Capítulo VII

2462 Palavras
O silêncio voltou após ele se afastar, mas era diferente. Agora, não era apenas ausência de som; era um silêncio carregado de ameaça, como se a qualquer momento ele pudesse atravessar a sala e fazê-la pagar por qualquer pensamento de desafio. Isadora permaneceu sentada na cama, os joelhos puxados ao peito, tentando controlar a respiração. Cada músculo do corpo estava tenso, pronto para reagir a qualquer movimento. Ela olhou novamente a bandeja de comida, mas não teve coragem de tocar. Cada detalhe do quarto parecia projetado para lembrá-la de que tudo ali estava sob controle dele. O vaso de flores no canto, o tapete pesado, a cortina translúcida que deixava a luz entrar de forma difusa — tudo era calculado. Até o ar parecia mais pesado, mais difícil de respirar, como se fosse um lembrete constante de que estava sozinha, mas nunca realmente livre. Tentou se levantar, explorar o quarto novamente. Mas cada passo ecoava com força em seu próprio ouvido, lembrando-a de que ele poderia estar assistindo. Pensou em procurar pontos fracos nas portas, janelas, qualquer coisa que pudesse usar a seu favor. Mas quanto mais olhava, mais sentia a solidez do espaço, a força de cada tranca, a impossibilidade de qualquer fuga rápida. Sentou-se de volta na cama, fechando os olhos. Tentou pensar em algo além do quarto, além dele. Lembrou-se das ruas de Winchcombe, dos paralelepípedos molhados pela chuva, do aroma do pão fresco no restaurante. Lembrou-se do calor do café e das risadas que sempre pareciam tão distantes agora. Era quase doloroso lembrar de tudo que não podia mais ter, de tudo que havia perdido. O tempo continuava a se arrastar. Cada minuto parecia uma eternidade. E então, sem aviso, ela ouviu novamente o som dos passos. Mais pesados desta vez, mais próximos. O coração disparou e ela tentou ficar imóvel, mas era inútil. O instinto gritava que algo estava prestes a acontecer. Ele entrou. Não fez nenhum som ao atravessar o quarto; parecia flutuar. Seus olhos a buscaram imediatamente, analisando cada expressão, cada gesto. O silêncio que trouxe consigo era mais opressivo do que qualquer ameaça direta. Ela se obrigou a erguer o olhar, tentando não mostrar medo, mas era impossível. O medo transbordava de cada poro de seu corpo. — Levante-se. — a voz dele saiu baixa, quase um sussurro, mas carregada de comando. — Agora. Isadora engoliu em seco e obedeceu. Levantou-se, os músculos ainda rígidos, os olhos fixos no chão. Cada passo que dava parecia carregado de peso, cada movimento observado, cada respiração medida. Ele se aproximou, e a sala, que antes parecia grande, agora parecia apertada. A presença dele ocupava todo o espaço, esmagando qualquer sensação de liberdade que ainda restava. Ela estava com as mãos amarradas, mas seus pés estavam livres. — Você percebe que está sozinha aqui, não é? — perguntou ele, sem tirar os olhos dela. — Que nada do que você pensa ou planeja passa despercebido? Ela engoliu, mas não respondeu. Palavras eram inúteis diante dele. Ela sabia disso. Qualquer tentativa de argumentar ou protestar seria em vão. — Eu poderia deixá-la sozinha. Por dias. Sem comida, sem água… apenas o silêncio. — Ele caminhou devagar pelo quarto, medindo cada passo. — Mas isso não seria interessante. Quero ver como você resiste. Isadora sentiu a raiva crescer, misturada com uma tensão que ela não conseguia nomear. Quis gritar, acusar, lutar. Mas cada músculo ainda estava tenso, cada pensamento medido. Ele não precisava tocar para mostrar poder. A simples presença dele, o controle absoluto da situação, era mais aterrorizante do que qualquer ato físico poderia ser. — E se eu resistir? — murmurou ela, finalmente, tentando manter a voz firme. — Se eu não ceder? Ele parou em frente a ela, inclinando-se levemente. O olhar escuro perfurava, pesado, avaliando. — Resistir? — Ele sorriu, lento, sem humor. — Você já está cedendo só por estar aqui, só por respirar este ar que eu escolhi deixá-la usar. As palavras dela se perderam. Ela sentiu o corpo tremer, não de frio, mas de tensão. Cada frase dele era uma facada, cada gesto uma lembrança de que ela não tinha controle. Tentou recuar, mas não havia espaço. A cama atrás dela, ele à frente, as paredes ao redor — uma cela perfeita, tanto física quanto mental. — Não posso fazer nada? — perguntou ela, desafiadora. — Eu ainda posso… — Pode tentar. — respondeu ele, em tom quase divertido. — Mas não vai mudar nada. Cada movimento seu é previsto. Cada pensamento seu, antecipado. Você é previsível, mais do que imagina. Ela respirou fundo, tentando se recompor. — Então, por que me observa? — a pergunta saiu mais como um sussurro do que como desafio. Ele inclinou a cabeça, aproximando-se um pouco mais. O cheiro dele a atingiu, misto de algo metálico e terroso. — Porque quero ver. Porque você me