Capítulo 65.

1302 Palavras
Manu narrando Rolo na cama, tentando encontrar uma posição que me ajude a dormir, mas é inútil. Amanhã seria o aniversário da minha mãe, e só de pensar nisso meu peito aperta. Tento me distrair, pego o controle na cômoda e ligo a TV. Passo pelos canais, mas nada parece funcionar. Tudo soa vazio, sem graça. Suspiro e me obrigo a sair da cama. Não adianta ficar ali deitada, lutando contra os pensamentos. Lembro que preciso lavar meu uniforme, então vou direto pra lavanderia improvisada no cantinho da cozinha. Graças ao Felipe, consegui sobreviver durante esses 6 meses, ele me conseguiu um emprego em uma clínica de luxo lá na Barra. É longe pra caramba, uma viagem de ônibus que parece interminável, mas o salário vale o esforço. Dá pra pagar o aluguel, fazer a feira e ainda sobra pra uns mimos. Todo dia é igual: entro às oito, saio às seis, encaro o ônibus cheio e chego em casa exausta. Faço uma comida rápida, lavo o uniforme, deito e durmo. Um ciclo que se repete sem pausa, mas pelo menos me garante estabilidade. Termino de estender a blusa e a calça branca no varal e pego o celular. Entro no banheiro social, me sento no vaso e começo a mexer no i********:. As meninas tão no grupo do w******p, animadas como sempre. Desde que Lavínia se juntou a nós, virou oficial: somos um esquadrão. Elas sabem que eu tô na bad hoje, então tão fazendo de tudo pra me distrair. Mandam memes, áudios engraçados e até piadinhas bobas que arrancam um sorriso meu. Lavínia até sugeriu vir aqui, mas já passa das dez e meia. Amanhã eu acordo cedo, então não rola. Mesmo assim, é bom saber que elas tentam. Um barulho vindo da sala me congela. Meu coração dispara no mesmo instante, e sinto um frio subindo pela espinha. Saio do banheiro sem dar descarga e na sala, dou de cara com Felipe, em pé, com uma embalagem de bolo numa mão e uma garrafa de vinho na outra. Manu: Tá maluco? – Solto, ainda meio surpresa e com o coração acelerado. Ele me encara com um sorriso. Felipe: Achei que você não devia passar essa noite sozinha. Manu: p***a, Felipe. Falo enquanto caminho até ele. Felipe: Foi m*l, eu não queria te assustar. – Ele vai até a cozinha, e volta com as mãos vazias, parando na minha frente. Eu tô sentada no braço do sofá, de braços cruzados. Manu: Quantas vezes vou ter que falar que não quero você entrando aqui desse jeito? É minha casa, Felipe, minha privacidade. – Falo séria, olhando direto nos olhos dele, mas ele desvia o olhar. Felipe: Tu não gosta? – Pergunta, parecendo irritado. Manu: Não, não gosto. – Respondo firme, e ele se afasta, passando a mão na cabeça, andando de um lado pro outro. É que eu detesto o jeito como o Felipe é às vezes. Eu sei que é preocupação, cuidado, carinho, mas ele não era assim antes. Tudo mudou desde o dia em que os homens do Terror o sequestraram e o espancaram. Ele contou que o Terror ameaçou ele, dizendo que ia matar nós dois, e logo depois descobrimos que ele tinha colocado o Vitinho pra ficar de olho na porta aqui de casa. Depois disso, o Felipe ficou paranoico. Começou a me cercar, a me sufocar, sempre com a desculpa de que ta me protegendo. Talvez eu esteja sendo escrota e ingrata com alguém que só quer o meu bem, mas não acho certo ele ter a chave do meu apartamento e entrar sempre que dá na telha. E se eu tivesse com alguém? Embora, sejamos sinceros, ele sabe que essa possibilidade é nula. Eu fiquei com poucas pessoas desde aquele dia em que eu e o Terror nos despedimos. Até tentei encontrar alguém legal, flertar, mas