Capítulo 10

1316 Palavras
Vou até o painel da TV e jogo a chave do carro, puxo a camisa e jogo nas costas. Calor do c*****o! Minha mente tá a milhão, bolando a fita de amanhã. Vou até a cozinha, querendo me afastar da conversa deles. Pego a garrafa d'água na geladeira, encho o copo e fico ali, apoiado na pia, refletindo. Essa p***a de amanhã não pode dar errado, mano. Fechei um negócio pesado com a máfia italiana, coisa fina, nível que poucos têm moral pra mexer. Se rolar do jeito que planejei e vai rolar, porque aqui é só visão de raio-x. Nós vamos faturar milhões. Os caras têm a droga mais pura, bagulho premium, e se é premium, vai tá na minha mão. Não é à toa que tô nessa guerra há mais de 10 anos. Faturando alto, soldados todos no grau, e eu? Sempre um passo à frente. Minha cara vive estampada nos jornais, polícia oferecendo recompensa, prometendo mundos e fundos pra quem me entregar. Mas, irmão, eu tô aqui, firme igual um tanque. Nada me derruba, nada me tira do foco. O bagulho vai esquentar nos próximos dias, disso eu não tenho dúvida. Mas tá tudo no esquema, calculado, do jeitinho que eu gosto. Quem tá no comando sou eu, e enquanto eu respirar, ninguém me tira da frente. Desde moleque, minha mente já era ligada no 220. Nunca consegui ficar parado, esperando o mundo girar por mim. Sempre pensando no próximo movimento, arquitetando. Minha impulsividade nunca foi defeito, foi combustível. Tô sempre em ação, querendo mais. O próximo esquema tem que ser maior, melhor, mais ousado. Às vezes dá bom, às vezes dá merda, mas é assim que funciona: tem que botar o coração no jogo, ou então tu nem entra. Puxo o celular do bolso e vejo as notificações piscando: várias chamadas perdidas do Coronel. Ele tá na minha cola, querendo os detalhes do que vai rolar. Não que ele duvide de mim ele sabe que eu resolvo tudo, sempre. Mas é o jeitão dele: quer tudo na ponta da agulha. Meu telefone tá sempre no silencioso. Odeio atender ligação, só faço isso quando é algo realmente importante. O resto já tá ligado no esquema: se for urgente, manda mensagem ou espera eu ligar de volta. Mas quando é o Coronel, o papo é outro. Ele não é qualquer um. É uma ligação que eu não ignoro. Não vi na hora, mas depois eu resolvo isso. Ele vai ter que esperar mais um pouco. Minha relação com pessoas sempre foi complicada. Vivo na minha, fechado, sem dar muita a******a. Desde moleque, sou assim. Prefiro a solidão, prefiro ficar na minha, só eu e meus pensamentos. Melhor desse jeito... sem cobrança, sem expectativa. Assim que a Stefany me vê online, a primeira coisa que ela faz é mandar uma foto toda arreganhada. A mina não perde tempo. Eu, do meu jeito, respondo com uns emojis de fogo e coração. Não sou de negar f**a, tá ligado? E ultimamente só tenho rodado entre ela e outra p**a aqui do morro. De vez em quando, pego uma novinha do asfalto, que já sabe qual é: vem, dá pra mim, e depois cada um pro seu lado. Sem grude, sem compromisso. Fico trocando ideia com a Stefany um tempo, e, claro, a mulher começa a mandar mais foto. É de todas as posições, provocando. Não vou mentir, dá até vontade de f***r essa v***a de novo. Loirinha, corpão que parece esculpido. Ela sabe que é gostosa e usa isso. Só que tem um problema: ela é emocionada demais. Vive arrumando caô em dia de baile porque me vê trocando ideia com outra mina. Isso me desanima, parceiro. Não gosto de treta desnecessária. Pra ela, é só isso: fuder e vazar. Se insistir muito, eu deixo de lado e parto pra próxima. WhatsApp On: Muel: Como o cara faz uma p***a dessa do nada, irmão? O Terror tá maluco, vai fuder geral. Queria