interessa. Não pelo que você é, mas pelo que você pode se tornar. — Ele deu um passo atrás, apenas o suficiente para deixar o ar entre eles carregado de tensão. — Quero ver se você é fraca ou se ainda tem fogo para queimar. Isadora mordeu o lábio, tentando não ceder ao efeito perturbador da presença dele. — Eu não vou me quebrar. — disse com firmeza, mesmo sabendo que soava mais frágil do que gostaria. Ele sorriu, ou algo que se parecia com um sorriso. — Talvez. Mas a questão não é quebrar. É perceber que não há saída, que cada pensamento, cada ato, cada impulso que você tem, está sob meu controle. Isso é o que quebra uma pessoa. Não a força, não a violência. Mas a certeza de que não há para onde correr. Ela fechou os olhos por um momento, sentindo o peso da declaração. Ele estava certo. Ela estava presa, não apenas fisicamente, mas mentalmente. Cada tentativa de fuga se transformava em estratégia inútil, cada plano, um lembrete de impotência. Ele se afastou, caminhando até a janela, olhando para fora. — Agora, fique aí. — disse, sem virar o rosto. — Sente-se, pense, planeje. Mas saiba: estou sempre aqui. Observando. Ela se sentou novamente na cama, encostando-se à cabeceira. A respiração voltou lenta, mas ainda tensa. A mente girava, tentando planejar qualquer movimento que pudesse dar vantagem. Mas no fundo, sabia: nada era suficiente. Horas se passaram nesse silêncio quase absoluto. Cada vez que ela se movia, cada vez que respirava, sentia a presença dele como uma sombra atrás de cada pensamento. A bandeja de comida ainda estava intacta. Cada detalhe do quarto parecia pensado para lembrar que ela não era livre. E, no fim, quando a escuridão começou a se aproximar, ela percebeu algo mais profundo: não se tratava apenas de estar presa fisicamente. Estava presa mentalmente, emocionalmente, a cada palavra não dita, a cada silêncio observado. O quarto estava mergulhado em sombras quando ela ouviu o ranger discreto da porta. Ainda sentada na cama, tentando abraçar os joelhos, Isadora percebeu o cheiro familiar dele antes mesmo de vê-lo. O coração disparou, e uma mistura de medo e expectativa percorreu seu corpo. — Sente-se na cama. — disse ele, voz baixa, firme, mas sem qualquer tom de raiva. Era apenas comando. Ela se levantou, as pernas ainda trêmulas, mas tentava manter a postura. Ele entrou devagar, trazendo consigo a presença que dominava todo o espaço, preenchendo o quarto sem esforço. Ela tentou recuar, mas não havia para onde ir. Ele carregava uma toalha molhada, o cheiro da água misturado ao dele, tornando o ar pesado, íntimo e perturbador. — Não precisa fazer drama. — murmurou, aproximando-se. — Não é um ataque...ainda. — Eu não preciso da sua ajuda. — protestou ela, mas a voz soou mais fraca do que pretendia. — Posso fazer isso sozinha. — Posso imaginar, você se limpando amarrada. — ele respondeu, a voz firme, quase neutra, mas os olhos revelavam que não iria recuar. — Mas você não tomou banho há três dias. Está fedendo. — Disse isso de forma c***l. A vergonha queimou a pele dela, mais intensa que qualquer toque. Ela tentou desviar o olhar, mas ele segurou suavemente seu queixo, obrigando-a a encará-lo. A presença dele era esmagadora, mas havia um estranho controle contido no toque. Ele começou a passar a toalha fria pela pele dela, limpa, mas gelada. — Eu posso fazer isso sozinha! — repetiu ela, tentando puxar a toalha, mas ele não cedeu. O toque dele percorria os ombros, braços e costas. Cada movimento era preciso, firme, e ao mesmo tempo… estranho, inquietante. Ela sentiu cada centímetro do corpo reagir: um arrepio de medo, outro de estranha excitação. Cada gesto remetia a lembranças que ela não queria ter — sua mãe, o toque ausente e a sensação de segurança que nunca experimentara. Ele recuava levemente quando percebia a tensão, mas voltava em seguida, como se equilibrasse entre manter distância e oferecer cuidado. — Que fique óbvio, isso é só para limpar você. — disse, quase como se justificasse. — Não tem outra intenção. — Não é verdade. — murmurou ela, a voz quase um sussurro, e sentiu o rosto queimar. — Eu sei o que está fazendo… Ele deu um passo para trás, observando o efeito do toque. Havia controle, havia poder, mas também… algo mais. — Sabe? — perguntou, a palavra soando mais como teste do que pergunta. Ela hesitou. Não sabia. Algo dentro dela queria confiar, precisava, mas o medo era mais forte. — Eu… não sei. — Isso é natural. — respondeu ele, calmo. — Eu termino isso rápido. A toalha passou pelo resto do corpo dela, limpando a pele, o suor, a poeira. Cada toque dele deixava uma sensação estranha: o desconforto do contato, mas também um alívio sutil. Ela não queria admitir que parte de si queria que continuasse, que confiava — mesmo que um fiozinho de confiança fosse apenas isso, frágil e perigoso. — Você está