosse alarmante, não era incomum nesse ramo. Eu odiaria pensar que algo tivesse acontecido, mas a possibilidade existia.
— Espere mais um ou dois dias e depois daremos um jeito. — Ninguém nos mandou mensagem avisando que o pegaram. Se ele tivesse ido para a clandestinidade, logo ressurgiria. O cliente já havia recebido a remessa, então, naquele momento, eu era o único sem o dinheiro. Se Nicolau tivesse fugido com a minha parte, não haveria lugar no mundo onde pudesse se esconder.
— Espero que ele esteja bem — disse Giovanni. — Ele é um cara legal. Eu odiaria pensar que o subestimamos e ele se voltou contra nós.
— Eu ficaria mais preocupado se outra pessoa o tivesse pegado antes de pensar em traição. — Eu não costumava dar às pessoas o benefício da dúvida, mas meus instintos raramente falhavam. E, se falhassem, eu sempre dava um jeito de virar o jogo depois. Ninguém nunca saiu ileso me prejudicando Q.
— Talvez ele esteja saindo com alguma gostosa e reapareça em breve.
— Então eu vou matá-lo por me fazer suar tanto. — Bati o punho na mesa.
— É só dinheiro.
— Um monte de dinheiro, p***a. — De jeito nenhum Nicolau seria burro o suficiente para me roubar. — Me avise se souber de alguma coisa.
— Você será a primeira pessoa para quem contarei.
— Qual é o nome daquele dono de butique na cidade? O que tem todos os clientes homens que compram para namoradas, esposas e amantes?
— Kendall. —
— Sim, você já comprou com ela antes, certo? —
— Algumas vezes.
— E ficou satisfeito?
— Ela nunca me decepcionou.
— Imagino que você já tenha se beneficiado em diversas ocasiões.
— Eu sempre transo depois de dar um presente da loja dela. Não é barata, mas se você disser exatamente o que quer, sua garota vai parecer uma modelo de passarela. — Ele riu, recostando-se. — Você sabe quantas mulheres me chuparam felizes com as roupas novas que comprei?
— Me mande o número dela.
— Por quê?
— Porque minha futura noiva vai precisar de um vestido para a nossa festa de noivado, e eu quero ter certeza de que ela ficará exatamente como eu quero. As pessoas saberão que ela é minha antes que a noite acabe.
— Acho que vocês dois não têm o mesmo gosto para roupas. — Giovanni me enviou o número de Kendall.
— Ela vai usar o que eu mandar. — Rolei meus contatos até encontrar o de Marcel Torello. Escrevi uma mensagem curta:
Recebi seu convite pessoal. Muito chique. Estou confirmando a presença para mim e meu irmão. Você provavelmente já adivinhou que eu estaria lá.
Cliquei em enviar, mas acrescentei mais uma linha:
Vou mandar um presente para minha namorada. Garanta que ela receba antes da festa.
Se Torello e sua sobrinha achavam que esse arranjo seria fácil, tinham muito a aprender sobre mim.
Quanto mais cedo todos percebessem que eu estava no comando, melhor.