Capítulo 20

1929 Palavras
Manu narrando: Depois de horas andando sob esse sol escaldante, eu e a Any finalmente conseguimos entregar todos os meus currículos e trocar ideia com alguns donos de comércio daqui. No mercadinho, até tem vaga, mas o dono pede experiência em atendimento, e disso aí, eu ainda não entendo nada. A gente também passou no postinho onde a Any trabalha, pra conversar com o Renan, o chefe dela. Um senhor super educado, profissional, e que cuida de tudo ali. Só que, como a Any me explicou, toda contratação passa pelo Terror. E depois do que rolou, duvido muito que ele vá me querer no postinho, já que deixou claro que não curtiu o jeito que eu trabalho. Saio dos pensamentos com o ronco forte de motos se aproximando, um barulho de motor tão alto que parece sacudir até o chão. Eu e Any olhamos pra trás, e lá vêm cinco motos: duas na frente, uma no meio e mais duas atrás, tipo uma escolta. E nem preciso pensar duas vezes pra saber quem é. No instante que nossos olhares se cruzam, ele me encara direto, daquele jeito que faz o corpo inteiro gelar. Mesmo pilotando, não desvia o olhar. Sinto o coração dar uma acelerada, mas desvio logo o rosto. Não vou dar moral pra esse vacilão. Mexo no cabelo, tento mostrar indiferença, mas Any logo percebe e cutuca meu braço, rindo. Any: Que foi isso? — ela me olha sorrindo, e eu sorrio também, mas com a cara toda vermelha. Abaixo o rosto, mas levanto o olhar de novo e vejo o i****a empinando a moto numa roda só. Acho isso ridículo! Any: Tá se exibindo pra você, amiga! Igual pavão quando abre a cauda. — Nós duas caímos na risada, tapando a boca pra segurar. Manu: Quando meter a cara no chão para. — n**o com a cabeça, ainda rindo. Any: Deus o livre de estragar essa carinha linda — rimos, a leveza da conversa me ajuda a afastar os pensamentos pesados. — Mas, sinceramente, não entendi nada! De manhã, te manda embora, e agora à tarde, parece que tá quase te devorando com os olhos. Ela dá uma risadinha, e eu sinto uma mistura de nervoso e diversão, como se a situação toda fosse uma grande piada. Manu: Vai entender, né? — digo, revirando os olhos enquanto um sorriso involuntário surge nos meus lábios. — É como se ele tivesse um botão de liga e desliga, ou sei lá. De manhã, só queria me ver pelas costas, e agora tá aí, me devorando com o olhar. Any: Acho que ele tá te querendo, Manu. — Ela diz, com um olhar travesso. — Olha como ele te observa! É como se estivesse a fim de você amiga. Manu: Querendo me ver longe, só se for! — respondo, dando uma risadinha nervosa. — Se ele realmente estivesse a fim, não teria me mandado embora daquele jeito. É tudo tão confuso que eu nem sei mais o que pensar. Any: Bora tomar uma cerveja no bar do Celso? Manu: Bora! Tá um calor doido mesmo — concordo, feliz com a ideia. Beber um pouco pode ajudar a refrescar a cabeça e esquecer um pouco essa bagunça que tá na minha mente. Any me leva até o bar, um lugar simples mas aconchegante, com várias mesas e cadeiras de plástico amarelas. Assim que sentamos, um senhor muito simpático que parece ter uns 45 anos vem nos atender. Ele é o Celso, dono do local. Pedimos alguns petiscos e duas cervejas bem geladas e ele anota indo providenciar nosso pedido. A conversa se estende, e ela me conta algumas histórias que eu ainda não sabia sobre como funciona as leis daqui e o que acontece quando alguém as quebra. Vou ouvindo cada detalhe e fico chocada com o que ela fala. Realmente a vida por aqui não é um morango. O assunto muda e ela me conta sobre o cara que ela ficou no último baile. Que é o irmão da Rafa e filho do senhor que conhecemos hoje lá no postinho. Ela me mostra as mensagens que eles estão trocando e ela tá super animada com ele. Espero que dê muito certo minha amiga merece encontrar alguém bacana. Por volta das 19h, o movimento aumenta e logo o bar começa a encher. Um ronco de motos se aproxima e, em poucos minutos, vários caras entram, tudo bandido pelo jeito. Eles acenam com a cabeça, cumprimentando geral, e se sentam em uma das mesas mais pro lado de fora, enquanto eu e a Any ficamos mais no canto de dentro, observando de longe o clima mudar. Manu: Responde o garoto — falo, vendo a notificação das mensagens que eles estão trocando.Tomo um gole na minha bebida e largo meu celular na mesa de novo. Any: Ah, ele é gente boa, mas é mó galinha também. Não sei se compensa não — ela diz, negando com a cabeça enquanto mastiga um pedaço de carne. — Tô correndo de homem problema, sabe? Já tô calejada demais pra isso. Manu: Mas desse jeito tu não arruma ninguém, amiga. Todo mundo tem um defeitinho, vai — dou uma risadinha, olhando pra ela. — Se ficar assim, vai acabar sozinha, Any. Any: Cê não tem noção do tamanho do defeitinho dele, Manu. Só dele, não... de todos ali naquela mesa — ela comenta, baixinho, dando uma olhada discreta pro lado. — Ele é o de camisa branca que acabou de sentar — aponta de leve com o queixo, e eu sigo o olhar dela pra mesa lá fora. Manu: Ele é bonito, amiga — falo, observando ele virar o boné e rir em direção a nossa mesa. Any: Ele é uma delícia, amiga, lindo, bom de papo, cheiroso. Beija pra um c*****o, mas não presta, e aí fudeu com tudo. — Ela