Volto ao meu posto aqui parado no raio do sol porque ele manda e eu obedeço. Já tentei descer do morro, mas ele iria me achar. Aqui, pelo menos, já tenho conhecidos amigos e um suporte caso a Juju passe m*l e tenha que ir se cuidar no postinho.
Todos conhecem ela, então eu só tenho que esperar.
-Lívia: Vamos à praça, vou tomar sorvete com umas amigas. Vamos de moto.
Aceno com a cabeça e levo ela
à Lívia era Patricinha, mas agora está mudando. Ela amadureceu com o tempo e hoje consigo ver como uma irmã. Ela não tem culpa, né? Chegando lá, as Marias Colgate abrirão o sorriso pra mim, eu, cara fechada.
-Livia: A Débora é caidinha por ti.
Não me interessa, falo grosso.
-Livia: Ela não é de se jogar fora, pensa bem.
Eu n**o com a cabeça e ela vai com as amigas. Fico olhando para uma vitrine, tem colares coloridos. Fico pensando na Juju, mas eu não vou levar hoje.
Já dei presentes hoje,a vó vai surtar se eu levar mais.
Ela fala que eu mimo demais ela e tem razão.
Estou nos meus pensamentos quando escuto uma voz irritante me chamando.
-Débora: Oi, gato! Não vai querer um sorvete?
Olho pra ela, cruzando os braços. Respiro antes de falar.
Obrigado, estou trabalhando, não como em serviço.
-Débora: Ah, não sabia. Desculpa, pensei que tu sempre saía com a Livia como irmãos, sei lá.
Penso errado, vai lá, tuas amigas estão rindo. Vai saber a fofoca, falo sério.
-Débora: Tá, tá bom, tchau.
Ainda vem que se foi, patricinha mimada. Essa é do morro, mas é mais patricinha que as patis da pista. Começo a olhar meu celular e tenho uma mensagem da minha pequena. Sorrio, ela me mandando chegar cedo.
Meu dia se resumiu a cuidar da Lívia e olhar como ela passa horas escolhendo roupas que nem vai usar, mas, segundo ela, é preciso. As amigas dela a incentivam, e eu fico parado na frente das lojas, vendo a vida passar. Cada cria que passa, eu cumprimento e tento puxar algo de conversa para amenizar o tédio.
A Débora já esbarrou acidentalmente em mim umas três vezes, e eu só respiro fundo; odeio contato físico de outras pessoas que não seja da minha avó e da Juju. As horas passam, e elas até jantaram no mirante. Deixei na casa e fui direto para a minha.
~
Cheguei tarde, já estava tudo escuro.
Fui entrando pé por pé e alguém acendeu a luz. Eu me assustei, mas em seguida a Juju saiu de braços cruzados, com a camisola de borboletas lilás dela, sua favorita.
-Juju: Por que você chegou tarde?
Minha vida, é que eu trabalhei muito. Você sabe que eu não demoraria à toa.
-Juju:A avó me fez comer pêssego. Eu não gosto, é r**m, e você não estava aqui.
-Juju, vem aqui, dá um abraço e me perdoa, sim?
-Juju:Só porque eu quero dormir com você.
Ela fala, vindo correndo, deu um pulo e me abraçou, rodeando minha cintura com as pernas, os braços enlaçados no meu pescoço.
-Juju: Te amo, me promete que nunca vai me deixar.
Prometo, minha vida, nunca vou te deixar. Falo, subindo as escadas com ela pendurada. Cheguei ao seu quarto.
Vida, deita, eu vou tomar banho e volto.
-Juju:Não tô com saudades, fica assim.
Eu suspiro e me sento na cama, apoiado no respaldar.
Ela parece um coala grudada em mim. Passo minha mão pelos cabelos e um silêncio confortante preenche o lugar.A respiração dela se acalma.
Eu cheiro o topo da cabeça dela e meu calmante.
Só aí percebo que minha avó está na porta olhando para mim. Eu olho para ela e ela se vai sem dizer nada.
Quando ela pega no sono pesado, eu coloco-a deitada com o urso que eu dei para ela não dormir sozinha. Saio pé por pé do quarto e vou, mas minha avó me para.
-Dora: Como foi hoje?
Como sempre, vó, mas já me acostumei.
-Dora: Filho, eu amo que tu cuides da Juju com esse amor, mas tenta fazer algo mais do que só trabalhar e cuidar de nós duas. Tu mereces também.
Eu não tenho ninguém porque eu não quero, e vocês não são meus pesos. Enquanto eu puder, a Juju vai ser sim minha princesa e a senhora, minha rainha.
-Dora: Tá bom, meu menino. Vai dormir que amanhã é outro dia.
Boa noite.