Jaqueline narrando
Meu nome é Jaqueline, tenho vinte e cinco anos e trabalho na Nexus Comunicação desde os dezesseis, quando entrei como jovem aprendiz, com as unhas pintadas de rosa choque e um medo enorme de errar. Nove anos depois, sou morena de cabelos lisos e tão longos que chegam na cintura, não tenho um corpo perfeito de modelo — meus quadris são largos, meus s***s são generosos e tenho uma curva na barriga que insiste em aparecer — mas aprendi a amar cada centímetro. É o corpo que me carrega, que sente prazer, que trabalha. E hoje, ele está em alerta máximo, todo arrepiado, respondendo a cada palavra que sai da boca do homem ao meu lado.
Felipe.
Quando entrei, eu o chamava de senhor Felipe. Ele tinha vinte e seis anos na época, já dono de uma startup promissora, e me corrigiu no primeiro dia: “Só Felipe, Jaqueline. Aqui a gente trabalha junto”. Na época, aquilo me pareceu uma gentileza. Hoje, no silêncio pesado deste carro de couro e aço, com o cheiro dele (água de colônia amadeirada e poder) inundando meus sentidos, aquela memória me parece um presságio.
Sou solteira. Por opção, por falta de paciência para joguinhos, porque nunca encontrei ninguém que valesse a bagunça emocional. E definitivamente, definitivamente, nunca deveria estar sentindo esse calor na barriga pelo meu chefe. Pelo homem que assina meu contracheque, que avalia meu desempenho, que me elogia em reuniões com um olhar profissional que, às vezes — só às vezes — parece pairar um segundo a mais no decote da minha blusa.
“Acho que a conversa é sobre o que vai acontecer quando chegarmos ao seu apartamento, Jaqueline.”
A frase dele ainda está pairando no ar, quente e perigosa como um fio desencapado. Meus dedos se enterram no tecido vermelho do vestido, sobre as minhas coxas. O coração bate tão forte que acho que ele pode ouvir. O trânsito engarrafado da véspera de Natal parece ter sumido. Só existimos nós dois, nesta cápsula escura e em movimento.
Ele dirige com uma mão só no volante, o antebraço forte e com veias salientes repousando sobre o console. Os faróis dos carros contrários iluminam seu perfil em flashes intermitentes: a mandíbula forte, o nariz reto, a boca que eu já imaginei… Não. Nem devia pensar nisso.
Mas é impossível não pensar. Ele está diferente. A postura de chefe, sempre tão impenetrável, rachou. Há uma tensão animal nele, uma energia contida que faz o ar entre nós vibrar.
Percebo, então, que ele não pegou a rota usual para a Vila Madalena. Ele virou para a marginal, seguindo o rio, na direção contrária.
— Felipe — minha voz sai mais firme do que eu sinto. — Você errou o caminho. Minha rua é a outra.
Ele não tira os olhos da pista. Um leve sorriso toca seus lábios.
—Não errei.
— Meus pais estão me esperando para a ceia. Disse que chegaria antes das oito.
— E você vai chegar — ele diz, calmamente, tirando a mão do volante por um instante para ajustar o ar-condicionado. Seu pulso, seu relógio de prata… tudo parece ampliado, importante. — Mas antes… você vai receber o seu presente.
O ar some dos meus pulmões. Presente. A palavra soa inocente. Mas nada sobre este momento é inocente. O olhar dele, quando se vira rapidamente para mim, não é de um chefe dando um bônus.
— Que… que presente é esse? — pergunto, tentando soar cética, mas minha voz está um sopro.
Ele reduz a velocidade e vira o carro para uma via mais escura, uma estrada que acompanha o rio, longe dos holofotes da cidade festiva. Para num mirante vazio. Desliga o motor. O silêncio é absoluto, só o som distante da água e nosso próprio respirar.
Ele se vira completamente no banco, seu corpo grande bloqueando a vista da janela. A escuridão lá fora faz com que a luz do painel ilumine seus olhos de baixo, dando-lhes uma profundidade assustadora e hipnotizante.
— É um presente que não cabe debaixo da árvore, Jaqueline — ele diz, e cada sílaba é uma carícia áspera na minha pele.
Ele levanta a mão. Move-se com uma lentidão deliberada, teatral, como se me desse tempo para fugir. Eu não me mexo. Estou congelada, presa entre o medo e um desejo tão profundo e súbito que me faz sentir tonta.
Seus dedos tocam meu joelho. Através da meia-calça fina, o contato é elétrico. Um calafrio sobe pela minha perna. Ele desliza a mão, palma quente, pela minha coxa. O tecido do vestido amassa sob seu toque. Seus olhos nunca deixam os meus. É um teste. E eu estou falhando gloriosamente, porque em vez de empurrá-lo, meu corpo se inclina imperceptivelmente para aquele calor.
— Você trabalha para mim há nove anos — ele sussurra, sua mão subindo, subindo, até encontrar a barra do meu vestido. — Eu conheço sua ética de trabalho, sua inteligência, sua lealdade. Mas há uma coisa sobre você que eu não conheço.
Seus dedos encontram a borda da minha calcinha, por cima da meia-calça. Eu solto um suspiro trêmulo. Todo o meu mundo se estreita àquele ponto de contato.
— Felipe… isso é…
— É o quê, Jaqueline? — ele pergunta, sua voz é uma armadilha de seda. — É errado? É proibido? É a pior ideia que já tivemos?
A mão dele escorrega por dentro do elástico. A pele nua da minha coxa interna é uma chama. Ele para, seus dedos a um centímetro de onde todo o meu corpo está latejando, concentrado, úmido e envergonhado.
— Diga para eu parar — ele ordena, mas é um pedido disfarçado de ordem. Seus olhos estão negros, sem nenhum traço do CEO que comanda salas de reunião. Este é apenas um homem. Um homem que quer saber.
Eu abro a boca. “Pare”. A palavra se forma na minha língua. É a única coisa sensata a dizer. A única coisa profissional, adulta, correta.
Em vez disso, o que sai é um gemido baixo, rouco, quando seus dedos — finalmente, devastadoramente — encontram o centro úmido e super sensibilizado de mim.
Eu arqueio as costas contra o banco de couro. Meus olhos se fecham. Seu toque não é gentil. É assertivo, conhecedor, como se ele já soubesse exatamente como me desmontar. Seu polegar faz um círculo lento, torturante, perfeito, enquanto seus outros dedos se acomodam, me abrindo.
— É isso — ele murmura, mais para si mesmo do que para mim, enquanto sente minha resposta física, incontrolável, a ele. — É exatamente isso que eu imaginava. Há anos.
Ele se move, inclinando-se sobre o console. Seu hálito quente atinge meu pescoço. Sua mão continua seu trabalho diabólico, estabelecendo um ritmo que faz meu quadril se contorcer.
— Seus pais podem esperar um pouco mais pela ceia, não podem? — ele pergunta, sua boca agora perto do meu ouvido. — Porque o seu Natal… acaba de começar.
E eu, Jaqueline, a profissional exemplar, a filha responsável, a mulher que tinha tudo sob controle, só consigo balançar a cabeça, perdida na sensação de sua mão dentro da minha calcinha e na certeza de que, a partir deste momento, nada entre nós jamais será o mesmo.
Continua...