saber o que o Coronel tá achando dessa p***a. Sombra: Tô nesse pensamento também, parceiro. Ele se acha o todo poderoso, quero ver se o castelinho dele cair, o que ele vai fazer. Coringa: Terror sabe o que tá fazendo, ele sempre foi assim. Muel: Certo é certo, só não quero que essa p***a sobre pro meu morro. Sombra: Quero ver se ele vai sustentar essa p***a. Porque os cu azul vai sair até do chão. Muel: Depois vai terminar igual o pai, na trinca. Terror: Áudio enviado... – Oxe, desde quando eu trouxe assunto meu pra tu, Muel? Hein? Desde quando tu bota banca no que eu faço? Me escuta aqui, ó: minha caminhada é reta, meu papo é com o Coronel e acabou. Tô cagando e andando pra tua opinião, seu merda. Aqui é crime de verdade, e eu faço o que tem que ser feito sem depender de tu nem de ninguém, tá entendendo, filha da p**a? Respiro fundo, mas meu sangue já tá fervendo. Jogo mais gasolina: – E pra tua memória curta: enquanto eu dou a cara e resolvo, tu tá aí, sentadinho, preocupado com os bota. Tu nunca segurou uma bronca como eu, então não mete essa, c*****o. Meu corre é grande demais pra tua língua pequena. Fica na tua ou tu vai me achar, rapá. Guardo o celular no bolso e largo o copo na pia. Quando levanto o olhar, vejo uma silhueta entrando devagar pela cozinha. É ela. Me encara assustada, como se não esperasse me encontrar por aqui, parando na porta, hesitante. Manu: Tudo bem? – a voz sai baixa, quase num sussurro. Assinto com a cabeça, só observando, sem dizer nada. Ela pede licença e entra, indo direto pro armário pra guardar algumas coisas. Tá toda envergonhada, dá pra ver. Eu, parado, com as mãos nos bolsos, não consigo evitar de reparar nela, especialmente no jeito delicado com que se move Ela se vira devagar, se levantando, e percebo como suas bochechas ficam vermelhas ao sentir meu olhar fixo sobre ela. Caminha até o fogão, meio atrapalhada, prendendo o cabelo num coque alto. A pia entre nós é a única coisa que nos separa, mas o espaço parece pequeno demais pra nós dois. Sinto o cheiro suave do perfume dela invadindo o ambiente, doce, delicado, e dá pra ver que minha presença a deixa desconcertada. Ela tenta se concentrar no que tá fazendo, mas as mãos tremem um pouco, e esse nervosismo só deixa ela ainda mais atraente. Fico na minha, quieto, só observando. Terror: Deixa essa p***a por aí, amanhã ela dá um trato nisso — falo, quebrando o silêncio, a lembrando que a Néia vem amanhã. Ela me olha rápido, processando minhas palavras. Manu: Pra mim fazer isso não é nenhum problema. — da de ombros — Vou guardar porque ninguém deve comer mais e vai acabar estragando ficando aqui. — a voz dela sai suave, enquanto tenta ajeitar as coisas no balcão. Dou de ombros, se ela quer fazer problema é dela. Terror: Tu que sabe — falo seco, e ela revira os olhos respirando fundo. Manu: Acho que te devo um obrigada... por ter me deixado ficar aqui no morro. – fala de um jeito meio tímido. Terror: Tem que agradecer é sua amiga. Isso foi coisa dela.. – lanço a real, sem florear. Pela minha vontade, ela já tava virando o beco com os bagulhos dela nas costas. Mas o vacilão do RD veio comer minha mente e acabei concordando. Apesar de ter me sentindo atraído por ela, não arriscaria meu morro por mulher nenhuma, ainda mais uma que veio da p**a que pariu. Manu: Ela eu já agradeci – responde, mordendo levemente o lábio, parecendo meio sem jeito. A gente se encara por uns segundos até ela desviar o olhar. Queria entender o que exatamente me faz continuar com essa conversa, quando normalmente eu já teria metido o pé.
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