A delegacia ainda cheirava a café velho e papel amarelado. O relógio da parede parecia zombar do tempo, cada tique um lembrete de que eu estava ali por pura injustiça. Daniel, de braços cruzados, exibia aquele ar de superioridade que me dava vontade de rir só pra não socar ele de novo. E Clara, parada entre nós dois, olhava pra mim como se ainda tentasse entender onde tudo tinha dado errado. De repente, a voz da minha vó cortou o silêncio, alta, firme e cheia de vida: — Moça, — ela começou, andando até Clara, — eu sei que você é boa. Dá pra ver no seu olhar, viu? Coração de gente boa não engana. Então me escuta, por favor: o meu neto não é bandido. Ele não fez nada de errado. Clara olhou pra ela, surpresa com a forma direta e doce ao mesmo tempo. A voz da minha vó tremia um pouco, mas