balança a cabeça, claramente frustrada, enquanto morde mais um pedaço de carne. Manu: Olha como essas mulheres ficam — digo, vendo um grupo do outro lado da rua. Elas riem alto, dançam sensualizando na direção deles. Tentando chamar atenção e parece que conseguem já que eles não tira os olhos delas. Any: Hoje as putas tão até comportadas — ela comenta, rindo, enquanto olha para o grupo. — daqui a pouco começa a briga das fieis e amantes. Um verdadeiro espetáculo. Parece que percebem que tão sendo observadas e se exibir ainda mais. Manu: Credo! — falo, com um misto de espanto e divertimento, enquanto sacudo a cabeça. — É cada cena que aparece por aqui que eu fico sem palavras. Any: Os bandidos vivem cercados dessas putas. Onde tem bandido, tem p**a no meio — ela fala, com um olhar decidido. — Por isso tô dizendo que não sirvo pra ser mulher de bandido e corna ao mesmo tempo. Não dá pra lidar com essa bagunça, não sou feita pra isso. O jeito que as coisas rolam aqui é loucura demais pra mim. Manu: Eu entendo, amiga. É muito complicado mesmo — digo, balançando a cabeça em concordância. — Não é só a vida de bandido que é intensa, é todo esse mundo em volta. E, olha, não sei se eu conseguiria lidar com isso também. A gente merece algo mais tranquilo, né? Any: Merecemos, e por falar em p**a, chegou o rei delas. — Ela olha na direção da entrada e sigo seu olhar. Ela fala olhando pro Terror, que encosta a moto, e meu corpo gela todo. Por que essa desgraça não é feio, barrigudo e careca? Pelo menos assim eu poderia ignorar tranquilamente, mas não. Ele é o oposto: atraente, tatuado e extremamente bonito. É frustrante, e sinto um nó na garganta, me perguntando como ele consegue ter esse efeito todo em mim. A gente só ficou uma vez, mas toda vez que o vejo, sinto meu corpo vibrar. É como se aquele momento tivesse deixado uma marca, e cada vez que ele aparece, o coração dispara e a respiração acelera. Tô tentando me manter firme, mas a lembrança do toque dele ainda queima na pele, e a confusão entre querer ignorá-lo e a atração intensa é um conflito que não consigo controlar. Manu: Tô morrendo de sono, amiga — tento mais uma desculpa, mas Any só solta uma risada meio alta. Any: Nada disso, olha aqui — ela balança a garrafa quase cheia — ainda tem uma garrafa inteira e esse tanto de isca de peixe — ela levanta a vasilha, insistente. Manu: Tô com sono amiga - jogo essa tentando fazer ela se convencer mais a vaca não arreda o pé. Any: Tá querendo é fugir dele, né? — ela diz, com um sorriso maroto, levantando uma sobrancelha de forma provocadora. — Acha que não percebe quando você fica nervosa só de vê-lo? É, amiga, não dá pra enganar quem tá do lado. Any: Se não quiser ficar perto dele, vai ter que se trancar em casa, porque ele tá em todos os lugares — ela completa — Não adianta tentar fugir, uma hora ou outra você vai cruzar com ele. O jeito é lidar com isso, foi só uma ficada. Dou uma rápida olhada ao redor, tentando escapar parecer normal. Minhas mãos se entrelaçam nervosamente, e eu giro um anel no dedo, uma forma inconsciente de me distrair. A verdade é que, mesmo que eu quisesse me esconder, a presença dele tá em cada canto. Terror narrando: Desço da moto já de olho no interior do bar do Celso. A rapaziada combinou de tomar uma gelada antes da p***a toda acontecer. Tô sabendo que ocorreu tudo certo no assalto, mas um cara foi ferido. Não dá pra saber quem foi, mas já tô no encalço de descobrir. Meu olhar varre o local, e antes de sentar na mesa dos caras, vejo a Manuela e a irmã do RD lá no fundo, sentadas mais no interior do bar. Aceno com a cabeça e elas correspondem, um movimento simples que tem seu peso. Puxo a cadeira e me jogo na cadeira de plástico amarela, ouvindo a conversa dos caras. Renan: Já sabe qual foi da fita do assalto? — ele pergunta, inclinando-se levemente para frente, interessado na resposta. Terror: Não, só as mesmas informações — Falo puxando o celular, vendo as notificações piscando na tela. Meu olhar se mantém fixo no aparelho, tentando ignorar a tensão. Renan: Quem será que tomou tiro, mané? — A ansiedade na voz dele é clara, e ele balança a perna nervosamente. Terror: Se eu soubesse, não estaria procurando saber.— Meu tom é seco, mas não dá pra esconder que também tô pensando nessa fita. Faço uma pausa, observando o ambiente ao nosso redor. Renan: Claro, pô. É que tô preocupado com o RD, mano. A irmã dele veio perguntar se eu tô sabendo de alguma fita. — Ele fala, unindo as mãos atrás da cabeça, visivelmente ansioso. O olhar dele passeia pelo bar, até a mesa delas e fico observando elas sorrirem pra ele. Que p***a tá rolando nesse c*****o? A raiva se acumula dentro de mim, como um vulcão prestes a explodir. Olho ao redor, procurando qualquer sinal que explique essa p***a. Terror: Fala que não tem notícias.— falo boladão, mas meu coração aperta ao pensar no RD e no que pode ter acontecido. Renan: Falei, pô. — me devolve o olhar, mas na real a única coisa que se passa na minha mente fudida é porque ela riu pra ele. Sinto a mente a milhão, como se esse sorriso ecoasse e me deixasse mais puto do que já tô.
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