Um amor com asas

Capítulo 4

Angeline balançava as pernas distraidamente enquanto observava ao longe o coral de anjo cantando. Quando ficava estressada demais ou tinha reunião com Evangeline, ela ia para o céu. Naquele dia, especificamente, eram ambos os casos que a levavam a estar ali.

— Toda vez que eu te encontro, sempre parece que você está com um problema diferente.

Angeline ficou imediatamente ereta e chegou a pular alguns centímetros para o alto por conta do susto, mas ao reconhecer a voz, revirou os olhos antes de responder.

— Toda vez que eu te encontro, é com você me assustando. — ela retrucou — E dessa vez Rory está bem, o problema é o irmão dela.

— Ah! O que você partiu o coração e ele passou a te odiar?

Ela arqueou uma das sobrancelhas e o encarou, como ele sabia sobre aquilo? Quem mais sabia? 

— Ei, pode ser o céu, mas as notícias ainda correm rápido… De qualquer forma, eu sinto muito que as coisas estejam difíceis.

— Obrigado Gabriel. — e ela estava sendo honesta — Eu só acho que seria mais fácil se ele não me odiasse por tentar fazer o que é certo.

Angeline suspirou e apoiou o queixo em suas mãos. Ela fechou os olhos por um momento e ao sentir a mão de Gabriel acariciando suas costas, lágrimas caíram de seus olhos sem que ela pudesse controlar.

— Eu acho que, no fundo, ele entende. Só que isso não torna as coisas mais fáceis para serem processadas por nenhum dos lados.

A anja assentiu ao abrir os olhos e encarar o amigo, ela sabia disso, mas não imaginava que o ódio e a indiferença doeriam tanto.

— Um dia, tudo isso vai ser passado e as coisas vão melhorar entre vocês. Por enquanto, dê tempo ao tempo.

E com esse último conselho, Gabriel desapareceu.

— Acho que eu deveria dar meu trabalho pro loirinho, ele sabe aconselhar. — comentou Evangeline ao observar o anjo ir embora — Ele tem razão, sabe. Derek precisa de tempo, sim tem três anos desde que tudo aconteceu, mas ele te ama desde sempre, nenhum sentimento vai embora fácil, ainda que eles cheguem com facilidade.

— Pelo menos ainda tenho você e Aurora. 

— E como ela está?

— O coração dela é forte e não deu mais problemas. Recentemente ela começou a ir em festas e sempre me pede para ir com ela e dar conselhos, eu acho que gosto mais disso do que ficar com o Derek. — ela confessou com uma risada.

— Anjinha vaidosa e festeira. — Evangeline retrucou com uma risada — É normal gostar mais de algumas atividades que outras, querida. Apenas se apegue a ela e dê tempo ao irmão, com o tempo tudo vai se ajeitar.

Angeline sentiu o beijo da mentora em sua testa antes de ela fechar os olhos. Ao abrir, estava de volta ao apartamento da família, especificamente no quarto de Aurora. Ela olhou para o relógio, pela hora estariam todos fora.

Um barulho no quarto ao lado chamou sua atenção e um segundo depois, Angeline atravessava a parede. Era o quarto de Derek e ao notar uma garota na cama e ele por cima, a anja soltou um gritinho antes de se teletransportar para Aurora.

***

Derek ouviu o gritinho e no mesmo momento soube a quem pertencia. No momento, afastou tudo aquilo de sua mente e terminou o que estava fazendo. Quando a garota quis ficar agarrada, ele logo se levantou, vestiu a roupa e disse que tinha coisas para fazer. Não estava interessado em romance, apenas em encontros casuais.

E além disso, precisava ter certeza de que Angeline não iria contar tudo para Aurora. Então, no mesmo momento em que largou a acompanhante no elevador, voltou para dentro do apartamento.

— Angeline, venha aqui agora.

Ele estava bravo, odiava ser interrompido no meio de qualquer coisa que ele considerasse importante para si. Andava pela sala com as mãos no bolso, poderia abrir um buraco no chão de tanto que andava por ali.

— Angeline, eu juro que se você não aparecer…

— Vai fazer o que? — Angeline perguntou sentada no sofá com uma perna cruzada por cima da outra e uma expressão de desafio.

E Derek revirou os olhos em resposta antes de se colocar de frente para a anja presunçosa.

— Sobre o que você viu…

— Oi Angie, como você está? O que tem feito? Gostaria de água ou beber alguma coisa? Desculpe ser um i****a completo. Não? Bem, acho que podemos ir direto ao ponto então.

— Corta essa engraçadinha, eu preferia continuar te ignorando, mas você tinha que entrar em meu quarto no pior momento possível.

— Era para você estar no treino de futebol, como eu iria adivinhar que você estava com uma garota?

— Simplesmente não entrasse no meu quarto, não precisaria adivinhar nada! — ele retrucou gritando.

Odiava que Angeline tivesse visto ele com outra garota na cama. Pior ainda, odiava que ela não parecia chateada, com ciúmes, nada, apenas desconcertada. Ele continuava tentando superá-la e ela estava somente desconcertada. 

