O Ataque no Conselho

1571 Palavras
O salão de reuniões do Consórcio Égide era feito de vidro e mármore, projetado para parecer transparente, mas era na verdade um labirinto de segredos. Seraphina e Julian chegaram de helicóptero, pousando no terraço, um espetáculo que garantiu que a notícia de sua chegada fosse instantânea. Ao entrarem na sala, os membros do Conselho de Administração já estavam reunidos, tensos e sussurrantes. Marcus Thorne estava lá, pálido, mas vestindo a arrogância como armadura. Ele estava flanqueado por seus advogados e alguns aliados leais. Julian não se sentou na mesa. Ele ficou de pé atrás da cadeira de Seraphina, uma figura imponente e silenciosa de apoio. Ele era uma ameaça implícita. Seraphina assumiu a cabeceira da mesa, o assento que era legitimamente dela, mesmo após ser desalojada. Ela não cumprimentou Marcus; apenas o olhou por um momento, e o desprezo em seus olhos foi um golpe cirúrgico. — Bom dia a todos — começou Seraphina, sua voz calma e perfeitamente projetada. — O motivo desta reunião de emergência, como vocês sabem, não é o meu casamento com Julian. Isso é uma questão pessoal que, ironicamente, expôs uma questão corporativa muito mais grave. O CEO interino, Sr. Harrington, pigarreou. — Sra. Vance, estamos aqui para ouvir sobre os rumores de que o Égide foi negligenciado em sua ausência... — Correção, Sr. Harrington — Seraphina o cortou, erguendo o relatório fornecido por Julian. — Estamos aqui para discutir a prova de que o Égide foi saqueado pelo Sr. Thorne. O murmúrio na sala aumentou. Marcus se levantou abruptamente. — Isso é difamação! É rancor pessoal, conselho! Ela está usando a fortuna de Kaine para se vingar por eu ter a deixado! Julian se inclinou, pousando as mãos nos ombros de Seraphina. O gesto era público, de posse, mas a pressão em seus ombros era um lembrete silencioso: mantenha a calma, use a lógica. Seraphina não piscou. — O Sr. Thorne gostaria que vocês acreditassem que é uma questão pessoal. Mas é uma questão de milhares de milhões de dólares desviados. Eu não preciso de vingança, Marcus. Preciso proteger o consórcio que eu fundei. Ela ativou o tablet e projetou um gráfico de barras complexo na tela da sala de reuniões. — Nos últimos seis meses, o Consórcio Égide fez uma série de investimentos em empresas de fachada offshore que, na verdade, pertencem secretamente à Thorne Global, a empresa privada de Marcus. A sala explodiu em conversas nervosas. Seraphina navegou pelas projeções, expondo transferências bancárias, contratos fraudulentos e o uso de patentes do Égide para fortalecer a concorrência. Era a estratégia de Julian, combinada com a profundidade de seu próprio conhecimento do Égide. Marcus tentou reagir, sua voz alta e cheia de indignação falsa. — Isso são documentos forjados! Kaine é um hacker, um ladrão de dados! Julian, pela primeira vez, falou. Sua voz era baixa, mas carregava um peso que silenciou todos. — Todos os documentos apresentados foram auditados por três empresas independentes, incluindo a Grant & Wells. Os originais estão em custódia. Se a Thorne Global não está envolvida nisso, sugiro que o Sr. Thorne nos dê acesso imediato e irrestrito aos seus livros de contabilidade. Caso contrário, eu garanto que o Égide iniciará uma ação judicial por desvio de propriedade intelectual e fraude, e eu assegurarei que ele perca não apenas o cargo, mas sua fortuna pessoal. A ameaça era direta. Julian Kaine estava disposto a incinerar Marcus financeiramente. A pressão se tornou insuportável. Os acionistas, temendo a desvalorização de suas ações, começaram a se afastar de Marcus. — Marcus, você tem que nos explicar isso! — exigiu um m****o do conselho. Marcus olhou para Seraphina, sua fúria se transformando em um ódio gelado e perigoso. Ele percebeu que havia subestimado sua ex-parceira, e mais ainda, seu novo marido. — Você não vai se safar disso, Seraphina! Você está se aliando a uma cobra para me esmagar! Vocês dois vão se destruir! Seraphina fechou o tablet. A luta estava ganha. — A votação, senhores, é para a remoção imediata de Marcus Thorne do cargo de CEO e a a******a de uma investigação interna completa. A votação foi unânime. Marcus estava terminado. Ao deixar a sala, Marcus parou ao lado de Seraphina. Seus olhos eram brasas. — O que você tem de diferente? — ele sibilou. — Você não parecia tão fria quando éramos... amantes. Julian, que estava à frente, parou. Seraphina respondeu a Marcus com uma calma glacial. — Eu não era fria. Eu era ingênua. Julian me ensinou que no mundo dos negócios, o calor só serve para derreter o dinheiro. Marcus foi escoltado