O salão de reuniões do Consórcio Égide era feito de vidro e mármore, projetado para parecer transparente, mas era na verdade um labirinto de segredos. Seraphina e Julian chegaram de helicóptero, pousando no terraço, um espetáculo que garantiu que a notícia de sua chegada fosse instantânea.
Ao entrarem na sala, os membros do Conselho de Administração já estavam reunidos, tensos e sussurrantes. Marcus Thorne estava lá, pálido, mas vestindo a arrogância como armadura. Ele estava flanqueado por seus advogados e alguns aliados leais.
Julian não se sentou na mesa. Ele ficou de pé atrás da cadeira de Seraphina, uma figura imponente e silenciosa de apoio. Ele era uma ameaça implícita.
Seraphina assumiu a cabeceira da mesa, o assento que era legitimamente dela, mesmo após ser desalojada. Ela não cumprimentou Marcus; apenas o olhou por um momento, e o desprezo em seus olhos foi um golpe cirúrgico.
— Bom dia a todos — começou Seraphina, sua voz calma e perfeitamente projetada. — O motivo desta reunião de emergência, como vocês sabem, não é o meu casamento com Julian. Isso é uma questão pessoal que, ironicamente, expôs uma questão corporativa muito mais grave.
O CEO interino, Sr. Harrington, pigarreou.
— Sra. Vance, estamos aqui para ouvir sobre os rumores de que o Égide foi negligenciado em sua ausência...
— Correção, Sr. Harrington — Seraphina o cortou, erguendo o relatório fornecido por Julian. — Estamos aqui para discutir a prova de que o Égide foi saqueado pelo Sr. Thorne.
O murmúrio na sala aumentou. Marcus se levantou abruptamente.
— Isso é difamação! É rancor pessoal, conselho! Ela está usando a fortuna de Kaine para se vingar por eu ter a deixado!
Julian se inclinou, pousando as mãos nos ombros de Seraphina. O gesto era público, de posse, mas a pressão em seus ombros era um lembrete silencioso: mantenha a calma, use a lógica.
Seraphina não piscou.
— O Sr. Thorne gostaria que vocês acreditassem que é uma questão pessoal. Mas é uma questão de milhares de milhões de dólares desviados. Eu não preciso de vingança, Marcus. Preciso proteger o consórcio que eu fundei.
Ela ativou o tablet e projetou um gráfico de barras complexo na tela da sala de reuniões.
— Nos últimos seis meses, o Consórcio Égide fez uma série de investimentos em empresas de fachada offshore que, na verdade, pertencem secretamente à Thorne Global, a empresa privada de Marcus.
A sala explodiu em conversas nervosas. Seraphina navegou pelas projeções, expondo transferências bancárias, contratos fraudulentos e o uso de patentes do Égide para fortalecer a concorrência. Era a estratégia de Julian, combinada com a profundidade de seu próprio conhecimento do Égide.
Marcus tentou reagir, sua voz alta e cheia de indignação falsa.
— Isso são documentos forjados! Kaine é um hacker, um ladrão de dados!
Julian, pela primeira vez, falou. Sua voz era baixa, mas carregava um peso que silenciou todos.
— Todos os documentos apresentados foram auditados por três empresas independentes, incluindo a Grant & Wells. Os originais estão em custódia. Se a Thorne Global não está envolvida nisso, sugiro que o Sr. Thorne nos dê acesso imediato e irrestrito aos seus livros de contabilidade. Caso contrário, eu garanto que o Égide iniciará uma ação judicial por desvio de propriedade intelectual e fraude, e eu assegurarei que ele perca não apenas o cargo, mas sua fortuna pessoal.
A ameaça era direta. Julian Kaine estava disposto a incinerar Marcus financeiramente.
A pressão se tornou insuportável. Os acionistas, temendo a desvalorização de suas ações, começaram a se afastar de Marcus.
— Marcus, você tem que nos explicar isso! — exigiu um m****o do conselho.
Marcus olhou para Seraphina, sua fúria se transformando em um ódio gelado e perigoso. Ele percebeu que havia subestimado sua ex-parceira, e mais ainda, seu novo marido.
— Você não vai se safar disso, Seraphina! Você está se aliando a uma cobra para me esmagar! Vocês dois vão se destruir!
Seraphina fechou o tablet. A luta estava ganha.
— A votação, senhores, é para a remoção imediata de Marcus Thorne do cargo de CEO e a a******a de uma investigação interna completa.
A votação foi unânime. Marcus estava terminado.
Ao deixar a sala, Marcus parou ao lado de Seraphina. Seus olhos eram brasas.
— O que você tem de diferente? — ele sibilou. — Você não parecia tão fria quando éramos... amantes.
Julian, que estava à frente, parou. Seraphina respondeu a Marcus com uma calma glacial.
— Eu não era fria. Eu era ingênua. Julian me ensinou que no mundo dos negócios, o calor só serve para derreter o dinheiro.