— Eu achei que você pudesse precisar de ajuda, que tivesse se machucado ou que tinha alguém invadindo a casa! — ela respondeu em um tom mais agudo.

Ele levou as mãos ao cabelo penteando com os dedos, estava muito irritado com toda a situação. 

— Não entre no meu quarto sem minha permissão, ponto final. — ele sibilou — E antes que me interrompa de novo, eu só quero te pedir para não comentar nada com Aurora, ela não precisa saber dessas coisas.

— Que s**o existe ou que o irmão dela faz? Porque assim, ela tem aula de sistema reprodutor na escola… — Angeline respondeu com um sorriso enorme e um brilho de diversão nos olhos.

— Você me entendeu. — retrucou irritado.

— Não sabe mais rir?

— Sei, mas não com você.

— Ranzinza.

— Pare de ser infantil Angeline, nem tudo é sobre você, nem tudo tem r*****o com você e o fato de que eu te amei, ainda amo e tento esquecer isso todos os dias porque você não sente o mesmo. Então me deixe em paz. Saia da minha vida, fique só com Aurora ou saia da vida de todos e arranje outra família, mas por favor, simplesmente pare. É doloroso demais.

Ele percebia que ela estava muda, só deixando ele falar tudo o que precisava. Ao vê-la levantar e se aproximar, prendeu seu fôlego. Deixou Angeline se aproximar e fechou os olhos ao sentir os dedos dela em seu rosto, Deus, como sentia falta daquele toque carinhoso.

— Eu te amo Derek, mas isso não muda nada. Chame se precisar, vou te deixar em paz e não contarei nada para Aurora.

***

— Você o dispensou, de novo.

— Pelo menos eu disse que o amava, não seria pior se eu simplesmente fosse embora sem dizer uma palavra? — questionou a anja.

— Você tem um ponto. — Aurora cedeu e jogou uma pipoca no ar para pegar com a boca.

Ambas estavam entocadas no quarto da menina enquanto assistiam mais uma vez Orgulho e Preconceito.

— Eu simplesmente amo a Keira Knightley. 

— Todas amamos, Rory. 

Elas suspiraram juntas ao verem Sr. Darcy se declarar para Elizabeth. O lema de Rory era: quando tudo estiver r**m, pegue um balde de pipoca, encha de manteiga, separe vários doces e coloque um dos seus filmes conforto, ao menos eles não vão te decepcionar.

A garota acariciou os cabelos de Angeline, sabia que a amiga estava sofrendo com toda a situação. O irmão também estava, mas ele nunca pedia por colo ou conforto como a anjinha fazia.

Depois de horas assistindo filmes e rindo, a garota desligou a televisão, apagou a luz e cobriu Angeline antes de sair do quarto. Ela caminhou pelo curto corredor e bateu três vezes com suavidade na porta do irmão.

— Ror? Pode entrar.

E ela o fez. Fechou a porta depois de passar e foi direto para o lado dele na cama. Pela cara dele, ela tinha certeza absoluta de que Derek estava um caco, quebrado, mas ele não iria admitir.

— Está tudo bem, irmã?

— Tudo, eu só queria sua companhia. Você está sempre ocupado com escola, treino ou nova namorada toda semana. — ela alfinetou e percebeu que atingiu em cheio ao ver o desconforto no rosto dele.

— Desculpe estar tão distante, acho que só estou passando por uma barra. E é meu jeito de lidar.

— Eu sei, também sei que você nunca pede ajuda e por isso vim aqui fazer companhia.

— Você é a melhor irmã que eu poderia ter. 

Rory sorriu ao sentir o irmão acariciando seu cabelo e deitou a cabeça no ombro dele.

— E você é o melhor irmão, só precisa se lembrar de mim, as vezes. — ela respondeu com uma gracinha.

— E a festa da próxima semana, com quem você vai?

— Com a Marina.

— Ela também foi convidada?

— Ela vai como minha convidada, eu não iria em uma festa sem minha amiga mais antiga!

— Vocês nunca vão se desgrudar, não? — ele perguntou brincando.

— Só quando morrermos! — ela respondeu com muita seriedade, mas abriu um sorriso em seguida.

Derek colocou um filme para que eles assistissem juntos, mas a cabeça da menina estava em outro lugar.

— Sabe Der, você guarda muito rancor pela recusa da Angel, mas você nunca tentou ver pelo lado dela.

— Aurora, eu não quero ter essa conversa agora, honestamente e não quero ter que te expulsar do meu quarto. — a voz dele era seca, cortante e a fez se calar, mas apenas por um momento.

— Eu só vou falar uma última coisa e então podemos ver o filme em paz. — ela prometeu mesmo com a careta dele — Você deveria pensar no assunto, como seria namorar alguém que mais ninguém vê, que mais ninguém conversa, que embora saibamos que não é só coisa da nossa cabeça, parece que é. Pense como seria sua vida e pense no porque ela decidiu isso tudo.

E então ela voltou a olhar para o televisor deixando que as palavras ditas e as não ditas pairassem entre eles para que Derek refletisse no assunto. Sabia que ele era teimoso o suficiente para ignorar toda a conversa e continuar alimentando a raiva, mas esperava que ele não fizesse isso por muito tempo.