O PADRINHO PRESENTE.

937 Palavras
PRÓLOGO "Tio John sempre foi tão presente. Ele estava lá desde o início, como padrinho no casamento dos meus pais, o melhor amigo do meu pai. Estava na sala de espera quando nasci, segurou-me antes mesmo de minha mãe. Ele foi aquela figura constante na minha vida, sempre ali, meu 'tio' de coração, meu confidente e amigo. Fui criada com sua presença envolvente. Quando eu era pequena, ele me pegava no colo, me levava para passeios e era o ombro que eu procurava quando precisava de conforto. Mas... tudo mudou. Faz um tempo que seu olhar não é mais o mesmo. Não é mais o olhar protetor de quem me viu crescer, mas sim algo diferente, algo que arde com uma intensidade que me deixa desconcertada. Ele me observa como um predador que espreita sua presa, cada movimento meu seguido pelos olhos atentos dele. É quando estou distraída, tomando banho ou perdida em pensamentos, que sinto mais o peso desse olhar. Ele nunca fez nada, nunca tentou me tocar. Meu pai sempre esteve por perto, como uma barreira invisível que o mantinha à distância. Mas agora... agora as coisas são diferentes. Acabei de completar 18 anos. Minha família e meus amigos se reuniram para comemorar. Era uma noite de festa, de risadas e brindes. Mas algo em mim mudava lentamente, algo queimava quando ele, com aquela voz grave e familiar, me chamava de ‘Naty’. E foi naquela noite que tudo começou a mudar..." ... CAPITULO 1 - O Jogo de Olhares A música preenchia cada canto da casa dos meus pais, misturada às risadas e vozes dos convidados. A comemoração dos meus 18 anos parecia perfeita. Amigos, família, comida, tudo que qualquer pessoa poderia querer. Mas havia algo que não estava certo para mim. Algo que fazia minha pele formigar, e meu coração bater descompassado. Do outro lado da sala, Tio John estava ao lado do meu pai, rindo de alguma piada que eu não consegui ouvir. Com um copo de whisky nas mãos, ele parecia à vontade, igual a todos os outros. Mas, diferente de qualquer um, seus olhos estavam fixos em mim. A cada gole que ele tomava, seus olhares me queimavam, e eu sentia o calor subir pelo meu corpo como um alerta que eu não conseguia ignorar. Desde que me entendo por gente, ele sempre foi o Tio John, o padrinho carinhoso, o melhor amigo do meu pai. Eu cresci com ele ao meu lado em cada momento importante, segurando minha mão, sendo minha proteção silenciosa. Mas agora... agora seu olhar era diferente. Era como se ele estivesse me observando de uma forma que eu não conseguia compreender, nem aceitar. Carol, minha melhor amiga, se aproximou de mim, rindo de algo que uma das nossas amigas havia dito. Ela me deu um leve empurrão com o ombro, tentando me tirar do transe em que eu me encontrava. — O que foi, Naty? Por que esse olhar distante? — ela perguntou, me olhando curiosa. — Nada... — respondi rapidamente, tentando disfarçar o desconforto. Ela olhou na direção de Tio John, riu e sussurrou, maliciosa: — Seu tio não para de olhar pra cá. Acho que ele está te achando muito bonita hoje. Olha só! Fiquei tensa. Carol, claro, achava que ele estava olhando para ela. Era assim com todas as minhas amigas. Elas sempre diziam o quanto ele era charmoso para um homem mais velho. Mas o que Carol não percebia, o que ela não conseguia ver, era que aqueles olhares não eram para ela. Eles estavam fixos em mim, e eu sabia disso. — Para com isso, Carol. Ele está só... — tentei achar as palavras certas. Só o quê? Nada do que eu dissesse parecia certo, então terminei a frase com uma desculpa esfarrapada: — Ele está só... bebendo. Ela riu novamente, claramente sem perceber o que estava acontecendo. Mas eu sabia. Sabia que seus olhos me seguiam a cada movimento, que ele me olhava de um jeito que eu nunca tinha visto antes. A bebida em sua mão parecia um detalhe insignificante, mas a maneira como ele bebia, o jeito que seus olhos nunca deixavam os meus, aquilo me desestabilizava. Eu queria acreditar que estava imaginando coisas. Tio John nunca faria isso, nunca me olharia assim, não é? Mas a cada vez que eu olhava de volta, ele não desviava. Ele me encarava com uma intensidade que fazia minha pele queimar, como se fosse capaz de atravessar a multidão entre nós e tocar cada centímetro do meu corpo. Mesmo com meu pai ao lado dele, a sensação de estar sendo devorada por aqueles olhos crescia em mim. Eu me forcei a desviar o olhar, focando nas conversas à minha volta, tentando me concentrar em Carol e no grupo de amigos que riam sem preocupação. Mas por dentro, meu coração estava em uma corrida descontrolada, e eu me perguntava se estava ficando louca, ou se algo realmente tinha mudado naquela noite. O barulho da festa parecia diminuir ao meu redor, enquanto a tensão entre nós aumentava. Por que ele estava fazendo isso? Por que eu estava reagindo dessa forma? Tio John sempre fora parte da minha vida, como um segundo pai. Como eu podia sequer pensar nessas coisas? Mas o que eu não conseguia negar era a intensidade com que meu corpo respondia ao simples fato de saber que ele estava me observando. Estou imaginando coisas. Eu repetia isso para mim mesma, mas a verdade é que eu não conseguia acreditar de verdade. Tudo parecia diferente agora. Tudo parecia prestes a mudar, e eu não sabia o que fazer com isso.
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