Marcus foi escoltado para fora por seguranças. O primeiro estágio da vingança estava completo.
Na limusine a caminho de volta, o silêncio era espesso. Seraphina se recostou, esgotada, mas triunfante.
— Isso foi perfeito, Seraphina — Julian disse, o tom de satisfação dele era quase tangível. — Você é uma estrategista brilhante.
— Não me venha com manipulação psicológica. Você agiu para me provocar.
— E funcionou? — O desafio estava em cada sílaba.
Seraphina não desviou o olhar.
— Funcionou como distração. Mas eu não sou uma das suas secretárias, Julian. Eu sou sua parceira de negócios.
— E as parcerias de negócios devem ter confiança. Se você não confia em mim para um beijo público, como pode confiar em mim com o controlo da sua empresa?
A lógica dele era frustrante, um laço de seda.
— Eu não confio em si com as minhas emoções. O nosso acordo exige que elas permaneçam à margem.
Julian riu, um som baixo e rouco que era profundamente perturbador.
— As suas emoções? Seraphina, você não tem sido mais fria com um homem desde que vendeu a sua primeira patente. Não seja hipócrita. Não é sobre emoções. É sobre controlo. E você está chateada porque eu encontrei a única forma de o contornar.
A limusine parou suavemente na garagem subterrânea da torre. O motorista permaneceu imóvel, um fantasma discreto. Eles estavam sozinhos.
Seraphina sentiu uma onda de fúria se misturar com a atração que ela havia tentado enterrar. Ela esticou a mão e agarrou o tecido caro do terno de Julian, puxando-o para mais perto. Ela estava furiosa com ele, mas ainda mais furiosa consigo mesma por ter se permitido sentir.
— Eu sou a única que define os termos do meu controlo, Kaine. E os meus termos são zero contacto.
Julian, no entanto, não resistiu. Ele permitiu que ela o puxasse, os seus rostos a milímetros de distância. Ele exalou, e o seu hálito quente tocou a pele dela. Ela podia sentir o cheiro do Bordeaux e o perfume de sândalo que era unicamente dele.
— Então defina-os. Prove-me que pode.
Aquele desafio era demais. Seraphina não o queria beijar. Ela queria esmurrá-lo, humilhá-lo com a sua indiferença. Mas a sua necessidade de afirmar o domínio foi superada pela faísca que ele havia acendido.
Seraphina fechou o espaço entre eles, os seus lábios colando-se aos dele. Desta vez, o beijo não era encenação; era puro confronto, um duelo de vontades. Ela o beijou com a força de meses de ressentimento, traição e atração reprimida.
O beijo era tudo o que a razão de Seraphina a alertara para evitar. Era apaixonado, possessivo, mas incrivelmente recíproco. Julian pegou na nuca dela, intensificando a pressão, exigindo tudo o que ela lhe negava. A atração era uma onda poderosa, limpando a mesa de todos os acordos e cláusulas.
O beijo durou até que o ar na cabine se tornou rarefeito e os seus corações batiam um ritmo frenético.
Quando ela se afastou, ofegante, a sua mão ainda estava agarrada ao terno dele. Julian a olhou, os seus olhos azuis agora escuros com desejo e triunfo.
— Você falhou. — A sua voz era um sussurro rouco.
Seraphina soltou-o. A derrota era amarga, mas o sabor de Julian era doce, e o sabor da adrenalina era viciante. Ela havia quebrado a sua própria regra, e ele sabia disso.
— O que quer que tenha sido isto, foi um erro. Foi uma demonstração de força, e você tem a sua prova de que eu não sou uma máquina. Agora, a partir de amanhã, o contrato está em vigor novamente.
— O contrato está morto, Seraphina — corrigiu Julian, acenando. — O contrato de papel ainda existe, mas a nossa parceria... ela acaba de ser renegociada. Você não pode beijar-me assim e regressar à frieza do artigo 3.º. Não quando o mundo está a ver a paixão e quando nós a sentimos.
Ele abriu a porta da limusine, deixando o seu lado da cabine em chamas.
— Amanhã, a próxima etapa da vingança começa. E você terá que decidir se consegue manter a sua máscara de CEO fria, sabendo que eu tenho a sua atenção.
Ele subiu no elevador primeiro, deixando Seraphina sozinha na garagem, tremendo ligeiramente. Ela havia procurado a vingança para se salvar. Ela havia se casado com Julian Kaine para se proteger. Mas agora, ela percebeu que a sua maior ameaça não era Marcus Thorne, mas o homem com quem ela se deitava todas as noites no mesmo penthouse.
Seraphina não regressou para a suíte leste naquela noite para dormir. Ela foi para o seu escritório, precisando de mapas, números e códigos de software, qualquer coisa para distrair a mente do toque de Julian. Ela trabalhou até o amanhecer, usando a lógica fria dos negócios como escudo contra a memória quente do beijo na limusine.