Ethan acordou assustado, olhou em volta e agradeceu por tudo aquilo não passar de um pesadelo, sentou-se na cama e ainda faltavam uma hora para o despertador começar a fazer barulho.
Ouviu algumas batidas na porta e estranhou aquilo, ninguém nunca batia em sua porta. Julian devia, mas ao invés de fazer isso ele sempre entrava sem avisar.
Ethan se levantou com a visão ainda ofuscada e saiu do quarto.
Foi em direção a porta e a abriu, era uma jovem, usava uma calça preta de pano fino e uma blusa colada, bem decotada. Apesar de ter s***s médios, aquilo ainda era bem chamativo. Seu cabelo era preto e curto na altura do pescoço.
— Oi — Disse ela dando um largo sorriso — Me mudei a alguns dias e não sei onde ficam os estabelecimentos desta cidade, poderia me ajudar? Me dizer em qual direção fica cada um? Minha dispensa está no zero e eu não quero passar fome.
— Se não conhece o lugar então como encheu a dispensa antes dela se esvaziar? - Perguntou Ethan, desconfiado.
— Eu trouxe no carro, da minha outra casa, da minha outra cidade.
— E por que escolheu logo a minha casa para pedir ajuda? Vejo muitas outras na vizinhança.
— Todas as portas são marrons, mas a sua não. Adoro padrões.
— Todas serem da mesma cor e a minha não, isso não é um padrão e sim uma diferença.
— Vai ajudar ou não?
— Onde você mora?
— Bem ali — Ela apontou para uma casa no fim da rua.
— A antiga casa da senhora McGonoew. Eu te levo até o mercado.
— Não poderia apenas dizer a direção?
— Prefiro levar.
– Você não é nenhum psicopata, ou é?
— Sou, por isso pintei a porta de uma cor diferente das outras. Para poder atrair vitimas.
— Acho que já vou indo...
— Está com medo?
— Eu não tenho medo de nada, só acho estranho alguém que não me conhece perguntar onde eu moro e depois se oferecer para me levar ao mercado.
– Estranho é alguém bater na minha casa pedindo ajuda só por que minha porta é de uma cor diferente das outras, e o mais grave, nem dizer o nome.
— Ah, estou com tanta fome que acabei me esquecendo de me apresentar. Meu nome é Kathy, prazer....Senhor?
— Ethan, Ethan da fazenda — Dizer aquilo foi quase como que um impulso na mente de Ethan, por alguns segundos seus pensamentos vagaram por todo o seu passado.
— Da fazenda? — Perguntou Kathy o despertando de sua paranóia.
— Apenas Ethan.
Ethan colocou uma roupa mais adequada para ir ao mercado e Kathy o esperou do lado de fora da casa. Pegou o dinheiro que precisava para repor alguns mantimentos e se encontrou com ela na porta.
— Pronto, preciso comprar alguns mantimentos também - Disse ele indo em direção a calçada e ela o seguiu.
— Você trabalha?
— Sim.
— Onde?
— Em um hospital, tenho que estar lá em menos de uma hora, mas não é tão longe. Creio que chegarei a tempo.
– E o que você faz lá?
— Algumas coisas, sei um pouco de tudo pois já estive no exército, e lá você só tem duas opções. Aprender ou morrer, literalmente.
— Exercito? Serio?
— Sim.
— E por que saiu?
— Tive alguns surtos e fui diagnosticado com uma doença...
— Sinto muito, sem querer ser intrometida. Mas, que doença?
— Esquizofrênica.
— Não sei muito sobre doenças.
— As vezes eu vejo coisas que não existem, na maioria das vezes escuto vozes, principalmente vozes das pessoas mortas em combate durante as chacinas que presenciei em missões.
- Também sou doente - Kathy deu um longo sorriso enquanto cruzavam uma faixa de pedestres.
— Qual doença você tem?
— Eu falo muito, e pergunto também.
— Isso eu já percebi.
— Tem namorada? Mulher? Filhos?
— Não.
— Pretendentes?
— É complicado. Eu prefiro passar meus dias trabalhando ou dentro de casa, a sociedade e eu não nos damos muito bem.
— Então não gosta de festas?
— Não muito.
— Vou dar uma ainda essa semana para comemorar a mudança, alguns parentes meus vão ir e teremos aquela conversa falsa enquanto fingimos que gostamos uns dos outros. Eu te aviso o dia e a hora, apareça caso mude de ideia.
— É aqui - Disse Ethan parando perto ao mercado.
— Então vamos as compras — Kathy adentrou no local sorrindo, parecia ser uma jovem bem feliz e animada. Talvez fosse uma boa pessoa, pensou Ethan, também adentrando no local.
— Agora me mostre onde fica cada coisa — Pediu Kathy parando de andar e olhando em todas as direções, o mercado não era muito grande mas possuía quatro corredores.
— Do que você precisa?
— No momento só alguns pacotes de arroz, feijão, macarrão, essas coisas essenciais para não passar fome.
— Me siga – Pediu Ethan indo em direção ao último corredor da direita.
— Um dia ainda vou dizer isso, é tão sexy - Após falar isso, Kathy foi fuzilada pelo olhar de uma senhora que passava perto a ela- Cara feia prá mim é fome vovó — Disse ela em voz alta.
Ficaram menos de vinte minutos dentro do estabelecimento e logo saíram carregando algumas sacolas. Ethan comprou apenas o necessário, pensou em pegar um litro de leite mas deixou pra outra hora.
— Quer ajuda? — Perguntou ao notar que Kathy possuía sacolas de mais para o seu tamanho.
— Eu consigo.
— Não, você não consegue. Vai acabar deixando cair e ira chamar a atenção das pessoas a nossa volta. E isso é o que eu menos quero.
— Você é sempre tão chato?
— Sim, menos quando estou dormindo — Disse, pegando uma das sacolas de Kathy e esta estava bem pesada, sua sorte era que ambos moravam ali perto.
Alguns minutos depois se aproximaram da casa de Kathy.
— Obrigada — agradeceu ela enquanto pegava sua sacolas com Ethan.
— Só não me incomode mais.
— Está falando serio?
– Não.
— Por que se for eu juro que nunca mais bato na porta da sua casa.
— Estou brincando.
— Eu me mudo de bairro e você nunca mais verá o meu belo rosto por essas bandas.
— Já disse que estou apenas brincando.
— Está? E você sabe fazer isso?