A semana seguiu como um jogo silencioso entre dois jogadores que sabiam exatamente o que estavam fazendo e o que estavam sentindo.
Kira chegava cedo às aulas de Luís. Sempre na segunda fileira, onde ele podia vê-la perfeitamente sem levantar suspeitas. Seus cadernos impecáveis, a letra caprichada, a concentração aparente. Mas havia muito mais do que disciplina ali. Havia intenção.
E Luís... Luís fingia normalidade. Dava aula com a mesma precisão, com a mesma voz firme e pausada. Mas seus olhos traíam o controle. De vez em quando, entre um gráfico de fluxo de caixa e uma explicação sobre startups, ele se perdia apenas por um segundo naquele par de olhos castanhos que o desafiavam como uma promessa.
Naquela terça-feira, a sala estava mais cheia que o normal. Alguns alunos haviam trocado de turma e a classe ficou apertada. Kira entrou, mas sua carteira habitual estava ocupada. Luís, ao notar, apenas ergueu uma sobrancelha e apontou discretamente para a fileira da frente. Havia uma única cadeira vazia bem em frente à mesa dele.
Ela entendeu o recado. Sentou-se com calma, cruzou as pernas com elegância e inclinou-se sobre a mesa, o decote da blusa abrindo sutilmente. Era uma dança. Nenhum dos dois falava sobre isso, mas dançavam mesmo assim.
Luís começou a aula. Falava sobre estratégias de captação de investimento, mas sua mente estava longe. A cada pausa, a cada vez que virava para o quadro, sentia o perfume de Kira preencher o ar. Um aroma doce, com toques florais e perigosamente viciante.
Em um momento, ao passar entre as fileiras, ele se aproximou demais. O braço roçou no dela. Foi um toque leve, acidental, mas ambos sentiram como uma faísca.
— Está tudo claro até aqui? perguntou, parando bem diante dela.
Kira ergueu os olhos devagar. Um sorriso quase imperceptível brincava em seus lábios.
— Tudo... muito claro, professor.
A resposta veio com uma entonação baixa, como se carregasse outro significado. Luís apertou o ponteiro a laser nas mãos, desviando o olhar para o quadro, tentando controlar o desejo que começava a incomodar sob a camisa.
A aula seguiu, e a tensão aumentava a cada minuto.
No fim, enquanto os alunos saíam em pequenos grupos, rindo e comentando o conteúdo, Kira guardou seus materiais com lentidão provocante. Luís fingia revisar os slides na tela do computador, mas via tudo pelo canto dos olhos.
Ela se aproximou.
— Gostei muito da aula hoje. disse, em tom casual. Mas havia algo em sua voz que não era tão casual assim.
— Fico feliz. Você tem se destacado. respondeu, mantendo o tom profissional. Mas os olhos... os olhos dele estavam longe disso.
Kira abaixou levemente a cabeça, como quem agradece um elogio, mas não saiu. Passou os dedos pelos cabelos e, ao levantar o olhar novamente, lançou a pergunta:
— E se eu quisesse me aprofundar mais nos temas da aula? Particularmente.
Luís respirou fundo. O convite era claro, mas ele precisava medir os próximos passos.
— Podemos agendar um horário. Tenho disponibilidade depois do expediente... Ele pausou, olhando para ela de cima a baixo, com sutileza. Em horários menos movimentados.
— Perfeito. Eu prefiro quando há menos... distrações.
Ela se virou e saiu da sala com passos firmes, os saltos ecoando pelo corredor. Luís permaneceu parado, com o coração acelerado, os olhos fixos na porta que acabava de se fechar.
Aquele jogo estava indo longe rápido demais.
Mas, no fundo, ele já sabia: não havia mais como voltar atrás.