TULSA
Acordo na sala de enfermagem encarando o teto branco. Estou sozinha e é bem melhor assim, meu corpo está pesado e sinto muita fraqueza, sigo meu braço que está estendido no ar e há uma agulha do meu braço, soro está entrando na minha veia.
- Ah meu Deus! – digo me levantando e tirando a agulha do meu braço rapidamente. E nessa mesma hora a diretora Agatha entra na sala
- Tulsa o que está fazendo? – ela pergunta
- Sabe quantas calorias tem esse soro? – digo colocando um algodão pequeno onde sai um pouco de sangue
- Se sente bem? – ela pergunta preocupada colocando a mão em meu ombro – chamamos sua mãe, mas a empregada disse que ela não estava em casa.
- Ela nunca está, mas obrigada estou bem.
Os diretores já estão acostumados com as minhas recaídas na escola, como aqui tem um médico particular eles já sabem muito bem do que eu preciso.
- Que horas são?
- Vai dar 12:00. Os alunos já foram embora. - O que? Droga! Eu pego serviço 12:30!
Bom... Não falei pra vocês, mas trabalho em uma enorme cafeteria que se chama: "Cafeteria".
- Eu posso te dar uma carona se quiser. – A diretora diz educadamente e eu a agradeço
O bom de trabalhar da cafeteria é porque lá e exatamente um dia sim e dois dias não, um salário mínimo porém... Quase o dia inteiro. Um fato r**m de lá é que sempre você encontra as pessoas que fazem bullying com você na escola porque obviamente lá se vende os melhores biscoitinhos de queijo amanteigado. Eu costumo a comer alguns, mas sempre cuspo é claro.
- Obrigada diretora Agatha! – sorrio para ela e ela retribui.
Chego antes da hora e vou vestir o meu uniforme. Esse é o único serviço que me aceitaram, eu costumava a comer alguma coisa antes de vir porque se eu desmaiasse alguma vez eles com certeza não iriam me querer, mas como o meu corpo está totalmente calórico por causa do soro, com certeza não irei comer nada.
- Chegou bem na horinha. – Diz o meu chefe, ele é baixo branco e chines. A cafeteria é dele desde que eu me entendo por gente – o movimento está razoável hoje, sorte sua Lula!
Na verdade, ele sempre me chamou assim, no início eu odiava, mas... Não é tão r**m assim.
- Boa tarde Vanessa! – digo animada para a única mulher que trabalha comigo. Ela tem 35 anos e 2 filhos. Seus quadris são largos e seu cabelo chanel, ela é um amor de pessoa, porém... Não temos tanta afinidade.
- Boa tarde Susã – ela sempre me chama assim – chegou cedo...
- É... A diretora Agatha me deu uma carona hoje. – Digo concertando meu avental e a minha touca na cabeça. Eu trabalho no balcão o que é ótimo, só saio do meu lugar quando me chamam.
- Ela deveria fazer isso sempre, assim não chegaria atrasada. – Ela diz enquanto sacode alguns panos na mesa
Me agacho para enfileirar os biscoitinhos
- E com toda razão! – sorrio
- Nossa... – ouço ela sussurrar
- O que? – Pergunto, mas não ouve resposta – Vanessa? Disse alguma coisa?
- Oi. Quero um café sem açúcar por favor. – diz a voz de um homem
Me levanto e acabo batendo a cabeça na porta do balcão onde entra.
- Ai... – digo passando a mão na cabeça
- Está tudo bem? – o homem me pergunta e só então o encaro Ah. Meu. Deus!
Ele é alto, tem os olhos verdes e os cabelos cortados em um social baixo, a sua boca é rosada e o seu corpo! Meu Jesus... Seu corpo é totalmente definido, seus braços são fortes e o seu cavanhaque perfeito. Ele me causa... Eu não sei explicar. Mas ele é simplesmente... Literalmente... Perfeito.
- Ei, Psiu... Garota? – ele diz pegando em meu braço – está tudo bem?
Observo suas mãos em meus braços atenciosamente e travo inteira. Não consigo dizer, não consigo dizer absolutamente nada, parece impossível.
- Estou... – digo mais para dentro do que para fora – o que você pediu mesmo?
- Um café sem açúcar – ele diz enquanto encara a banquinha dos biscoitos – e... Alguns biscoitos de queijo amanteigado. Pode levar na minha mesa?
- É claro. – Digo e ele sorri sem mostrar os dentes andando ate a sua mesa.
Ele usa uma roupa calça social e uma blusa de polo verde, o seu andar com as mãos no bolso o deixa ainda mais charmoso.
- Mulher que homem! – Vanessa diz – eu largaria meu marido por esse boy com certeza! – ela diz enquanto o fitamos o homem lendo um livro atenciosamente com uma capa preta
Sorrio para ela e vou ate a cafeteira pegar o seu café. Coloco três biscoitos de queijo amanteigado em uma prateleira cor de prata e duas xícaras de açúcar dentro do café e levo até o homem. Quero dizer algo, quero muito... Mas o que?
- Aqui está. – Digo colocando a bandeja encima da mesa
- Ah... Obrigado. – Ele diz sem tirar os olhos do livro que só então eu percebo que se chama: A cura da Anorexia.
- Espera... – sorrio – está brincando né? Que livro é esse?
- O que? – ele pergunta tirando sua atenção do livro. Olho discretamente o seu corpo sentado e meu Deus...
- A cura da anorexia? – sorrio – que irônico!
- Não vai me dizer que tem anorexia! – ele abre um sorriso largo. Os seus dentes são perfeitos, e quando ele sorri consegue ficar ainda mais bonito.
- É tenho! – digo como se isso fosse uma grande vantagem, mas agora é, graças a minha anorexia! – conhece alguém que tem?
- Ainda não – ele diz – na verdade estou lendo isso porque onde trabalho há uma garota que tem essa doença, e eu preciso de ajuda-la, na verdade... Eu não faço a mínima ideia de quem seja mas...Seja lá quem ela for, espero poder ajudar. – Ele olha para o lado e para mim - você disse que acha ironia eu estar lendo esse livro de anorexia sendo que você tem...Mas já parou pra pensar que tem anorexia e trabalha em uma cafeteria?
Estreito os olhos e encaro o chão sorrindo forçado - Vai querer mais alguma coisa?
- Hum... – ele diz enquanto bebe o seu café – nossa... Esse café está mais pra caldo de cana do que açúcar! – ele dá uma gargalhada rápida e sincera
- Ah caramba! – coloco a mão na testa – eu esqueci que era sem açúcar.
- Tudo bem eu te perdoo – ele diz – desde que pegue outro café.
Assentir e vou ate o balcão pegar outro café, mas ele segura o meu pulso. Fixo meus olhos nos dele e ele nos meus, ele me olhou de cima abaixo e eu para o seu colo ate a sua barriga.
- Algum problema? – digo mordendo meu lábio inferior discretamente
- Não esqueça, café sem açúcar. – Ele diz e eu sorrio indo pegar seu café
Depois que eu entrego o seu café sem açúcar, volto a minha atenção para os biscoitos de queijo. Fico observando o homem que eu não faço a mínima ideia de quem seja. Vou ao banheiro e assim que volto ele não está mais lá. Vou ate a sua mesa e o dinheiro está próximo ao vaso de flores. Espera... Quem deixa o dinheiro na mesa em pleno século XXI?
Me sento em sua mesa passando os dedos entre os cabelos enquanto sinto a única coisa que ele deixou para trás, o seu cheiro. Bom... Considerando que tenho 16 anos ele nunca olharia para mim, então ok Tulsa já perdeu as esperanças