Manu narrando
Empurro a porta com o quadril enquanto ajeito a maleta rosa no ombro, tentando equilibrar o peso enquanto minha mão mergulha na bolsa à procura do celular. Meus dedos encontram o aparelho no meio dos apetrechos, e eu o puxo, desbloqueando a tela num movimento rápido. O sol da tarde bate direto nos olhos, e eu franzo o cenho, apertando o passo pela calçada enquanto abro o w******p.
Minha mente já tá lá na conversa com o Terror. A mensagem dele chegou mais cedo, casual, do jeito dele, cheia de uma autoridade silenciosa que só ele tem. Eu, claro, respondi com aquela mistura de charme e desdém, que eu sabia que ia mexer com ele. Pelo menos, era o que eu esperava.
Mas aí tá lá: Mensagem enviada. Não lida. Nenhuma visualização. Nem um sinal de vida.
Ah, qual é... — murmuro pra mim mesma, girando os olhos enquanto passo por um poste e quase tropeço numa raiz que rompe a calçada.
O celular fica na mão, e eu confiro a conversa de novo, como se a notificação azul fosse magicamente aparecer. Mas nada. Respiro fundo, tentando afastar aquela pontada de irritação misturada com uma leve frustração.
Mais cedo, a Bruna tinha comentado comigo que o L7 chegou em casa falando que o Terror tava com o cão no couro. Ele deve tá muito ocupado e eu sendo egoísta.
Paro no meio da calçada, o vento batendo de leve no meu rosto, enquanto fico olhando pra tela do celular. Meu dedo tá ali, pairando sobre a conversa, como se tivesse vontade própria. Mandar outra mensagem? Só uma coisinha, bem casual, tipo um “Oi, sumido” ou um “Tá vivo ainda?”. Mas, na mesma hora, o orgulho fala mais alto.
Não hoje. — murmuro baixinho pra mim mesma, fechando a conversa e bloqueando a tela.
Guardo o celular de volta na maleta e sigo andando. Finjo que não ligo, mas, no fundo, sei que tô só esperando a notificação aparecer na tela.
Ando mais um pouco, atravessando a rua devagar, e decido conferir a conversa com a próxima cliente. Quando abro as mensagens, quase solto um grito.
Ah, não acredito! — falo alto, e uma senhora que passa por mim dá uma olhadinha curiosa.
Respiro fundo, mas a vontade é de chutar o poste mais próximo. Agora eu tô com a tarde livre à força. Isso é praga da Any.
.
Releio a mensagem mais uma vez, como se pudesse mudar as palavras no grito, mas nada. Tá ali, Sem nem um pedido de desculpas decente, só um "Infelizmente vamos precisar cancelar hoje. Qualquer coisa te aviso, tá?"
Qualquer coisa te aviso, tá? — repito em voz baixa, cheia de ironia, guardando o celular de volta na maleta. O que eu faço agora?
Passo na padaria que fica no caminho de casa. O cheiro do pão francês recém-saído do forno me faz sorrir sem querer. Não resisto e compro uns pães e alguns pãezinhos de queijo também. Saio com o saquinho quente na mão, e meu fone ouvindo minhas musicas preferidas e cantando sozinha.
Enquanto caminho de volta pra casa, vou pensando que talvez seja bom ter esse tempo livre. Dá pra relaxar, assistir alguma coisa, ficar à toa.
Entro em casa, empurrando a porta com o ombro enquanto equilibro a maleta numa mão e o saquinho de pães na outra. O silêncio familiar me recebe, e eu vou direto pro banheiro.
Abro o chuveiro, e a água morna escorre pelo meu corpo, tirando o cansaço e o calor do dia. É rápido, sem muita cerimônia. Só o suficiente pra lavar a sujeira da rua. Enrolo a toalha no corpo e volto pro quarto, pegando a primeira roupa confortável que vejo: um short folgado e uma camiseta velha, desbotada.
Sigo pra cozinha. Coloco a água pra ferver e, enquanto espero, arrumo os pãozinhos de queijo e os franceses num pratinho. Assim que o café termina de passar, o cheiro se espalha pela casa, e eu sorrio sem querer.
Pego um pãozinho de queijo, quente e macio, e mordo com vontade. O café fresco desce perfeitamente.
Já são 17h30, e sem a Any por aqui, essa casa tá um marasmo só.Tento ignorar a monotonia, pego o celular e começo a rolar a tela, pulando entre aplicativos e mensagens antigas.
Abro o w******p, porque, né, sempre tem aquela esperança boba. Vou direto na conversa com o Terror. Como sempre, nada. Nem uma mensagem, nem um "visto por último" que me dê esperança.
Vamos ver se pelo menos responde agora... — murmuro, digitando um simples "oi" e enviando.
O azulzinho não aparece. Ele nem visualiza. Reviro os olhos, soltando um suspiro irritado.
Beleza! ... Eu aqui pagando o maior papel de trouxa, e você sem nem lembrar que eu existo. — me reclino no sofá, cruzando as pernas e mordendo o lábio, tentando afastar a frustração..
Olho o celular de novo, porque a curiosidade não me deixa em paz. Vejo que tem uma mensagem da Bruna.
Mensagem
Bruna: Manuelaaaa, preciso da tua ajuda! Não aguento mais o L7 me tirando de otária! Tô com sangue no olho, amiga!
Bruna: Preciso que tu cola comigo lá na resenha que esse povo tá. O filho da p**a do L7 tá lá cercado de p**a enquanto eu tô aqui dentro de casa. Mas hoje ele vai aprender como.