só topei com um bando de caras bobos que não sabem nem sustentar uma conversa decente. A real é que nenhum deles é o Terror. Eles não têm a voz dele, o cheiro dele, o beijo dele. Olho pro Felipe, e o arrependimento me atinge instantaneamente quando vejo que ele tá chorando, sentado no chão, cabeça entre as pernas e encostado no sofá. Manu: Felipe, olha pra mim. Me desculpa. – Me sento ao seu lado. Felipe: Eu vou embora e te deixar tranquila. – Ele tenta se levantar, mas seguro o braço dele. Manu: Para, não faz isso. Eu tô cansada, triste... e, a real, hoje eu sou uma péssima companhia. – Digo olhando pro teto, com a cabeça deitada no sofá. Sendo o mais sincera possível. Ele me olha enquanto uma lágrima cai do seu rosto. Felipe: Já disse que, pra mim, você é a melhor companhia que existe. Manu: Aham, sei... – Concordo com a cabeça e ele sorri. – O bolo é de chocolate? – Pergunto, sem tirar os olhos do teto e ele faz que sim. Reviro os olhos e passo a língua nos lábios. – Eu adoro bolo de chocolate. Felipe: Por isso eu comprei – fala me olhando – Ainda trouxe uma velinha. Seja onde ela estiver, ela vai curtir. – Ele fala com um sorriso, e eu sorrio junto olhando pra ele. – A gente faz uma oração e canta um parabéns. Ele fala, e não consigo evitar a emoção que me invade. A pouca iluminação da sala não deixa ver seu rosto inteiro, mas seus olhos brilham, refletindo algo que me faz bem. O sorriso que ele me lança é sincero, daquele tipo que sempre me desarma. A escuridão da sala cria um contraste que deixa o momento ainda mais especial. Manu: Você é um fofo. Sério, não sei como ainda tá solteiro. – Comento, e ele n**a com um aceno voltando a olhar pro teto. Felipe: Talvez porque a moça que eu quero não me quer. – Ele vira o corpo em minha direção e começa a fazer um cafuné no meu cabelo. É inevitável. Minha mente corre direto até o Terror, como se ele fosse uma sombra que nunca se dissipa. Fecho os olhos, e a lembrança do toque dele no meu corpo me faz arrepiar. Era suave e firme ao mesmo tempo, deixava uma marca que parece gravada em mim até hoje, impossível de esquecer. Manu: Eu amo outra pessoa. E você não merece amar quem não te ama. Felipe: Bola fora! – Ele fala alto, quase gritando, me fazendo rir e abrir os olhos. – Já que não vou ganhar um beijo, bora comer um pedaço de bolo.– Diz batendo na minha coxa. Ele se levanta num pulo e me estende a mão. Seguro sem pensar duas vezes, e ele me puxa pra cima. Me levanto e o abraço apertado. Felipe tem esse dom de transformar qualquer momento. Ele me faz rir, conta várias histórias engraçadas e, de alguma forma, consegue alegrar minha noite. Quando o relógio marca 00:00 em ponto, cantamos parabéns pra minha mãezinha. Ele liga de vídeo pras meninas, e todas cantamos juntas, cada uma com sua animação peculiar. Ele puxa uma oração e não consigo segurar as lágrimas. Felipe: Parabénssssss! – grita, arrancando de mim uma gargalhada alta. Manu: Para com isso, seu doido! Tá todo mundo dormindo já. – Dou um tapa leve no braço dele, mas ele só ri e se afasta, se achando. Ficamos mais um tempo conversando, falando sobre a vida, até que ele decide ir embora. Sorrio ao olhar pro bolo, agora pela metade, e levanto a blusa pra dar uma conferida no tamanho da minha barriga depois de comer tanto. Até esquecemos do vinho, mas não faz diferença, porque a noite foi boa assim mesmo. Guardo o bolo e me jogo na cama, exausta, mas de coração mais leve. Que amanhã o dia seja melhor..
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