para fora por seguranças. O primeiro estágio da vingança estava completo. Na limusine a caminho de volta, o silêncio era espesso. Seraphina se recostou, esgotada, mas triunfante. — Isso foi perfeito, Seraphina — Julian disse, o tom de satisfação dele era quase tangível. — Você é uma estrategista brilhante. — Não me venha com manipulação psicológica. Você agiu para me provocar. — E funcionou? — O desafio estava em cada sílaba. Seraphina não desviou o olhar. — Funcionou como distração. Mas eu não sou uma das suas secretárias, Julian. Eu sou sua parceira de negócios. — E as parcerias de negócios devem ter confiança. Se você não confia em mim para um beijo público, como pode confiar em mim com o controlo da sua empresa? A lógica dele era frustrante, um laço de seda. — Eu não confio em si com as minhas emoções. O nosso acordo exige que elas permaneçam à margem. Julian riu, um som baixo e rouco que era profundamente perturbador. — As suas emoções? Seraphina, você não tem sido mais fria com um homem desde que vendeu a sua primeira patente. Não seja hipócrita. Não é sobre emoções. É sobre controlo. E você está chateada porque eu encontrei a única forma de o contornar. A limusine parou suavemente na garagem subterrânea da torre. O motorista permaneceu imóvel, um fantasma discreto. Eles estavam sozinhos. Seraphina sentiu uma onda de fúria se misturar com a atração que ela havia tentado enterrar. Ela esticou a mão e agarrou o tecido caro do terno de Julian, puxando-o para mais perto. Ela estava furiosa com ele, mas ainda mais furiosa consigo mesma por ter se permitido sentir. — Eu sou a única que define os termos do meu controlo, Kaine. E os meus termos são zero contacto. Julian, no entanto, não resistiu. Ele permitiu que ela o puxasse, os seus rostos a milímetros de distância. Ele exalou, e o seu hálito quente tocou a pele dela. Ela podia sentir o cheiro do Bordeaux e o perfume de sândalo que era unicamente dele. — Então defina-os. Prove-me que pode. Aquele desafio era demais. Seraphina não o queria beijar. Ela queria esmurrá-lo, humilhá-lo com a sua indiferença. Mas a sua necessidade de afirmar o domínio foi superada pela faísca que ele havia acendido. Seraphina fechou o espaço entre eles, os seus lábios colando-se aos dele. Desta vez, o beijo não era encenação; era puro confronto, um duelo de vontades. Ela o beijou com a força de meses de ressentimento, traição e atração reprimida. O beijo era tudo o que a razão de Seraphina a alertara para evitar. Era apaixonado, possessivo, mas incrivelmente recíproco. Julian pegou na nuca dela, intensificando a pressão, exigindo tudo o que ela lhe negava. A atração era uma onda poderosa, limpando a mesa de todos os acordos e cláusulas. O beijo durou até que o ar na cabine se tornou rarefeito e os seus corações batiam um ritmo frenético. Quando ela se afastou, ofegante, a sua mão ainda estava agarrada ao terno dele. Julian a olhou, os seus olhos azuis agora escuros com desejo e triunfo. — Você falhou. — A sua voz era um sussurro rouco. Seraphina soltou-o. A derrota era amarga, mas o sabor de Julian era doce, e o sabor da adrenalina era viciante. Ela havia quebrado a sua própria regra, e ele sabia disso. — O que quer que tenha sido isto, foi um erro. Foi uma demonstração de força, e você tem a sua prova de que eu não sou uma máquina. Agora, a partir de amanhã, o contrato está em vigor novamente. — O contrato está morto, Seraphina — corrigiu Julian, acenando. — O contrato de papel ainda existe, mas a nossa parceria... ela acaba de ser renegociada. Você não pode beijar-me assim e regressar à frieza do artigo 3.º. Não quando o mundo está a ver a paixão e quando nós a sentimos. Ele abriu a porta da limusine, deixando o seu lado da cabine em chamas. — Amanhã, a próxima etapa da vingança começa. E você terá que decidir se consegue manter a sua máscara de CEO fria, sabendo que eu tenho a sua atenção. Ele subiu no elevador primeiro, deixando Seraphina sozinha na garagem, tremendo ligeiramente. Ela havia procurado a vingança para se salvar. Ela havia se casado com Julian Kaine para se proteger. Mas agora, ela percebeu que a sua maior ameaça não era Marcus Thorne, mas o homem com quem ela se deitava todas as noites no mesmo penthouse. Seraphina não regressou para a suíte leste naquela noite para dormir. Ela foi para o seu escritório, precisando de mapas, números e códigos de software, qualquer coisa para distrair a mente do toque de Julian. Ela trabalhou até o amanhecer, usando a lógica fria dos negócios como escudo contra a memória quente do beijo na limusine.
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