envergonhada. — ele observou, notando a vermelhidão no rosto dela. — Mas é apenas… natural. Ninguém gosta de admitir que deixou o próprio corpo de lado. — Se eu estivesse na minha casa, sem a porcaria dessas cordas, eu com certeza estaria mais limpa. — ela sussurrou, desviando os olhos. — Ele recuou mais um passo, deixando a toalha secar lentamente sobre o corpo dela. — Você não faria isso sozinha. Eu observo há dias. Você quis água, mas para beber, não para se limpar. — A admissão foi quase casual, mas carregada de poder. — Afinal Isadora, você precisa acreditar que ainda tem alguma esperança, certo? Ela engoliu em seco, sentindo uma pontada de vergonha e raiva. Raiva dele por controlar a situação, vergonha de si mesma por precisar dele. Tentou recuar, mas cada passo era impossível; o quarto parecia diminuir a cada movimento dele. — Agora, coma. — disse ele, apontando para a bandeja de comida. — Vou soltar as cordas. Ela olhou para a bandeja. A simples ideia de comer enquanto ele a observava trouxe uma sensação de humilhação, mas também de necessidade. Pegou a fruta, o pão, tentando ignorar os olhos dele que não a deixavam em paz. Cada mordida era um lembrete da vulnerabilidade em que se encontrava, e do controle que ele tinha sobre cada aspecto de sua rotina. Quando terminou, ele se afastou da cama, recolheu a bandeja e parou à porta. Virou-se levemente, olhos fixos nos dela, expressão calma, mas carregada de tensão. — Sabe… — disse, inclinando-se levemente. — Estou me sentindo como um fazendeiro. Alimentando e cuidando dos porcos. Ela franziu a testa, chocada e confusa. — Porcos? O que você quer dizer com isso? Ele sorriu, de forma lenta, sem humor. — Pense bem. — os olhos escuros não piscavam, pesando cada palavra. — Você sabe o que acontece com o porco depois que ele está nutrido, forte e bem alimentado? Ela engoliu em seco. Um calafrio percorreu a espinha. A comparação não era apenas c***l; era um aviso, uma ameaça velada. Cada gesto dele, cada palavra, era um lembrete de que ela estava em seu poder. E a pergunta deixava claro que sua liberdade era apenas uma ilusão. — Eu… não sei. — respondeu, tentando controlar a voz. — O que… acontece? Ele não respondeu imediatamente. Apenas observou, imóvel, deixando a dúvida corroer a mente dela. O silêncio era pesado, quase doloroso. Ela podia sentir a atenção dele, cada músculo, cada gesto controlado. Cada segundo parecia prolongado, carregado de tensão. — O porco… — finalmente disse, baixando o tom, deixando a ameaça implícita, não explicada, mas clara — não fica por muito tempo. Quando está forte, nutrido, pronto… o destino dele é decidido. Ela sentiu o coração disparar, a respiração curta. A metáfora era clara, escura, perturbadora. Cada palavra dele era um lembrete de que ela estava totalmente sob seu controle, e que, como o porco, sua vida podia ser manipulada. Ele saiu do quarto sem virar completamente, mantendo os olhos nela, o silêncio preenchendo cada espaço que a palavra não ocupava. A porta se fechou com firmeza, deixando Isadora sozinha novamente, mas agora com a sensação de vulnerabilidade ainda mais intensa. Sentou-se na cama, olhando para o chão, tentando processar cada gesto, cada toque, cada palavra. O calor do constrangimento queimava seu rosto, a raiva misturada ao medo se agitava dentro dela. Mas, acima de tudo, uma coisa era clara: ela estava à mercê dele, e sabia disso mais do que nunca. A mistura de medo, vergonha, raiva e estranha admiração fazia seu corpo reagir de maneiras que ela não queria admitir. O toque dele, ao mesmo tempo assustador e instigante, permanecia na pele, nos músculos, nos pensamentos. Cada movimento dele, cada palavra, cada silêncio era uma prova do controle que exercia sobre ela. E enquanto a noite se aprofundava, Isadora percebeu que, naquele quarto, cada respiração, cada pensamento e cada impulso estavam sob a vigília dele. Não havia escapatória física, emocional ou psicológica. E, paradoxalmente, era esse mesmo toque de controle que, de forma distorcida, fazia com que parte de si confiasse nele — mesmo que apenas um fio mínimo, frágil, perigoso. Ela permaneceu ali, sentada, refletindo sobre a humilhação e o medo, mas também sobre a estranha segurança que vinha do toque e da presença dele. Sabia que aquele era apenas o começo, e que o jogo de controle havia se aprofundado. A noite seria longa, e ela ainda teria que aprender a lidar com a dualidade de emoções que ele despertava — terror e fascínio, humilhação e estranha p******o, medo e um toque de confiança. E assim, sozinha, no silêncio pesado do quarto, ela percebeu que cada instante com ele era uma batalha entre o medo de ser completamente controlada e a estranha necessidade de sentir seu toque, mesmo que apenas para lembrar que ainda estava viva.
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