Manu: Bruna, cê tá maluca? Que tipo de ideia é essa? — seguro o riso, mas já sabendo que ela tá pronta pra qualquer coisa.
Bruna: Maluca não, amiga, só cansada de ser passada pra trás! E tu não vai me deixar na mão, né? Já tô indo aí te pegar.
Manu: Bruna, sério... Hoje eu só queria ficar de boa, deitada, e fingir que o mundo não existe. — jogo a cabeça pra trás da cadeira, me sentindo derrotada antes mesmo de tentar.
Bruna: Para de drama, mulher! Vai botar um vestido lindo, se arrumar toda e me ajudar a mostrar pra aquele desgraçado o que ele tá perdendo. Tu sabe que ele vai se morder quando te ver nos duas juntas. — a convicção dela é tão grande que quase me convence na hora.
Manu: Eu não tô nessa vibe de causar, amiga. Deixa isso pra outro dia, vai. — digo.
Bruna: Uma hora, Manu. Tô passando aí. Vai arrumar, gata! Se não for por mim, vai por você mesma. Você merece um dia de glória.
Manu: Tá bom, Bruna, tá bom. Vou nessa loucura contigo. — respondo por fim, rindo da minha própria falta de resistência.
Mensagem Off
Saio da conversa com a Bruna e abro o w******p com a Any. Escrevo rápido:
Manu: Resolvi ir com a Bruna. Me espera!
Logo vejo o áudio dela chegando. Aperto o play, mas tem tanto barulho de fundo que só consigo captar o final da mensagem:
Any: "... vou avisar o Renan pra eles liberar vocês entrarem no morro."
Me levanto, ainda indecisa, mas já caminhando pro quarto. Vou até o espelho e fico encarando meu reflexo. Pego o cabelo, faço um coque alto e tento pensar no que vestir.
(...)
Me olho no espelho, e o reflexo me arranca um sorriso de satisfação. O vestido preto, curto e ousado, abraça meu corpo com perfeição. Um modelo assimétrico, com um ombro só, deixa um dos meus braços livres, enquanto os recortes na cintura revelava minha pele sutilmente à mostra, criando um jogo de sensualidade sem exagero.
Os detalhes das linhas do vestido realçam minhas curvas, e o tecido tem um brilho discreto que destaca ainda mais o tom bronzeado da minha pele. Nos pés, sandálias de tiras finas e salto alto alonga minhas pernas, deixando-as ainda mais torneadas.
No cabelo, optei por um liso alinhado, que caí reto e brilhante sobre os meus ombros. A franja solta emoldura meu rosto, destacando meus traços. Completo com acessórios delicados: um colar fino que brilha suavemente na luz, uma pulseira discreta no pulso e brincos pequenos, que não competem com o look, mas traz um toque de sofisticação.
A bolsa de corrente pendurada no ombro é a peça final, um detalhe minimalista que equilibra o visual. Passo a mão pelo vestido, ajustando o tecido na lateral, e lanço um último olhar para o espelho, com um sorriso de quem sabe exatamente o impacto que quer causar.
Inclino o rosto para mais perto do espelho, avaliando o trabalho que estou quase terminando. Começo pela pele, é claro. Uma base matte, bem aplicada com a esponja, uniformiza meu rosto sem pesar. O corretivo clareia as olheiras e destaca as áreas estratégicas: abaixo dos olhos, o centro da testa, o nariz e o queixo. Finalizo com um leve contorno em pó, esculpindo as bochechas e afinando o nariz. No topo das maçãs do rosto, aplico um iluminador sutil, apenas o suficiente para refletir a luz de maneira delicada.
Para os olhos, sou básica, mas marcante. Uma sombra marrom clarinha no côncavo para dar profundidade, combinada com uma mais iluminada no canto interno para abrir o olhar. O delineado preto bem puxado, fininho no início e mais grosso no final, cria aquele efeito gatinho que tanto amo. Máscara de cílios foi essencial, levantando e alongando meus cílios para um olhar mais impactante.
Na boca, escolho um gloss nude com um leve brilho, que deixa meus lábios com aparência hidratada e natural. Antes, contornei os lábios com um lápis no mesmo tom, apenas para realçar o formato sem exageros.
Por último, um pouco de blush rosado no centro das bochechas, para trazer aquele ar de saúde. Passei o pincel uma última vez para garantir que não tivesse nenhum brilho indesejado, e finalizo com uma borrifada de fixador de maquiagem. Estou pronta.
Deslizo o frasco do creme entre as mãos, espalhando-o pelo meu corpo com movimentos lentos, aproveitando a sensação macia na pele. Começo pelos ombros, descendo pelos braços, deixando aquele cheiro suave que sempre escolho para noites assim. O toque final é o perfume.Borrifo nos pulsos, atrás das orelhas e no colo, espalhando a fragrância no ar, como uma assinatura invisível.
Vou até o espelho mais uma vez, jogando o cabelo de lado e checando os detalhes da maquiagem.Dou um sorriso discreto para o reflexo e pego o celular.
Com o braço levantado, inclino a cabeça levemente e faço a foto, capturando o ângulo perfeito. Escolho o filtro certo, algo que realce o brilho do meu olhar e a iluminação natural do quarto. Digito a legenda:
Será que hoje alguém aguenta me esquecer? 🤤😏😍
Antes de postar no story do w******p, dou uma última olhada. Está perfeito. Aperto para enviar e, ao ver o status subindo, sinto o coração disparar levemente. Não é só sobre quem vai ver. É sobre como me sinto agora: confiante, poderosa e dona de mim.