— Sim senhora — Disse Peter quase que abaixando a cabeça enquanto a mulher passava por ele e vinha até mim
— Você é novo por aqui — Disse ela colocando a mão sobre meu queixo erguendo minha cabeça, pude sentir claramente seu perfume doce que amargava ao mesmo tempo.
— Sim, este é Ethan, o garoto que foi encontrado quase morto.
— Então ele ainda está se recuperando?
— Bom senhora, ele ficou uma semana desacordado e já deve ter se recuper...
— Cale a boca, eu digo quando eles se recuperam ou não.
— Sim, perdão.
— Ele acordou hoje?
— Sim.
— Venha comigo, Ethan — Disse ela dando as costas e começando a andar pelo grande salão indo em direção e uma porta marrom.
Eu não sabia bem como reagir aquilo tudo então continuei parado.
— Anda muleque — Sussurou Peter para mim enquanto segurava forte meu braço e me empurrava para frente. Como não vi outra maneira de escapar daquilo tudo o jeito foi seguir aquela mulher.
Enquanto caminhava até ela pude ver as escadas que eu havia descido para chegar até ali, voltei minha atenção para frente e aquela mulher que esbanjava elegância abria a porta revelando um longo corredor, o chão era laminado e pelas paredes pintadas de vermelho haviam grandes quadros.
— Feche a porta para mim — Pediu ela sem se virar, apenas continuava a andar.
Me virei e fechei a porta, não sem antes ver Peter segurando a mangueira e jogando um forte jato de água nas crianças do pátio, algumas caiam de joelhos e outras eram lançadas contra a parede.
Voltei a seguir a mulher que parou perto a uma porta, ela a abriu. Naquele corredor haviam mais três portas, me perguntava o que haviam depois delas.
A segui, adentrando no próximo local e este se revelou bem aconchegante. Era um grande quarto, no centro havia uma cama enorme e o chão era coberto por um carpete muito macio.
— Que lugar é este? — Perguntei curioso.
— Meu quarto, te trouxe aqui para que possa tomar um banho sossegado — Disse ela sentando-se na cama e me dando um largo sorriso — O banheiro é logo ali — Ela apontou para a direita, havia um curto corredor que levava a uma porta branca — Quando terminar avise, te levarei roupas limpas.
Eu estava com uma sensação muito r**m, aquele lugar me dava calafrios e eu sabia que algo muito r**m acontecia ali, rezava para ficar bem e reencontrar meus pais o mais rápido possível.
Dei passos lentos até a porta e antes de a abrir olhei para ver o que aquela mulher fazia, ela apenas me olhava.
— Não tenha medo — disse ainda sorrindo.
Fechei a porta do banheiro e tirei a roupa, a jogando sobre o chão. Andei até a área de banho e liguei o chuveiro, com um pouco de dificuldades devido a minha altura. A água não estava muito quente e nem muito fria, se encontrava na temperatura perfeita.
O fato de não saber o que havia acontecido com meus pais me deixou muito preocupado e com medo, queria sair correndo dali e ir para os braços da minha mãe.
As imagens das crianças sendo banhadas como animais não saia da minha cabeça, sabia que aquelas pessoas eram ruins mas o que eu poderia fazer? Uma criança frágil que sempre foi protegida pelos pais.
A ferida causada pelo tiro que levei, ainda estava cicatrizando e meio avermelhada, fiz de tudo para que a água não a tocasse.
Alguns minutos depois alguém bateu na porta.
— Trouxe sua roupa — Disse a mulher cujo o nome ainda era desconhecido para mim. Desliguei a água e andei rápido até a porta, não queria que ela a abrisse e me visse daquele jeito.
Abri a porta devagar, pouco e o suficiente para que a mão daquela mulher pudesse passar e me entregar minha roupa, peguei rápido e em seguida a fechei. Ela também havia trago uma toalha de cor verde, meio áspera.
Após me secar, vesti aquela calça azul escuro e a blusa branca, esta ficava meio larga. Hesitei em sair do banheiro, por alguns segundos minha mão ficou paralisada na maçaneta mas enfim a girei e abri a porta.
A mulher estava sentada na cama lendo um livro, logo notou minha presença e o fechou.
— Agora que já tomou banho podemos conversar, venha.
Andei até a cama enquanto olhava para cada móvel naquele quarto, nunca tinha visto tantos em um só lugar.
Quando finalmente cheguei perto a cama, a mulher fez um sinal para que eu me sentasse ao lado dela, sorrindo.
— Sabe onde estão meus pais?— Perguntei, me sentando e olhando para o carpete no chão.
— Ethan, você não tem mais pais, nós somos a sua família agora.
— Eu estava com eles e tudo ficou escuro, depois acordei aqui.
— Como o Peter te disse, você foi encontrado quase morto e não havia ninguém com você. Suspeitamos que... bom, quer mesmo saber?
— Sim.
— Suspeitamos que alguém matou ou sequestrou sua família.
Ao ouvir aquilo meus olhos lacrimejaram.
— Eu quero os meus pais.
— Fique calmo — Ela colocou a mão em minha cabeça e me fez deitar em seu colo — Tudo vai ficar bem a partir de agora — em seguida tapou minha boca e nariz com um pedaço de pano molhado, tentei me soltar mas ela era mais forte e aos poucos fui perdendo a consciência.
***
Ethan acariciou a mão de Elizabeth por mais uma vez.
— É por isso que nunca confio em primeira impressões — disse levantando-se — Aquela mulher elegante com um sorriso lindo escondia algo muito r**m dentro de sí.
Preciso ir agora, tenho que limpar todo o corredor do primeiro andar. Mas prometo voltar ainda hoje e te contar um pouco mais.
Vou te deixar um pouquinho curiosa até lá — Ethan saiu do quarto e fechou a porta.
Haviam alguns outro funcionários por ali, o que era bem raro de acontecer. Certamente devido a grande movimentação causada pela vacinação.
Desceu as escadas e ao chegar no primeiro andar deparou-se com o corredor cheio de pessoas que se amontoavam em uma fila. Todas sendo atendidas, uma a uma pelo doutor Eliote e suas enfermeiras.
Margareth estava com sua típica cara de tédio vendo pessoas indo e saindo da sala do doutor, pelo visto o dia seria bem mais chato do que o normal.
Ethan não perdeu tempo e começou a varrer, mas era em vão já que quanto mais varria, mais sujeira aparecia devido ao grande número de pessoas.